Marketing Digital

27 jul, 2012

A era da autopublicação fecha o parêntese de Gutenberg

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Para começar, abro um parêntese.

Thomas Pettitt é professor de história da cultura da Universidade do Sul da Dinamarca e tem uma tese bastante curiosa. Pettitt afirma que as novas tecnologias da informação e da comunicação estão levando a Humanidade de volta à cultura de transmissão oral de informação e conhecimento, tornando a época que vai da invenção da prensa, no século XV, até o advento das mídias eletrônicas, um parêntese na História, ou, como Pettitt prefere o “Parêntese de Gutenberg”. Pettitt vai além. Nesse futuro pós-imprensa” para o qual caminhamos, podemos receber mensagens escrita (não importa o tamanho da mensagem) quase tão rapidamente como se estivessemos falando com o emissor da mensagem. É como se estivéssemos falando pelos dedos.

Temos realmente essa impressão em relação ao mercado editorial tal e qual o conhecemos hoje. Parece que um ciclo, um longo cíclo se fecha. Vivemos um momento em que repensamos (apesar dos esperneios dos “tradicionalistas”) novos conceitos, não somente de mercado editorial, mas também de livro e até de leitura. O insight do professor Pettitt não é isolado. A era digital derruba a barreira entre a imprensa tradicional e as novas mídias. Ao falarmos da mensagem escrita, e ela também sofre mudanças, não podemos nos esquecer das mudanças experimentadas pelos seus emissores, não apenas daquelas que se aplicam aos meios utilizados para a trasmissão da mensagem. Certos emissores, os autores, por exemplo, até bem pouco tempo, durante o tal “Parêntese de Gutenberg”, precisavam de intermediários (editores e livreiros) para que suas mensagens chegassem aos receptores. Isso está mudando. Gutenberg está muito cansado.

Parêntese fechado.

Agora, sim, vamos ao tema principal de hoje, que diz respeito aos emissores das mensagens, ou seja, os autores (potenciais ou já publicados), em especial aqueles dos livros técnicos e profissionais das áreas de tecnologia, marketing, vendas, saúde, etc, você que tem uma ideia e quer escrever um livro, ou, até mesmo, você que já esteja de posse dos seus originais finalizados.

O próximo passo é claro: a publicação desses originais. Mas, como você pode realizar essa tarefa? Como submeter seus originais a uma editora? E, no caso de optar pela decisão de autopublicar seu livro, quais empresas e ferramentas da internet podem lhe ajudar nesse processo?

Antes de falar do “como fazer”, quero mostrar um exemplo prático que ilustrará bem o tema sobre o qual tratamos hoje. Há mais ou menos 4 anos, lembro-me de apresentar ao amigo Cezar Taurion, da IBM Brasil, também colunista aqui no iMasters, a Smashwords, uma plataforma de autopublicação americana. 

O exemplo é bom. Cezar, que, frequentemente, escreve em blogs, precisava de um ambiente rápido e prático, sem a burocracia das editoras, através do qual ele pudesse organizar uma série de artigos relacionados em e-books temáticos. Esse era um dos diálogo que Cezar, o autor, o emissor da mensagem, procurava estabelecer com os seus leitores, ou os receptores de sua mensagem. Desde então, o diálogo foi estabelecido, e Cezar Taurion tem autopublicado, regularmente, seus livros digitais. Hoje, pelo menos nove deles podem ser encontrados e baixados (gratuitamente) em http://www.smashwords.com/profile/view/ctaurion.

A Smashwords é uma dos maiores editoras eletrônicas do mundo, tendo publicado em seus 4 anos de existência, cerca de 140.000 títulos a partir de cerca de 50.000 autores. Na Smashwords, qualquer um de nós, que tenhamos um livro pronto, não importa a quantidade de páginas, podemos  autopublicar esse trabalho e colocá-lo à disposição do público nos mais diversos sites de venda de livros, incluindo Amazon e Apple store.  

