Este artigo tem por finalidade apresentar um referencial que visa a oferecer um embasamento teórico e prático para a criação de indicadores. Para efeito de exemplo, será apresentando um modelo de indicador qualitativo para medir a qualidade do documento de uma especificação funcional de requisitos de software.
Esta pesquisa nasceu da necessidade de criação de um indicador qualitativo para o Departamento de Análise de Sistema, no qual eu atuo e também fez parte da minha monografia de conclusão do MBA Excelência em Gestão de Projetos e Processos Organizacionais.
O objetivo de um indicador qualitativo para o Departamento de Análise foi medir e avaliar a qualidade do documento de especificação funcional elaborado de forma a promover uma melhoria contínua desse processo.
Criação de indicadores
De acordo com TJTO (2010), os indicadores permitem a avaliação do desempenho da organização, segundo três aspectos relevantes: controle, comunicação e melhoria.
Para a formulação de indicadores, é necessário um conjunto de passos para assegurar os princípios da qualidade. Seguem os passos definidos pelo TJTO (2010):
1. Identificação do nível, dimensão, subdimensão e objetos de mensuração.
2. Estabelecimento dos indicadores: É necessário considerar alguns componentes e requisitos básicos, para garantir a sua operacionalização:
Os componentes básicos:
- Medida (relação matemática), num determinado momento, grandeza qualitativa ou quantitativa que permite classificar as características, resultados e consequências dos produtos, processos ou sistemas.
- Fórmula de obtenção do indicador que indica como o valor numérico (índice) é obtido.
- Índice – valor de um indicador em determinado momento.
- Metas – são os índices atribuídos para os indicadores a serem alcançados num determinado período de tempo. São pontos ou posições a serem atingidos no futuro.
Requisitos básicos:
- Disponibilidade: facilidade de acesso para coleta.
- Simplicidade: facilidade de ser compreendido.
- Estabilidade: permanência no tempo, permitindo a formação de série histórica.
- Rastreabilidade: facilidade de identificação da origem dos dados, seu registro e manutenção.
- Representatividade, confiabilidade e sensibilidade: atender às etapas críticas dos processos, ser importante e abrangente.
Tipos de indicadores:
- Indicadores de eficiência (Produtividade): medem a proporção de recursos consumidos com relação às saídas dos processos.
- Indicadores de eficácia (Qualidade): focam as medidas de satisfação dos clientes e as características do produto/serviço.
- Indicadores de Efetividade (impacto): focam as consequências dos produtos/serviços. Fazer a coisa certa da maneira certa. A efetividade está vinculada ao grau de satisfação ou ainda ao valor agregado, a transformação produzida no contexto em geral.
3. Validação preliminar dos indicadores com as partes interessadas: Selecionar e validar os indicadores com as partes interessadas é fundamental para obtenção de um conjunto de indicadores, que propicie uma visão global da instituição e represente seu desempenho. Durante a validação é necessário levar em conta os requisitos básicos apresentados no passo (2. Estabelecimento de indicadores).
4. Construção de fórmulas e estabelecimento de metas:
Construção de fórmulas: A fórmula do indicador deve ser de fácil compreensão e não envolver dificuldades de cálculo ou de uso, proporcionando a obtenção de um resultado, numérico ou simbólico, facilmente comparável com valores predeterminados, posteriores ou anteriores, para apoiar o processo decisório.
Estabelecimentos de metas: Meta é o índice de resultado que se espera alcançar com o desempenho do processo que está sendo medido. É o desafio a ser alcançado. Todos os indicadores de desempenho devem ter metas, podendo ser definida mais de uma meta por indicador. As metas têm como objetivo serem suficientes para assegurar a efetiva implementação da estratégia. A finalidade de cada meta é enunciada no detalhamento do indicador e expressa um propósito da organização.
5. Definição de Responsáveis: Após a construção das fórmulas e o estabelecimento das metas, é importante estabelecer os responsáveis pela apuração do indicador. Indicadores sem responsáveis por sua coleta e acompanhamento não são avaliados, tornando-se sem sentido para a organização. Uma vez identificado o responsável pela coleta, é definida a periodicidade de coleta do indicador.
6. Geração de Sistema de Coleta de Dados: Etapa complexa, uma vez que há necessidade de se coletar dados acessíveis, confiáveis e de qualidade. A identificação dos dados varia de acordo com o tempo e os recursos disponíveis, assim como o tipo de informação necessária. Após definidos os métodos de coleta das informações, é necessário seguir para o próximo passo, de validação dos indicadores pelas partes interessadas.
