Gostaria de fazer uma provocação com este artigo, pois acredito que há alguns anos está acontecendo grandes mudanças no mercado digital e as pessoas não percebem. Primeiro é necessário lembrar que agência não executa, portanto é preciso lembrar que muitas produtoras web se autodenominaram agências digitais por questões mercadológicas. Trabalho com internet desde 1997 e um fato muito comum, infelizmente, são projetos digitais que chegam a uma situação de estresse entre cliente e fornecedor. Há alguns anos está ocorrendo uma tendência a uma facilidade de criação/produção com consequente queda nos valores dos serviços.
O que está acontecendo, me lembra a metáfora do “sapo na água quente“, que um sapo que é colocado em água fria, que vai sendo esquentada gradualmente e acaba morrendo por não perceber as mudanças do ambiente. Se o sapo é jogado em água fervente, ele pula meio queimado, porém vivo.
Passado, presente e futuro
Veja a imagem abaixo e reflita alguns minutos. Se você for geração Y, é muito provável que nunca tenha colocado as mãos em uma enciclopédia BARSA e em um long play.
Porém, se você é geração baby-boomer ou geração X, já fez pesquisas na Barsa, ouviu muitos LP´s, comprou filmes 24 poses da Kodak e consultou as páginas amarelas. Estas gerações são as que enfrentam as maiores dificuldades com as mudanças que a internet trouxe. Depois que um modelo de negócio se torna passado, é fácil criticar a Kodak por falta de visão; a indústria fonográfica por não perceber a tendência do MP3 e outras dezenas de exemplos. Porém, bater em cachorro morto é fácil. Como saber se você não é o sapo morre lentamente na água quente.
Vejam um painel do Pinterest com artigos selecionados sobre o tema “Declínio de Modelos de Negócios“:
A palestra de Sílvio Meira, ministrada no TEDx São Paulo 2009, é fundamental para pensarmos fora da caixa sobre o tema educação e futuro.
Evolução do desenvolvimento de sites
Trabalho com internet desde 1997 e achei que ficaria rico fazendo sites com FrontPage. Naquela época, houve um deslumbramento com o potencial de comunicação que a internet trouxe. Surgiram as empresas “pontocom” que tinham modelos de negócios focados em gerar audiência para depois vender publicidade. Em 2000, veio a crise conhecida como “estouro da bolha da internet” e foi o fim do sonho de muitos empreendedores. A verdade é que houve uma valorização irreal do potencial para internet para valorizar as empresas e gerar lucro para poucas pessoas. Naquela época, ainda não havia um volume de usuário que justificasse todos os portais que foram lançados. Além disso, as conexões eram lentas e as pessoas não usavam de forma intensiva como hoje. Muitos tinham uma tal de “conexão discada”, lembram?
O fato é que centenas de pessoas abriram produtoras de sites e milhares de jovens estudaram web design e aprenderam a fazer sites. Os sites em flash foram muito populares durante muito tempo, afinal eram cheios de efeitos especiais e as pessoas adoravam. Verdade seja dita, na maioria das vezes quem gostava do site era o dono da empresa ou o gestor de marketing.
Escrevi um artigo, “A Corrida do Ouro e a Internet“, que foi inspirado a partir de uma pergunta de um cliente (Mauro Martins, da MKM Consulting), que fez a seguinte provocação “quem ganhou dinheiro na corrida do ouro?”.
Nós, seres humanos, temos o hábito de repetir comportamentos – certos ou errados – e, no caso da internet, há uma tendência ao deslumbramento pelas novas tecnologias.
Evolução das tecnologias da internet
A internet evoluiu e, com o advento do Google que se tornou o gigante da internet, iniciou-se a fase do Search Marketing. Para garantir uma presença no Google, é necessário gerar conteúdo e conquistar links em diversos outros sites. Com a explosão das mídias sociais (não confundir com redes sociais), sendo o Facebook a estrela principal, o usuário conquistou um poder nunca antes imaginado. Qualquer pessoa pode ser tornar uma celebridade da noite para o dia.
O gráfico abaixo mostra de forma interativa a evolução das diversas tecnologias da internet e compatibilidade com os browsers (http://www.evolutionoftheweb.com).
4 fases da internet
O gráfico abaixo mostra de forma muito didática as quatro grandes fases da internet. Leiam o artigo original “The Four Internet Ages“.
- Fase inicial: A geração Y não vivenciou da primeira fase da internet onde predominou a Guerra dos Browsers e o Yahoo! despontou como a grande promessa. O desafio era a busca por usuários. Tecnologias como o Flash buscavam impressionar os visitantes que chegavam ao site através de mídias tradicionais como TV, rádio, jornais e… Outdoors. Foi a era dos “grandes” portais.
- Era da Busca: Com a grande quantidade de conteúdo, as pessoas necessitavam encontrar de forma simples e o Google se tornou a principal plataforma. Surgiu a indústria de SEO/SEM para ajudar as empresas a se posicionarem nos primeiros lugares das buscas. Sites em flash perdem lugar para blogs e sites com conteúdo relavante. É a era do marketing de conteúdo.
