Marketing Digital

6 ago, 2009

Quem precisa de jornais quando se tem Twitter?

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Chris Anderson, editor-chefe de tecnologia e cultura da revista Wired, pode ser uma parte da imprensa, o que não significa que ele dependa de jornais para obter notícias. Nesta entrevista reveladora, Anderson fala sobre os desafios da internet em relação à imprensa tradicional, por que liberdade é melhor nos modelos de negócios na web e por que ele prefere ler o Twitter a um jornal diário.

Sr. Anderson, vamos falar sobre o futuro do jornalismo.

Esta vai ser uma entrevista irritante. Eu não uso a palavra “jornalismo”.

OK, e quanto aos jornais? Eles se encontram em uma situação problemática tanto nos Estados Unidos quanto no mundo.

Desculpe, eu não uso a palavra “mídia”. Eu não uso a palavra “notícias”. Eu acho que essas palavras não possuem mais significado algum. Elas definiram as publicações no século XX. Hoje, são uma barreira. Elas estão atrapalhando o nosso caminho, como uma carruagem sem cavalos.

Que outras palavras o senhor usa?

Não há outras palavras. Nos encontramos em uma daquelas eras estranhas nas quais as palavras do último século não têm mais significado. O que notícias significam para você, se a maioria delas é criada por amadores? Elas vêm de um jornal, de um grupo de notícias ou de um amigo? Eu não consigo pensar em uma definição para essas palavras. Aqui na Wired nós paramos de usá-las.

Espere um minuto. Os chamados jornalistas e blogueiros modificaram o significado da “mídia”.  Mas sem a mídia de notícias tradicionais eles não teriam, de fato, muito o que fazer. A maioria dos amadores comenta sobre a qualidade da informação. Então, você leu um jornal nesta manhã?

Não.

O seu jornal local, o San Francisco Chronicle, está lutando para sobreviver. Se ele desaparecesse amanhã…

?eu não noticiaria. Eu nem sei o que estaria perdendo.

Então como o senhor se mantém informado?

A informação vem a mim de várias maneiras: via Twitter, aparece na minha inbox ou na minha base de RSS, através de conversas. Eu não a procuro.

O senhor simplesmente não se importa.

Não, eu me importo. Você sabe, eu escolho as minhas fontes e confio nelas.

Como milhões e milhões confiaram na mídia clássica anteriormente.

Se alguma coisa aconteceu no mundo que é importante, eu ouvirei sobre ela. Eu ouço falar de protestos no Irã antes de eles aparecerem nos jornais, porque as pessoas que eu sigo no Twitter se importam com essas coisas.

The New York Times, CNN, Reuters e outros veículos podem publicar as melhores reportagens na web que você nunca as lerá?

Eu leio muitos artigos da grande mídia, mas eu não acesso essa mídia diretamente para lê-la. Ela vem a mim, o que é muito comum atualmente. Mais e mais pessoas estão escolhendo filtros sociais para buscar notícias em vez de filtros profissionais. E nós ainda ouvimos falar sobre as coisas importantes, mas não é aquela enxurrada de más notícias. São notícias que importam. Eu acredito que quando alguma coisa chega a mim, ela já foi checada por aqueles em quem confio. Então, as coisas estúpidas que não são importantes não vão chegar a mim.

Mas o senhor também poderia descrever o fluxo sem fim de palavras proveniente do Twitter como estúpido. Limitadas por 140 caracteres, as mensagens do Twitter resultam em uma impressão louca, sem filtros e sem comprovação do que está acontecendo. Os tweets não podem ser qualquer tipo de substituto para a reportagem e análise rápida, abrangente e profundamente pesquisada da mídia de qualidade. E com todo o respeito, é o senhor que está produzindo. O senhor é um membro da mídia de notícias, trabalha para uma revista, realiza entrevistas e cria notícias, ou informação, ou conteúdo ou qualquer outra denominação que o senhor queira dar.

Verdade. Mas o problema não é que a tradicional forma de escrever artigos não é mais valorizada. O problema é que essa forma é agora a minoria. Costumava ser um monopólio, a única maneira de distribuir notícias.

Porque as companhias de mídia costumavam controlar as empresas de impressão e as de transmissão de rádio e TV?

Exatamente. Portanto, agora que você não precisa disso para acessar um canal comercial para distribuir (notícias), qualquer um pode fazê-lo. O que nós fazemos é ainda sermos úteis, mas o que outras pessoas fazem é igualmente útil. Eu não acho que a nossa maneira é a mais importante e certamente não é o único meio de conduzir informação. Então, é por isso que nos encontramos em uma fase engraçada. Vai nos levar uma década ou duas para que entendamos o que estamos fazendo.

Mas mesmo com esse frisson para novos formatos e mídia baseada em internet, a demanda por jornalismo de qualidade está crescendo em vez de estar encolhendo. A mídia online já ganhou uma nova e enorme audiência. E diante de toda a conversa de que a imprensa será extinta, periódicos têm se mantido consideravelmente estáveis. O problema é a queda nos rendimentos dos anúncios.

Jornais não são importantes. Pode ser que sua forma física e impressa não funcione mais. Mas o processo de recolher e analisar informação, adicionar valor a ela e distribuí-la, ainda funciona.

Mas onde está o modelo de negócios baseado na internet para isso?

Ainda estamos trabalhando nisso.

Boa sorte – um futuro que não irá se sustentar.

O anúncio via banner foi inventado aqui neste escritório em 1995. Essa foi a primeira resposta à sua pergunta. Mas não há um modelo de negócios, há milhares. Cada um de nós tem que descobrir o seu. Todos nós produzimos dinheiro, mas não o suficiente, e não a quantidade que produzimos na época dos impressos. O Facebook está tentando arrumar uma forma, assim como o Twitter. Nós chegaremos lá, mas ainda é cedo.

Qual a sua resposta na Wired?

A wired.com tem aproximadamente 120 milhões de page views por mês, sendo um dos maiores sites do mundo. Nós gerenciamos o site e saímos sem ganhar e sem perder. E isso é completamente arbitrário: nós decidimos como fazer. Nós pagamos jornalistas, nós temos blogs. Há conteúdo gerado por usuários, conteúdo de revista com seis meses de pesquisa e histórias de oito mil palavras. Algumas partes são editadas, outras, não. Nós obtemos milhões de dólares em receita, e nós decidimos se queremos que o negócio seja lucrativo ou não.

Outros não podem ou não conseguem fazer isso tão facilmente. Eles lucraram com os impressos e usaram o dinheiro para fundar seus produtos online. Agora muitos deles, como o The New York Times, estão perdendo grande parte de sua receita com impressos e não conseguem gerar lucro suficiente com seus sites. Adiante um pouco e você tem um grande problema.

A matemática do lucro é muito fácil: receita menos custo. Você faz o melhor com a receita e se não está lucrando, diminui seus custos. O problema é que agora não há muito dinheiro a ser produzido online, e nosso custos são muito elevados.

Publicado originalmente em http://www.salon.com/news/feature/2009/07/28/wired/