Este artigo foi publicado em 04/09/2015. Por ter sido considerado um dos melhores artigos de 2015, foi republicado hoje.
Leia também o segundo e o terceiro episódios desta saga.
Há três semanas acontecia em Anaheim, pertinho de Los Angeles, a D23 Expo, uma mistura de feira e exposição, principal plataforma de lançamento para diversas empresas que convivem – muito bem – debaixo de um mesmo guarda-chuva: a The Walt Disney Company.
A D23 Expo é a versão ‘100% Disney’ da Comic Con, mega evento de cultura pop que acontece anualmente em San Diego. Na Comic Con, estúdios de cinema, produtoras de televisão e editoras antecipam seus lançamentos, levando diretores, atores e roteiristas para participações rápidas, mas sempre marcantes – a Comic Con de San Diego lota todo ano, com filas que começam até 48 horas antes e somem no horizonte. É o ápice da cultura pop, atraindo a mídia do mundo inteiro.
Se já existe a Comic Con, por que a Disney decidiu criar um evento só dela, então?
Porque a Disney pode.
Há quase uma década, a empresa, sob o comando do novo CEO Bob Iger, iniciou uma série de aquisições: Pixar em 2006, Marvel em 2009 e Lucasfilm (incluindo aí Star Wars) em 2012.
Em meia dúzia de anos a Disney tornou-se o mais poderoso e influente conglomerado de entretenimento do mundo.
Chegamos a 2015, quarta edição da D23 Expo, no Anaheim Convention Center, Califórnia – coladinho ao Disneyland Resort – onde 84 mil pessoas (mais que o dobro do público da edição anterior) se aglomeraram para ver ao vivo o elenco de ‘Star Wars – The Force Awakens’ e o trailer de ‘Captain America – Civil War’, assim como trechos de novos filmes da Pixar, como ‘Finding Dory’ (continuação de ‘Finding Nemo’) e ‘The Good Dinosaur’, que estreia em novembro. Mais que isso: para ver de perto lendas como George Lucas, Harrison Ford e Johnny Depp.
E eu estava lá.
Por ser da imprensa, eu passava direto pelas multidões nas filas, que chegavam a dormir dentro de um dos halls do centro de convenções para tentar (isso, tentar) um lugar no Hall D23, o principal salão do evento, com inacreditáveis 7.500 lugares, sempre lotados. Não fosse pela minha credencial, que me garantia assento em área fixa e reservada – e as pulseirinhas coloridas de acesso, distribuídas como joias pela equipe de Comunicação da Disney -, pouco veria ou saberia.
Mas eu vi, soube, e anotei tudo para contar para vocês.
Os vários anúncios que foram feitos ao longo dos três dias da D23 Expo ou eram divulgados pela Disney enquanto os painéis aconteciam, ou vazavam logo depois. Mas nem tudo vazava, e só mesmo estando lá para sentir a emoção – o real ‘viver para contar’, e é disso que vou falar nesta série aqui no iMasters: impressões e sensações de quem esteve em um dos mais importantes eventos de cultura pop do mundo.
Preparado? 😉
Marvel (‘Doctor Strange’)
- Para começar, ver Kevin Feige de perto é presenciar o responsável por tudo o que tem acontecido no universo cinematográfico Marvel desde 2008, quando o primeiro ‘Iron Man’ chegou aos cinemas. O cara é simples, calmo, focado – a tranquilidade de quem sabe que é foda.
- Não houve trailer de ‘Doctor Strange’, provavelmente o mais aguardado filme do Marvel Cinematic Universe desde ‘Avengers’ (ainda está começando a ser filmado), mas produziram para a D23 Expo um mix de artes conceituais muitíssimo bem editado, com direito a trilha sonora e sons incidentais, simulando um trailer – que terminou com um Benedict Cumberbatch (o Doutor Estranho) quase real, misto de efeitos visuais e fotos, criando, em um movimento rápido, o ‘poder amarelo’. O povo veio abaixo – em termos de histeria, nível 3 de 1 a 5.
- O próprio Benedict Cumberbatch, que estava em Londres, apareceu em vídeo gravado exclusivamente para a D23 Expo. Quando se está lá, e alguém aparece nos telões dizendo ‘Hi, D23 Expo!’, é algo realmente emocionante. Não houve gritaria, mas aplausos, eu é que me arrepiei por dentro, tipo ‘uauuuu, estou aqui…’.
- A essa altura, todos nós sabemos que os filmes da Marvel são o sucesso que são por conta dos roteiros e diálogos, então ver o ‘trailer’ de ‘Doctor Strange’ com cenas do Doutor operando, ainda cirurgião, o acidente que mudaria sua vida e a ida para o Oriente não disse muita coisa, parece até burocrático demais, mas é bom calar a boca antes de sair o trailer real. E, antes da mais nada, Benedict Cumberbatch é Benedict Cumberbatch, ponto.
- Nos palcos do Hall D23 um bando de gente se revezou ao longo de toda a D23 Expo, então tudo era cronometrado, e a sensação que eu tive é a de que cada apresentação havia sido ensaiada, como acontece no Oscars. Era algo que ia muito além do apoio do über teleprompter que ficava no fundo do salão, quase do tamanho de uma casa. Ensaios a distância? Claro que sim, não duvide.
- O painel da Marvel – na verdade o dos ‘Studios’, que englobou também ‘Star Wars’ – era o mais esperado e sigiloso de todos. Nós, da imprensa, sempre entrávamos antes, mas, neste em especial, a Disney pediu que fôssemos para o Hall D23 com bastante antecedência. Foto ou vídeo, nem pensar. Sabe aqueles binóculos com visão noturna, que costumam morar na mão de seguranças engravatados que dão frio na espinha? Estavam por lá o tempo todo. Cheguei a tomar uma chamada de um deles por conta do meu inofensivo iPhone, mas isso foi antes de começar, e ele até chegou a sorrir para mim. Que bom que não foi um tapão na orelha. Assim, as fotos desta série de artigos são da própria Disney, ok?
