Tecnologia

3 jun, 2011

PCs balzaquianos

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O lançamento do IBM PC completou, no mês de abril, trinta
anos. Embora já não seja fabricado pela “Big Blue”, ele continua firme no mercado.
Todos os PCs desktop e notebooks, netbooks e até os recentes tablets são fiéis
à arquitetura trintona (daí chamá-la de ‘balzaquiana’, em alusão à famosa obra
‘A mulher de 30 anos’, de Honoré Balzac).

O lançamento do IBM PC foi um marco na história da
informática: antes dele, os microcomputadores eram considerados “brinquedos”
pela maioria dos profissionais de TI; era muito raro encontrá-los em uso nas
empresas. Com o aval da IBM para a arquitetura, eles tomaram conta do mundo
empresarial: “downsizing” foi palavra da moda para a adoção dos PCs pelas
empresas.

Nenhuma outra arquitetura de computadores lançada antes dos
PCs se manteve no mercado por trinta anos ou mais: ao contrário do mito
cultuado pela indústria, o ritmo da evolução tecnológica diminuiu ao longo das
décadas.

Se bem dispomos hoje de discos e memórias milhões de vezes
maiores do que há 30 anos, os esquemas de endereçamento e muitos outros
detalhes técnicos permanecem quase inalterados.

Dois fenômenos resultaram disso: o primeiro deles diz
respeito à disponibilidade de hardware “compatível” (ou “clone”). No mundo
todo, centenas de empresas passaram a fabricar equipamentos quase iguais ao
produto original da IBM, brigando basicamente por preço. A vítima da guerra? A
IBM vendeu sua unidade de PCs para a chinesa Lenovo, há muitos anos. Os
beneficiados obviamente foram os consumidores: o preço de um PC moderno é
acessível até para as classes sociais ‘emergentes’ do nosso país, tornando o
Brasil o 3º ou 4º maior mercado mundial (dependendo para quem se pergunte).

O outro fenômeno diretamente ligado à estabilidade da
arquitetura é o mundo do “software livre”. Desconsideradas as questões
ideológicas, ele surgiu pela migração de software de origem acadêmico para o
mundo real, com base no esforço de voluntários, que, graças à estabilidade da
arquitetura, tiveram e têm todo o tempo necessário para adaptar seus softwares
ao mundo real sem a necessidade de investimentos agressivos. Enquanto as
arquiteturas eram substituídas em menos de quinze anos, simplesmente não dava
tempo de criar software desse jeito.

Os computadores, que eram quase ‘altares profissionais’, são
hoje dispositivos mais populares (e bem mais leves!) do que um dia foram as
máquinas de escrever.

E para que não me acusem de ‘esquecido’: sim, a interconexão
de todos os PCs por meio da internet criou uma nova realidade humana, afetando
até o plano social e político. Hosni Mubarak que o diga!