Essa editora 2.0 surgiu quando, há alguns anos, Mark Coker, seu fundador, teve os originais de um livro seu recusado por várias editoras. Mark, um empreendedor, resolveu, então, criar a Smashwords. A estimativa da empresa para este ano é que a venda de seus e-books gere faturamento bruto que entre 18 e 20 milhões de dólares. Hoje, cinco dos autores mais vendidos na iBookstore da Apple são autores da Smashwords.

O mundo interconectado e sem fronteiras da internet representa autonomia e desintermediação, o que, hoje, faz todo o sentido hoje. A Smashwords, entretanto, não é a única solução à disposição dos autores. Várias outras empresas oferecem a possibilidade de colocar autores em comunicação direta com o seu leitor. Nesses ambientes, não encontraremos muitos dos vícios inoculados no mercado editorial tradicional pelos seus diversos (e muitas vezes inócuos) intermediários.

Nesse “mercado editorial tradicional”, um autor “de qualidade” é aquele publicado por uma editora. Isso é um axioma, e axiomas, como sabemos, são fundamentos de demonstração e, portanto, não são discutidos. Quer dizer, não eram discutidos. Pelo menos esse axioma das editoras. Poucos postulantes a escritor sabem que existe todo um ritual (esotérico ritual) a ser executado para que seus originais, nascidos de noites e mais noites insones (supondo que durante o dia, você atue em outra profissão qualquer que não seja a de escritor), cheguem às mãos dos seus futuros leitores.

A primeira coisa a fazer, claro, é escrever o seu livro. Isso é sua tarefa de autor. Depois, você enviará esses originais para uma editora, que pode ou não se interessar em publicá-los. Aqui temos a primeira etapa do ritual, o primeiro problema (muito comum, na relação – ou falta de relação – entre novos escritores e editoras): se você não for um escritor conhecido, com perspectiva de bom público, há grande chance de seus originais sequer serem lidos: “originais não solicitados, originais ignorados” é mantra dentro de muitas editoras.

Nesses casos, você sequer receberá o famoso “e-mail de recusa”. Esse e-mail (que não significará, necessariamente, que seus originais tenham sido lidos) informa ao autor que a editora não se interessa em publicar seus originais. Trata-se de uma mensagem impessoal e padronizada. Há alguns anos, era uma carta (muitas vezes, xerox de carta).

A verdade é que as editoras, por muitos anos, assumiram o papel (e como gostaram desse papel) de “gatekeepers”, ou porteiros, aqueles que selecionam quem ou não deve ser publicado. Como esse suposto direito tem sido cada vez mais questionado com a internet eis o grande desafio que as editoras precisarão enfrentar para não se tornarem fósseis: como transferir (e de preferência por bem) a tarefa de escolha do que deve ou não ser lido para o leitor?

E isso tem a ver com as novas obras, mas também em relação às obras fora das prateleiras das livrarias, “esgotadas”. No mundo dos livros em formato digital não existe obra esgotada.

A próxima etapa do ciclo de vida do seu livro dentro de uma editoria é a produção propriamente dita desse livro. Seus originais serão revisados, diagramados, a capa será projetada e construída, o livro será impresso, a versão e-book será produzida, os livros serão distribuídos nos diversos canais de vendas e, ao ser comprado, ele chegará às mãos do leitor. A partir daí, inicia-se (se o ambiente criado permitir) o diálogo.

Na prática, você, autor, está terceirizando a produção editorial do seu livro. Esse processo todo, em média, levará entre 6 meses e 1 ano. Esse modelo, aviso, tem seus dias contados. Por vários motivos. Os custos de produção são da editora. Você, autor, receberá em média (esse valor poderá variar de editora para editora) 10% do preço de capa por exemplar vendido. Esses serão seus royalties. Faça a conta você mesmo: um livro cujo preço de capa seja, digamos, R$ 40,00 em tiragem média, que no Brasil é de 2.000 a 4.000 exemplares. Quanto você ganhará no final dessa batalha se conseguir (o que no modelo atual é realmente um grande desafio) vender toda a tiragem? Calculou?

