No último artigo começamos a falar sobre as tendências que devem guiar o mundo mobile este ano. Veja o texto aqui. Hoje, vamos continuar essa série, focando nos segmentos dentro das aplicações e serviços, nominalmente: messaging, música, fintech e wearables. Vamos lá?
Messaging is social
Conforme previsto no início de 2015, quem roubou a cena no mundo dos aplicativos foram os apps de mensagens instantâneas, e a tendência é que eles continuem com esse status em 2016.
Antes de falarmos sobre a estratégia de cada um dos players desse mercado, é importante notar uma diferença de posicionamento em relação a esse segmento. Se em 2013 players como o Facebook tentavam descer a pilha em direção ao sistema operacional, em 2016 veremos disputa para subir a pilha e agregar cada vez mais funcionalidades aos aplicativos que dominam o nosso hábito de uso no mundo mobile. Esse é um movimento relativamente novo, que teve início no vácuo do poder deixado pela saída do Google (e do Google Play) da China, que fez com que o WeChat apresentasse números assustadores. Os dados de uso dos seus produtos indicam o mesmo posicionamento dos apps de mensagem no mundo todo.
Facebook é o novo rei, mas esse mercado está parecendo Game Of Thrones para 2016. A compra do Whatsapp pelo Facebook se mostrou extremamente inteligente e garantiu o lugar da rede social enquanto empresa na próxima onda de interação no mundo mobile. Facebook Messenger e Whatsapp são os únicos players no mercado de mensagem instantânea que possuem alcance global, estima-se que esse mercado alcance até 2018 3.6 bilhões dos usuários online. O Messenger, com aproximadamente 600 milhões de MAU’s, e o Whatsapp, com aproximadamente 1 bilhão de MAU’s, serão os aplicativos que mais irão capitalizar dessa forma de interação social.
No entanto, os players que estão com uma abordagem mais inovadora são do mercado asiático. Começando pelo WeChat, com 570 milhões de usuários ativos diariamente e 280 milhões de minutos de chamadas de vídeo e voz, o gigante está reinventando o que é ser uma plataforma de mensagem. No espaço curto de 2 anos ele expandiu os seus serviços para permitir chamar táxis, vender stickers, usar uma plataforma de e-commerce, download de música e até um serviço para te ajudar a se manter em forma. Tudo isso dentro da plataforma de mensagem. Esse mesmo movimento é seguido, por exemplo, pelo LINE.
Essa é uma estratégia interessante e que contradiz a tendência de unbundling que vemos em outros segmentos. Enquanto alguns setores estão se decompondo em pequenas partes que se interligam entre si, esses serviços estão cada vez mais aglutinando serviços e funcionalidades dentro deles mesmos.
Isso é uma ameaça enorme para a hegemonia e potencial de gatekeeper das app stores. Se toda a gama de geração de valor acontecer em cima de aplicativos específicos, como fez o WeChat, potencialmente poderíamos chegar a um nível em que o dispositivo ou o sistema operacional seja irrelevante no processo de atender às expectativas do usuário. Vale lembrar que o iMessage da Apple tem aproximadamente 400 milhões de MAU’s, e vem embarcado nos smartphones mais cobiçados do mercado.
Existem ainda outros players que em menor escala também estão trabalhando em novas formas de interação social no mundo mobile. Notoriamente o Snapchat, com aproximadamente 200 milhões de MAU’s, tem tido iniciativas interessantes nesse quesito, e não podemos esquecer do Skype, da Microsoft, e do debutante Slack.
As oportunidades e novos negócios que surgem nesse mercado
Se a maior parte do nosso tempo gasto online no mobile acontece dentro de aplicativos como o WeChat ou o Whatsapp, vamos ver em 2016 cada vez mais oportunidades de negócio surgindo em cima desse contexto. Já temos entrantes como o WeBank (um serviço para empréstimo pessoal), ou o Pockettour (uma agência de viagens dentro do Viber), por exemplo.
A inteligência artificial vem para dar mais comodidade à experiência do usuário, com a assistente virtual M (embutida no Messenger) ou as novidades da Siri da Apple e o Now On Tap do Android, por exemplo. É importante entendermos como esses assistentes entram, na maioria dos casos, por meio do sistema operacional para conseguir acesso aos dados e informações que estão sendo trocados dentro desses novos jardins murados.
Veremos cada vez mais em 2016 a tradução de hábitos de uso para o contexto de mensagem. Eles incluem (mas não estão restritos a):
- E-learning;
- Consumo de mídia;
- Consumo de notícias;
- Resultados e informações de jogos e esportes;
- Informações de bolsa e mais experimentos em cima de financial tech;
- Jogos multi-player.