7. Ponderação e Validação Final dos Indicadores com as Partes Interessadas: A ponderação e a validação final dos indicadores com as partes interessadas são fundamentais para a obtenção de uma cesta de indicadores relevante e legítima que assegure a visão global da organização e, assim, possa representar o desempenho da mesma.
8. Mensuração do Desempenho: Após a execução de todos os passos básicos para a criação do indicador e sua sistemática, torna-se necessário medir o que se deseja. Esse passo é iniciado com a coleta de dados e o cálculo do indicador, e finalizado com a conversão do valor obtido na nota correspondente.
Interpretação de indicadores
Promover a análise e a interpretação dos dados é aspecto primordial para o processo decisório, pois, caso contrário, a existência de uma sistemática de monitoramento e avaliação não proporciona ganhos e benefícios para a organização, havendo apenas dispêndio de tempo e de recursos. A análise e a interpretação de dados podem ocorrer de diversas formas, após a prévia coleta e mensuração das informações. Algumas formas de análise e interpretação ocorrem por meio de:
- Gestão do dia‐a‐dia.
- Reuniões gerenciais;
- Reuniões operacionais;
- Intercâmbio de informações e soluções.
Para interpretar um indicador, deve-se primeiro definir sua formatação, porém nunca se esqueça de tornar esse processo de visualização e interpretação o mais fácil possível.
É necessário avaliar os seguintes critérios em seu indicador: a meta deve estar relacionada ao alcance dos resultados, ou seja, índices fora do padrão da meta geram um plano de ação.
Seguindo a metodologia apresentada no ciclo PDCA, origine suas ações sempre na interpretação de seu indicador.
Destaca-se que não devemos construir indicadores apenas para medir, mas para estabelecer indicadores que possam aferir resultados, bem como monitorar, orientar e induzir o desempenho da organização.
Nesse contexto, os indicadores funcionam como ferramentas que conduzem ao comportamento desejado e devem dar aos indivíduos o direcionamento que precisam para atingir os objetivos da organização.
Divulgação de indicadores
Indicadores devem ser divulgados a cada período de coleta, divulgando seu histórico para todo o setor envolvido, pois indicadores são resultados de três ações – coleta, avaliação e planejamento de ações. Divulgue os seus indicadores, mantenha-o sempre atualizado e organizado.
Modelo de indicador qualitativo
De acordo com o descrito acima e o modelo de formulário proposto por Hazan e Leite (2003), foi composto o indicar descrito pelo Quadro 1.
Quadro 1. Indicador de Qualidade do Conteúdo da Especificação Funcional
ESPECIFICAÇÃO DO INDICADOR DE EFICÁCIA (QUALIDADE) |
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Título | Sigla | Revisão | |
Indicador de Qualidade do Conteúdo da Especificação Funcional avaliado pela área Técnica. | IQCEFT | dd/mm/aaaa | |
Tipo Chave | Abrangência | Unidade de Medida | Periodicidade |
Processos Relativos à especificação funcional | Departamento de Desenvolvimento. | Média das notas atribuídas às especificações avaliadas pela área Técnica. | Mensal |
Definição | O indicador de eficácia (qualidade) deve aferir o grau de qualidade do conteúdo da especificação funcional. | ||
Objetivo | Fazer com que o conteúdo da especificação funcional tenha qualidade suficiente para que a equipe de desenvolvimento implemente a solução com clareza, que não ocorra retrabalho e atenda à necessidade do cliente. | ||
Fórmula de Cálculo | IQCEFT = A média das notas atribuídas às especificações avaliadas. | ||
Definição dos Parâmetros | A nota deve ser única por especificação. Seguem as opções que devem ser consideradas na avaliação:Nulo – Não avaliada ou não se aplica.1 – Avaliado com nível muito ruim.2 – Avaliado com nível ruim.3 – Avaliado com nível regular.4 – Avaliado com nível bom.5 – Avaliado com nível muito bom.6 – Avaliada com nível excelente.
Criar combo “Solicitação de Melhoria” com as opções abaixo. Quando julgar aplicável, o responsável pela avaliação técnica deverá selecionar a opção que considera não estar bem definida e requer melhoria.
Criar campo texto, chamado “Justificativa”. Neste campo o responsável pela avaliação técnica deverá justificar a avaliação da especificação, principalmente quando a especificação for avaliada com uma nota abaixo de 4. |
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Meta a ser atingida | A meta a ser atingida é possuir uma média de avaliação igual ou superior à nota “4 – Avaliado com nível bom”. | ||
Fonte de Dados | Documento de Especificação Funcional. | ||
Método de Análise |
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Responsável pela medição e Análise | Gerente de Análise de Sistemas e Analistas de Sistema. | ||
Responsável pela melhoria do Uso | Gerente de Análise de Sistemas e Analistas de Sistema. | ||
Arquivo | Intranet, na seção de Indicadores da Gerência de Análise de Sistema. |
Sugere-se que semelhante ao indicador criado para a área Técnica (Desenvolvimento), descrito no Quadro 1 acima, também seja criado um indicador para o Cliente, de forma que as duas avaliações sejam confrontadas.
