Relatórios criados por equipes de comunicação são horríveis, salvas as raras exceções.
Prestei consultoria pela Tracto desde o ano passado para 14 empresas com o objetivo de ajudá-las a melhorar a forma de entender e apresentar resultados de content marketing. Observei que todas as 14 faziam de seus relatórios um mero compilado de gráficos e conjunto de ações realizadas que só fazia sentido para o leitor quando acompanhado de uma explicação verbal.
O que faltava aos relatórios dessas 14 empresas — e provavelmente falta a você também — é algo simples: conectar os resultados à função desempenhada pelos conteúdo. Estruturar a mensuração de resultados tem pouco a ver com matemática e muito a ver com lógica.
Para ajudar, desenvolvi nessas consultorias um exercício simples. Peço ao pessoal que cria o conteúdo que me explique de maneira informal e resumida por que escolheu os canais de comunicação que estão ativos hoje e como esses canais se relacionam uns com os outros. Imponho apenas duas regras:
- A descrição precisa começar pelos resultados reais que a empresa espera obter como benefício, como vendas, brand equity, retenção de clientes ou outra qualquer.
- As informações devem ser encadeadas como uma pirâmide invertida, técnica que jornalistas aprendem na faculdade e usam o resto da vida quando querem fazer textos com extrema objetividade, como os hard news. Em suma, as informações mais importantes vêm no começo enquanto as menos importantes ficam para o fim.
Vamos a um exemplo real. Uma das 14 empresas que atendi é da área de TI e utiliza content marketing porque pretende se posicionar como autoridade em seu segmento. Em outras palavras, ela quer que os profissionais de TI, seus potenciais clientes, percebam nela o profundo domínio de determinadas tecnologias. Eis a descrição apresentada pelo gestor de Comunicação:
“Buscamos conquistar usuários ativos, que são aqueles que tenham consumido nossos conteúdos pelo menos oito vezes nos últimos 60 dias. Eles estão mais propensos a acessar a aba ‘nossas soluções’ no site e nos solicitar uma proposta do que aqueles que consomem nosso conteúdo esporadicamente. Para fomentarmos os usuários ativos, buscamos gerar cadastros, o que conseguimos por meio de assinaturas da revista digital, estudos de caso disponíveis para download, webinars e webcasts — todos gratuitos. O público chega a esses canais por meio de nossa revista impressa, newsletter por e-mail, artigos no site e posts no Facebook”.
Fácil de entender, não? Pois bem, perceba que a simples descrição já nos indica um volume enorme de indicadores a serem usados. Do mais importante para o menos importante, são eles:
- Audiência: quantidade de usuários ativos.
- Conversão em leads: quantidade e percentual de usuários ativos que solicitaram proposta.
- Quantidade e taxa de crescimento de cadastros ativos ou não, o que pode ser analisado no total e pela contribuição de cada canal (revista digital, estudos de caso, webinars e webcasts).
- Taxa de abertura e de cliques da newsletter.
- Quantidade de empresas que recebem a revista impressa.
- Quantidade de cadastros no site a partir do link disponível na página de artigos.
- Quantidade de cliques nos posts do Facebook que apontam para o site.
A partir daí, é uma questão de observar o comportamento de cada indicador e se há algum tipo de correlação. Por exemplo, aumentando-se a tiragem da revista impressa, haverá mais cadastros no site? A resposta não se limita a ‘sim’ ou ‘não’. É preciso definir que medidas tomar se a resposta for ‘sim’ e que medidas tomar se for ‘não’. O consultor holandês Bert van Loon é palestrante habitual em grandes eventos na Europa e nos Estados Unidos. Para ele, indicadores precisam ser, acima de tudo, úteis.
“Os únicos indicadores relevantes são os que você puder relacionar a uma ação. Aqueles que não conduzem a uma ação apenas geram ruído.”
Acredite, o excesso de números é muito pior do que a falta deles. No caso da empresa de TI, o ruído a que Bert se refere seria, por exemplo, acrescentar à lista os indicadores do site e os números da fan page no Facebook. Se eles não entraram na descrição primária das atividades, não devem fazer parte do conjunto de indicadores e informações, que é o que chamamos de métricas.
Métricas, portanto, não têm a ver com matemática, mas com gestão.
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