Carreira Dev

11 fev, 2008

Google e Microsoft: uma relação interessante

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Todo mundo sabe: Google e Microsoft estão numa verdadeira briga de foice pela supremacia no mercado digital. De olho num mercado que promete conceder um poder duradouro e, claro, dezenas de bilhões de dólares a quem souber se aproveitar das oportunidades oferecidas, as duas empresas investem pesado em aquisições, contratam os melhores profissionais e apostam em estratégias agressivas para vencer a luta.

O episódio da chamada “oferta hostil” pelo Yahoo! é a parte mais visível desta complexa equação que envolve as duas gigantes. A Microsoft, basicamente, quer recuperar o poder perdido para o Google nos últimos dez anos. O Google quer manter, a todo custo, o status de empresa mais valorizada do mundo e continuar sendo um ícone da inovação.

Google: Inovação e domínio do mercado

A questão da inovação foi sempre a marca do Google: afinal, a empresa sediada em Mountain View soube capitalizar ao máximo as possibilidades dos algoritmos de busca que desenvolveu – os mesmos algoritmos que transformaram o seu buscador no endereço de web mais acessado do mundo. Com o know-how adquirido, faturaram fortunas com seus programas de anúncios contextuais, como o AdSense.

Mas isso não bastava para o Google: sua estratégia de desenvolver aplicativos grátis, em formato beta, com tecnologia acessível a todos os tipos de usuários, é uma forma de garantir ainda mais espaço para as inserções de seus anúncios e links patrocinados, conseguir fidelização dos usuários e, ainda por cima, tirar preciosas fatias do mercado de suas concorrentes no desenvolvimento de softwares.

O caso mais sintomático é o Google Docs. Até alguns anos atrás, seria impensável imaginar numa suíte de aplicativos com processador de texto, planilhas e software de apresentação que pudesse rivalizar com o consagrado Office, da Microsoft. E ainda por cima, totalmente gratuita.

Microsoft: estratégias em revisão

Esta atitude, que parece natural para os consumidores mais jovens, a chamada “Geração Google”, é algo que subverte totalmente a lógica de negócios que transformou a Microsoft numa potência, nas décadas passadas. A Microsoft foi líder de mercado por muitos anos justamente por apostar no faturamento com licenças pagas de software. Seus produtos, apoiados num esquema agressivo de marketing , acabaram se tornando padrões no mercado, como o já citado Office e, claro, o sistema operacional Windows.

Quando a internet começou a se tornar mais popular, em meados dos anos 90, esta hegemonia fez com que o navegador Explorer, sutilmente encartado nas versões do Windows, roubasse mercado do até então indiscutível Netscape. Isso aconteceu num momento em que a imposição de uma plataforma “fechada” era um paradigma no mercado. Claro, a Microsoft sofria com a pirataria de seus programas, mas este foi um problema que não impediu que a empresa fundada por Bill Gates continuasse a desenvolver softwares cada vez mais adotados por pessoas físicas e empresas no mundo todo.

Talvez a Microsoft tenha demorado a perceber que a estratégia do Google em oferecer softwares altamente funcionais de forma gratuita se constituía numa ameaça a seus negócios. De qualquer forma, a gigante despertou com tudo nos últimos anos: investiu em tecnologias cada vez mais sofisticadas de busca, apostou nos aplicativos com conectividade, numa tentativa de recuperar o tempo perdido. Essa briga agora atinge o ápice, com a oferta pelo Yahoo.

Troca de papéis

O que se pode perceber agora é uma sutil troca de papéis entre os dois rivais: a Microsoft sempre esteve do lado mais “poderoso”, digamos assim, durante a maior parte de sua história corporativa. Adorada por uns, detestada por outras, ditava as regras de negócio e era o modelo a ser seguido.

Com a ascensão do Google, agora a Microsoft está “lado menos poderoso” do mercado de tecnologia. Suas ações ousadas – como a compra de parte do Facebook, a oferta pelo Yahoo – mostram que ela quer reconquistar o lugar que era seu até há alguns anos atrás, e investindo em todas as frentes necessárias para combater o Google.

O Google sabe disso, e já trata de neutralizar os esforços da concorrente. Desde o anúncio da oferta da Microsoft pelo Yahoo!, a empresa de Mountain View já anunciou diversas novidades: um novo pacote de aplicativos para empresas, o “Total Edition”, um serviço de música grátis para tentar ganhar a liderança no único mercado onde perde no segmento de busca, que é a China, além dos constantes rumores sobre aquisições de empresas como a Plaxo, especializada em redes de contatos.

As redes sociais são um importante elemento nesta equação, e a iniciativa do Google em propor plataformas de código aberto para “unificar” o acesso das redes é algo que pode abrir um novo campo de negócios e garantir a supremacia diante do ataque da Microsoft.

Como todo líder de mercado, agora é a hora do Google manter sua posição. Ainda é cedo para prever o que vai acontecer, mas é certo que a oferta de novos serviços motivada pela briga com a Microsoft vai trazer benefícios a quem realmente importa: os usuários.