Além do “Indicador de Qualidade do Conteúdo da Especificação Funcional”, é interessante a elaboração dos dois indicadores descritos abaixo.
- Estimativa de prazo: O objetivo é ajudar a definir uma melhor estimativa de prazo. Este indicador irá avaliar o prazo estimado e o prazo efetivamente gasto para elaboração dos documentos de especificação funcional de requisitos de software. Para este indicador, considerar dois fatores:
- Tempo estimado em horas;
- Data de entrega estimada.
Comparar essas informações com:
- O tempo efetivamente gasto em horas;
- Data de conclusão.
O “tempo gasto em horas” X“ tempo previsto em horas” dá a real noção da eficiência dos prazos estimados.
O “data de entrega estimada” X “data de conclusão” dá a real noção da assertividade do planejamento dos prazos. Para os casos em que a data prevista de entrega não foi comprida, mas o tempo estimado em horas foi cumprido, deve ser registrado o motivo do atraso, dentre os motivos:
- Aguardando informações do cliente.
- Tempo investido em tarefas não planejadas.
- Motivos de retrabalho: O objetivo deste indicador é identificar as causas de retrabalho que podem ser geradas por diversos fatores. Seguem alguns exemplos: a) Especificação devolvida pelo cliente por conflito de informações e/ou falta de informação; b) Especificação devolvida pelo desenvolvimento por conflito de informações e/ou falta de informação; c) Restrição técnica; d) Mudança de escopo; e) Revisor diferente do requisitante. Para cada “revisão” da especificação, adicionar o atributo “motivo” de acordo com uma lista de motivos pré-definida, como:
- Requisitos incompletos ou faltantes;
- Restrição técnica;
- Alteração de escopo.
Depois, gerar um indicador quantitativo usando os tipos de retrabalho pré-definidos. A necessidade de utilização de mais dois indicadores surgiu como forma de complementação do “Indicador de Qualidade do Conteúdo da Especificação Funcional”, porém o novo indicador “Motivos de retrabalho” ainda não foi definido devido à grande complexidade em mapear as possíveis causas de retrabalho e como medi-las através de um indicador.
O Quadro 2 apresenta a sugestão para o indicador de Eficiência de estimativa de prazos.
Quadro 2. Indicador de Eficiência da Estimativa de Prazos.
ESPECIFICAÇÃO DO INDICADOR DE EFICIÊNCIA (PRODUTIVIDADE) |
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Título | Sigla | Revisão | |
Indicador de Eficiência da Estimativa de Prazos | IEEP | dd/mm/aaaa | |
Tipo Chave | Abrangência | Unidade de Medida | Periodicidade |
Prazo estimado e o prazo efetivamente gasto. | Departamento de Análise de Sistema. | Diferença entre o prazo estimado e o prazo efetivamente executado (para mais ou menos) em horas. | Tempo de elaboração das Especificações Funcionais. |
Definição | O indicador de eficiência (produtividade) deve aferir o grau de assertividade da estimativa de prazo versus o prazo realmente executado. | ||
Objetivo | Fazer com que o processo de estimativa de prazos seja o mais assertivo possível. | ||
Fórmula de Cálculo | IEEP = PE – PR | ||
Definição dos Parâmetros | PE= Prazo Estimado; PR =Prazo Realizado | ||
Meta a ser atingida | A meta a ser atingida é que a diferença obtida seja menor ou igual ao prazo estimado . | ||
Fonte de Dados | Listas de Tarefas com o planejamento semanal. | ||
Método de Análise |
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Responsável pela medição e Análise | Gerente de Análise de Sistemas e Analistas de Sistema. | ||
Responsável pela melhoria do Uso | Gerente de Análise de Sistemas e Analistas de Sistema. | ||
Arquivo | Intranet, na seção de Indicadores da Gerência de Análise de Sistema. |
Referências:
- HAZAN, Claudia; LEITE, Júlio Cesar Sampaio do Prado. Indicadores para a Gerência de Requisitos. Anais do WER03 – Workshop em Engenharia de Requisitos, Piracicaba-SP, 2003. Disponível em: http://wer.inf.puc-rio.br/WERpapers/artigos/artigos_WER03/claudia_hazan.pdf
- Tribunal de Justiça do Tocantins – TJTO. Manual para a Construção de indicadores. 2010.