“Todo mundo acha que a preparação para um desastre é algo ridículo, perda de tempo e dinheiro e, de certa forma, delirante. Eu cheguei ao ponto de esconder das pessoas os meus preparativos, as coisas que eu comprei, meus estudos etc…”
O trecho acima pode parecer meio desconexo e sem sentido para você, mas é de total relevância para os membros da rede social “Zombie Preparedness Initiative”, algo como “Iniciativa de Preparação contra Zumbis”. Bizarro ou não, este é um exemplo do que vem acontecendo ao redor do mundo em termos de redes sociais: a segmentação.
As redes sociais segmentadas – ou de nicho, como preferir, são formas de representação dos relacionamentos entre seres ou grupos que tenham interesses específicos. Além de muito interessantes do ponto de vista antropológico e psicológico, são grandes oportunidades de mercado.
Desmistificando o conceito de nicho e a importância do “lead”
Alguns obstáculos, no entanto, ainda amedrontam iniciativas com essas características. Quem deseja dar o pontapé inicial e criar sua própria rede, mas também visa rentabilizar a comunidade de alguma forma, não deve se assustar com a quantidade de membros que sua rede pode atingir.
Em primeiro lugar, nicho não quer necessariamente dizer “três pessoas”, mas sim um conjunto de seres com características e necessidades homogêneas. Logicamente trata-se de uma “fatia”. Mas em vários casos, a fatia de um grande bolo pode ser uma generosa porção, que pode não se enquadrar nos merchans do Faustão, mas ainda assim atraem grandes olhares.
Além disso, engana-se quem acredita que grandes empresas não tem interesse em redes de nicho. Cada vez mais executivos de marketing e suas agências de comunicação (digitais ou não), enxergam nestas redes sociais a possibilidade de “trabalhar a segmentação a partir da segmentação”. Essa forma de atuar minimiza a dispersão no caminho que a mensagem percorre desde o portador até o receptor e propicia a adoção de um modelo comercial que vem sendo preferido por grandes anunciantes: o CPL.
CPL, ou “custo por lead” é o valor pago mediante uma determinada conversão, previamente definida. Ao trabalhar com volumes menores de consumidores, fica mais fácil estabelecer critérios de sucesso ao impactar a audiência. O lead pode ser todo membro de comunidade que manifestar interesse em um tópico, ou todos os formulários preenchidos pelas pessoas daquele grupo que se interessaram por um conteúdo mais premium que só pode ser acessado mediante um cadastro. Opções de como gerar leads não faltam.
Outros benefícios, vantagens e importância das redes sociais de nicho
Além da oportunidade gerada para anunciantes, outros fatores impulsionam a proliferação desse tipo de rede.
A segmentação possibilita que pessoas que geralmente não se conhecem formem uma conexão. Em redes de massa, como o Facebook, por exemplo, é mais comum adicionar as pessoas que já conhecemos. Por questões de privacidade e segurança de dados sensíveis, muitos de nós optamos por não criar conexões com estranhos. Em redes de nicho, pessoas se conectam porque têm interesses comuns que, se bem explorados, podem acabar se desenvolvendo para um relacionamento offline. As redes sociais segmentadas, podemos então dizer, aproximam quem está longe.
Outro ponto que merece destaque é o aparecimento de sinapses online inteligentes, que fogem do lugar comum muito característico de “redes de massa”. As discussões são mais relevantes e acabam muitas vezes se configurando como celeiros de ideias e laboratório para grandes empresas, que recebem desses grupos o input que faltava para a criação de novos produtos e serviços voltados para a necessidade do nicho.
E para quem se animou com esse mar de oportunidades e criou coragem, atenção para os quatro passos básicos que devem ser respeitados na criação de uma rede social de nicho:
- Estimular o engajamento: a melhor maneira de iniciar a discussão é ser você mesmo o líder da conversa. Caso você não tenha repertório/tempo suficiente para motivar os membros a entrar de cabeça na troca de informações e experiências, não se arrisque.
- Ouvir e ser ouvido: você pode ser o líder, mas não é o dono da verdade. Dê voz para os participantes e se preocupe somente com a integridade das conversas, que invariavelmente tornam-se acaloradas em algum momento.
- Focar na comunidade e não na ferramenta: descubra o que é mais útil e acessível para seu nicho.
- Detalhes vêm por último: depois de cumprir todos os passos acima, lembre-se de que o objetivo é conectar pessoas. Crie plataformas wiki, chats, fóruns, comunidades, álbum de fotos, canais de vídeos, seminários online e abra espaço para publicidade contextual.
E no Brasil?
Embora ainda haja muito potencial para crescimento e desenvolvimento, os internautas brasileiros estão dando sinais de amadurecimento quando o assunto é rede social. Segundo dados do CGI.br (Comitê Gestor de Internet no Brasil), 98% dos brasileiros com Internet estarão cadastrados em alguma rede social até 2015. Além das redes sociais “de massa”, os nichos estão ganhando cada vez mais importância.
A Fashion.me, uma rede social voltada para amantes de moda, é um exemplo genuíno. Além de recursos e aplicativos destinados a criação de looks, há espaço para que grifes marquem presença. A empresa, que hoje tem mais de um milhão de usuários cadastrados, começou com um investimento simbólico de R$ 30, o valor do serviço de hospedagem do site.
Com o nome inicial “byMK”, a rede mudou seu nome no final de 2011 ao receber investimentos de terceiros. Os idealizadores, Flávio Pripas e Renato Steinberg, figuraram no ranking dos cem empresários mais criativos do mundo da revista “Fast Company”, com a 54ª posição.
Profissionais liberais também têm o seu espaço reservado nas redes sociais. A iDent, exclusiva para dentistas, é um daqueles casos em que uma grande marca enxerga o potencial dos nichos. A Colgate marca forte presença na iDent e tem uma página exclusiva para estreitar o relacionamento com os mais advogados de sua marca.
A maior comunidade online de leitores do Brasil não poderia ficar de lado. A Skoob, destinada para amantes de livros (ou “skoobers”, como a rede os chama), oferece uma estante virtual para seus membros e dispõe de uma série de ferramentas para que exista o compartilhamento e troca de experiências/opiniões entre as pessoas.
A necessidade de criar formas de expressão cultural, perpetuação de hábitos e costumes e o sentimento de “fazer parte” são os motivos que levam o ser humano a procurar a vivência em grupos. A socialização, que existe desde sempre no conceito de “tribos”, extrapola seus limites e toma conta da Internet. Um viva para as redes sociais segmentadas!