A grande problema dessa história é que, principalmente em relação aos livros impressos, querem representar uma tecnologia do século XV (os livros impressos), com um modelo de negócios do século XIX (o modelo das livrarias) tentando encaixá-lo em um mercado do século XXI. Não pode dar certo. Não está dando certo.

Nas empresas de autopublicação é o contrário. Por cada exemplar vendido, é você que paga uma comissão à empresa pelo uso de sua plataforma. Você é o dono do negócio, entende? A Smashwords, por exemplo, paga ao autor cerca de 85% do preço de capa de um e-book vendido.

As vendas de livros caem nos EUA. No Brasil, onde os números não são muito fáceis de serem obtidos, pradoxalmente, é mostrado no estudo “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE/USP), que houve um aumento de 7.2% de vendas no mercado literário nacional. Como expliquei no artigo de semana passada são números que devem ser analisados com critério.

Agora, vamos ver o caso (muito mais comum) de seus originais terem sido rejeitados por uma editora tradicional (ou como a Amazon geralmente a elas se refere: editoras legadas).

Se você, autor, foi “barrado” por uma editora, ou caso você seja, como o meu amigo Cezar, um autor-empreendedor, que compreende que o mais importante é ser lido por seu público e que, sendo bem informado, sabe que, hoje, para que isso seja conseguido, não precisamos de tantos intermediários (para gerenciar sua relação com seus leitores), poderá encontrar nas editorias eletrônicas a solução perfeita.

Além de produzirem seus livros, muitas vezes gratuitamente, sites como o da Smashwords, possuem alternativas de distribuição, via internet ou impressão sob demanda, fazendo que, a partir do momento que você realiza o upload do arquivo digital do seu livro, a partir daí, eles tratarão de todo o resto do processo (até, quando for o caso, enviar seu livro impresso sob demanda para o leitor através dos Correios).

Além da já citada Smashwords, outros bons exemplos de editoras eletrônicas ou sites de autopublicação são: Bubok (Portugal), Per Se (Brasil), Universo do Autor (Brasil), Clube de Autores (Brasil), Bookess (Brasil), Create Space (EUA) e Lulu (EUA).

Esses sites também oferecem, em seus mais variados pacotes, uma série de serviços editoriais aos seus clientes. Assim, você pode escolher usar uma ferramenta automatizada embutida nos sites ou contratar, através do próprio site, uma série de serviços de vários profissionais da cadeia do livro, como diagramadores, revisores e capistas.

Enfim, a mensagem (otimista) que quero deixar aos autores brasileiros é que devem, eles mesmos, assumir a responsabilidade por sua carreira. As editoras brasileiras não estão preparadas para absorver a demanda cada vez mais crescente de autores, que não se resumem apenas a romancistas, contistas e poetas da literatura tradicional.

Autores de não ficção, história, tecnologia, negócios, marketing, vendas, saúde, direito, etc, poucos, terão, daqui para a frente, as (mitológicas) “propostas irrecusáveis” de publicação que, talvez um dia tenham existido, no mercado tradicional.

Também devemos nos lembrar que não basta publicar. Se o livro não for bem divulgado, não vende. Hoje, as editoras não deveriam preterir as mídias sociais. O problema é que poucas sabem ainda como usá-las para divulgar e vender livros.

Em breve, chegarão no mercado editorial brasileiro, as empresas estrangeiras do setor. Vai dar uma boa sacudida, pois, praticamente todas elas oferecerão uma opção de autopublicação. Disso, não temos dúvidas. Gutenberg está extenuado.

Por isso, digo, mãos à obra autores brasileiros. Autopubliquem suas obras. Usem a internet e os sites de e-commerce para divulgá-las e vendê-las. Estejam nas redes sociais, no Twitter, no Facebook, no Pinterest. Você não vai se arrepender. Aliás, se parar para pensar, você verá que não tem outra alternativa: é você que tem que estar no comando.