‘Star Wars’ (George Lucas recebe o ‘Disney Legends’)
- Desde 1987 a Disney nomeia como ‘lendas’ atores, diretores, produtores, animadores e personalidades em geral que de alguma forma contribuíram para o sucesso da empresa. Gente como Julie Andrews, Elton John e Robin Williams – e, este ano, havia George Lucas entre os oito escolhidos (nove, na verdade, mas o nono era surpresa, aguarde; se você já sabe, faça o favor de ficar quieto).
- A cerimônia ainda não havia começado – era o evento de abertura da D23 Expo, e cada milímetro do Hall D23 estava ocupado – quando o criador de ‘Star Wars’ entrou na plateia por uma das laterais, cercado de executivos e seguranças, e dirigiu-se à fileira dos homenageados. Pra quê: o salão veio abaixo, e mal se conseguia ver o cara. Ainda assim, vislumbrei a famosa cabeleira branca entre a floresta de cabeças à minha frente. Era George – George Lucas, minha gente. Ali zerei o ano, e olhe que a D23 Expo estava apenas começando.
- Quando chegou a vez de George Lucas, Bob Iger, CEO da Disney – seguro de si até o último fio de cabelo, falarei sobre ele adiante -, virou-se para a plateia, onde o pai de Luke, Leia e Han estava sentado, e agradeceu mais uma vez por ele ter aceitado vender a Lucasfilm. Sou sentimental, mas a súbita mudança de expressão corporal de Iger, olhando Lucas fixo nos olhos, passou sinceridade.
- George Lucas subiu ao palco e – santo Deus – o mundo veio abaixo. Em termos de histeria, nível um bilhão de 1 a 5. No Hall D23 havia quatro imensos telões, e todo o tempo eu desviava os olhos deles para olhar para o palco e me convencer: estou-vendo-George-Lucas-ao-vivo.
- Lucas é na dele, fala bem, estava calmo, e conseguiu praticamente ignorar a presença de C-3PO e R2-D2, que entraram no palco para recebê-lo. Eu imagino que deve ter sido a milésima vez que isso acontece em eventos do qual ele participou. Haja saco, né?
- No meio do discurso de agradecimento, o que vocês já devem saber: a confissão de ele gosta, e muito, do Jar Jar Binks, odiado por todos nós. Quando eu ouvi, achei que era meu cérebro fazendo uma tradução livre do que havia acabado de escutar, mas quando percebi que todo mundo estava às gargalhadas… caiu a ficha. Eu não ri, não – sério, George?
- Desde criança eu gosto, mesmo, é do R2-D2. Como parte da imprensa, eu podia chegar cedo à D23 Expo, muito antes de abrir, e vale dizer que o maior espaço da feira era o imenso Show Floor, com dezenas de exposições, lojas oficiais com itens exclusivos, restaurantes e tal. No início do segundo dia, assim que entrei, dei de cara com o R2-D2 circulando livre, leve e solto por entre os corredores. Eu e a meia dúzia de gatos pingados que lá estava olhou em volta para ver quem estava controlando o bicho, mas nenhuma pista até agora. Fato é que, se você chamava, ele vinha. Mesmo. ‘Come here, Artoo!’, era assim. Pronto: zerei de novo.
Disney Animation (‘Zootopia’)
- Não gosto do John Lasseter. Assim, do nada. Mas ele cruzou comigo duas vezes e fiquei abestalhado em ambas. A primeira foi uma hora antes da D23 Expo abrir: eu estava no Show Floor, aguardando o tour para imprensa no pavilhão da futura Shangai Disneyland. Ele surgiu com meia dúzia de acompanhantes, passou por mim e sumiu no estande ao lado. A outra vez foi no segundo andar do centro de convenções (a D23 Expo ocupava os três andares): eu havia acabado de sair da sala de imprensa e estava sozinho, literalmente no meio de caminho de John e sua trupe, que passou por mim como se eu fosse uma samambaia de plástico. Pessoal, ele pode – mas continuo não gostando dele. Assim, do nada.
- Lasseter é um show man. Em um determinado momento do painel Animação, ele usou um ‘disparador’ de camisas para a plateia. Era o lançamento (literal) de uma edição exclusiva da série de camisas estilo Havaí que são criadas para ele a cada filme da Pixar que é lançado. Esta custava US$ 100.00. Nenhuma delas caiu perto de mim, mas cada sortudo que recolhia alguma destas oferendas caídas dos céus era olhado com inveja profunda pelo povo ao redor.
- ‘Zootopia’ parecia não ter personalidade alguma quando vi o trailer, ainda no Brasil. Mas, meus amigos, parece ser rolar de rir. ‘Bom’ no nível ‘muito bom’, sabe? A interação entre ‘raposa safada’ e ‘coelha ingênua’ é impagável. Passaram duas cenas no painel da D23 Expo: a de uma fila em uma sorveteria e outra em uma espécie de Detran de Zootopia. As duas são antológicas. O bicho-preguiça atendendo a dupla de protagonistas no ‘Detran’ chegou a me dar dor no estômago de tanto rir. Um detalhe, apenas: parece o humor mais adulto e refinado em uma animação da Disney em anos. Rezo para bombar, porque merece.
Gostou? Ainda tem (muito) mais para contar.
Do que você leu, o que gostaria de saber mais?
No próximo episódio, ‘Civil War’ e ‘The Force Awakens’, combinado? Não perca! 🙂