- Internet Social: Com a grande adoção das mídias sociais e com a explosão do Facebook como principal plataforma social. Surgem empresas como Zynga (FarmVille, CityVille, etc.) e Groupon que atingem a marca de U$ 1 bilhão em pouco tempo. O Zynga atingiu 100 milhões de usuários em menos tempo do que o próprio Facebook.
- Internet Móvel: próxima onda sem dúvida será a internet móvel, pois a cada dia que passa aumenta o tempo de uso da internet via smartphones. A briga pelo domínio da plataforma se concentra no iPhone e Android. O Foursquare se desponta como grande promessa da combinação mobile + geolocalização.
Gerenciamento de conteúdo
Antigamente, os sites eram em HTML ou Flash. Porém, com o aumento da diversidade de tecnologias para criação de sites, criou-se uma competição entre tecnologias: ASP vs PHP; Joomla! vs WordPress; site estático vs site dinâmico, etc.
Ter um site fácil de gerenciar se tornou de fundamental importância e tem sido motivos de sucesso para algumas empresas que adotaram boas soluções e fracassos para outras não gerenciam seu conteúdo com facilidade. Houve (e ainda há) uma grande disputa por criar “o melhor sistema de gestão de conteúdo”, porém o mercado rapidamente se adaptou e surgiram duas grandes indústrias:
Criadores de sites vs CMS open source (Joomla! e WordPress)
A evolução de plataformas de criação de sites, como Wix.com, Basekit e construtores de sites dos provedores de hospedagem tornam mais fácil para o usuário leigo criar seu site sem custos de design e programação. Para muitas empresas e profissionais independentes, o uso de construtores de sites evita a necessidade de contratar desenvolvedores para criarem seus sites. Porém, como na metáfora do sapo, grande destes sites são institucionais e sem foco no conteúdo, com isso não conquistam relevância na internet e no Google.
O Joomla! e o WordPress se tornaram as duas principais plataformas de gestão de conteúdo. O WordPress tem duas grandes vantagens na adoção inicial, tem o site WordPress.com que torna simples a criação de um blog e por ser mais simples de usar e customizar conquistou uma base maior de usuários. O Joomla! tem a vantagem de ter sido criado com a finalidade de criação de sites, ao contrário do WordPress cujo foco é a criação de blogs. Sem entrar no mérito de qual é melhor, o fato é que os dois praticamente se tornaram padrão como plataformas de CMS. Ambos são desenvolvidos em PHP, que é a linguagem de programação que roda em Linux, portanto é uma grande vitória para o conceito de desenvolvimento open source.
Síndrome do sobrinho
A facilidade em aprender a criar sites usando plataformas como Wix ou sistemas de CMS como Joomla! e WordPress empurram para o mercado um número cada vez maior de pessoas sem experiência para criar sites. Este fenômeno é conhecido como a “síndrome do sobrinho”, que basicamente é um profissional, em geral jovem, que com poucos conhecimentos em uma tecnologia já ingressa no mercado de trabalho. Infelizmente, a maioria destes “profissionais” jogam os preços para baixo, pois não sabem aplicar as boas práticas para um bom site. O resultado são sites mal-otimizados para o Google, sem sistemas de gerenciamento de conteúdo, sem Google Analytics e outros recursos fundamentais para potencializar o marketing digital.
Por outro lado, existem outros sobrinhos que são os próprios donos de micros e pequenas empresas que não têm como contratar agências e executam suas próprias ações de marketing digital. Não cabe a mim julgar certo ou errado, mas mostrar as tendências. O próprio Google AdWords, que não tinha nem telefone de contato no início, hoje tem o programa Google Engage e um canal direto com os pequenos anunciantes. Nada como a concorrência, não?
Qual a solução para as agências digitais?
É lógico que as agências digitais estão em crescimento e não irão acabar, assim como ainda existem as gráficas e locadoras de vídeos. Porém, é importante avaliar se você está no seu negócio para ganhar dinheiro ou porque tem real interesse em ajudar seus clientes. Na revolução industrial quem detinha os “meios de produção” tinha o poder e lucro garantido. Com a revolução da informática e da era da informação veio a promessa das pessoas poderem ser mais livres para trabalhar de forma flexível, porém as empresas se mantiveram no padrão industrial com funcionários trabalhando de 9h às 18h. Somente com o real uso da internet como plataforma e a adoção maciça pelas pessoas e, principalmente, com o empoderamento das pessoas sobre a gestão de seu conteúdo na internet estamos entrando de verdade na era do conhecimento. Ou melhor, na era da colaboração.
Quem sabe a solução não seria o trabalho colaborativo e em rede? Por que um cliente não pode ser atendido por mais de um fornecedor de soluções digitais?
Veja uma apresentação minha com reflexões sobre passado, presente e futuro.