Music is the new black
Aí está um ponto que não mencionamos no nosso artigo de tendências para 2015. Nós completamente ignoramos e não mencionamos o emergente mercado de streaming de música que culminou em 2015. Pedimos desculpas por isso =)
Segundo alguns estudos, o americano adulto médio gasta em média quatro horas do seu dia ouvindo alguma coisa. Na verdade algumas coisas, a gama de coisas que ele escuta variam desde rádio até podcasts, música e notícias. Ele escuta enquanto está se exercitando, em momentos de recreação, enquanto executa tarefas caseiras ou fora do horário do trabalho, enquanto trabalha, enquanto está dirigindo para o escritório, etc. e tudo isso representa um enorme mercado no mundo digital.
O mais curioso é que os players que estão melhores posicionados nesse contexto vieram lentamente e calmamente construindo as suas bases de usuários e de repente dominaram 1/4 do seu tempo acordado.
O primeiro ganhador em streaming é (supreendentemente ou não) o Youtube. É extremamente comum pessoas procurarem o Youtube na hora de ouvir música. E isso não vem sem precedentes, afinal podemos considerar uma releitura do que é a MTV para o consumo de música. A tendência para 2016 é o Youtube se apropriar cada vez mais desse tipo de consumo por meio de unbundling, como por exemplo o lançamento do Youtube Music no final de 2015. Em segundo lugar temos Pandora, seguido pelo Spotify.
O modelo de negócio dos três é inerentemente diferente: Pandora faturou US$ 730 milhões em anúncios e apenas US$ 190 milhões em assinaturas do seu serviço, enquanto o Spotify fez US$ 100 milhões em anúncios e US$ 1,3 bilhões em assinaturas.
Esse mercado está tão florescente que a Apple viu o seu modelo de compra de músicas (iTunes) ser canibalizado por um no qual o usuário não necessariamente é dono da sua biblioteca de música, mas a consome quando quer. O Apple Music chega ao final de 2015 com aproximadamente 15 milhões de assinantes e uma abordagem diferente para o problema de música online.
Quantidade de música não é mais o problema…
Enquanto há algum tempo o acervo das músicas disponíveis em um serviço era um diferencial enorme, hoje em dia ser dono de 35 milhões de cópias digitais de música de diversos artistas já não é mais tão caro. Isso move a relação de domínio da quantidade para quesitos como descoberta de novos artistas e músicas, conteúdo original e único e o aspecto social do mundo da música.
Sobre descoberta, Apple Music e Spotify abordam o problema de pontos de vista fundamentalmente diferentes. Enquanto um aposta em algoritmos para identificar quais músicas tocar em seguida, a Apple apostou em curadoria, chamando um dream team da música para construir as suas playlists e apresentarem programas de rádio, a Beats1 do Dr. Dre.
O aspecto de curadoria e programas de rádio online dentro dos seus aplicativos mobile resolve um dos aspectos de descoberta, mas ainda existe o fator de originalidade e novidade associado à boa música. Nesse ponto, o Youtube e seus canais de amadores querendo um espaço ao sol ou o Soundcloud como plataforma para criadores de música ainda se destacam.
A próxima milha a ser percorrida em 2016 vai ser a criação de formas mais sociais de ouvir e compartilhar música. Os principais players online ainda fazem com que a experiência de ouvir seja compartimentalizada e inerente a uma relação de 1 para 1 entre quem escuta e quem bota a música para tocar. Provavelmente vamos ver players do mercado de redes sociais entrando nesse mercado para abocanhar uma fatia, talvez algo na linha do que o Soundcloud ou o @Connect do Apple Music já vêm tentando fazer.
Ainda no mercado de áudio e streaming, é bem provável que veremos em 2016 a consolidação de players no mercado de podcasts, bem nichados em conteúdos especificos, audiobooks e potencialmente uma volta da narrativa de jogos de esportes populares, como futebol, basquete ou baseball. Todos esses segmentos ainda são muito mal explorados pelos players que possuem predominância em 2015.
Financial goes tech
Em 2016 vamos ver cada vez mais, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, o posicionamento de empresas de tecnologia tentando obter espaço no mercado financeiro. No Brasil essa tendência já começou com empresas como o Nubank, Banco Original e Guia Bolso. Ela ocorre ao mesmo tempo em que, por exemplo, o Banco do Brasil está próximo a atingir a marca de 1 bilhão de transações por mês pelo seu aplicativo mobile.
E isso não é novidade para os bancos. Para um dos principais diretores do Itaú Unibanco, a empresa hoje está mais obcecada por algoritmos do que em expandir sua rede de agências físicas, e isso tem se concretizado em iniciativas como os aplicativos mobile de pessoa física e pessoa jurídica e as experimentações com novas formas de transacionar e lidar com dinheiro no mundo mobile, como o Tokpag, Pagcontas, Itaúcard ou o Itaú Corretora.
O Bradesco e o Banco do Brasil também estão de olho no mercado. Ambos lançaram, por exemplo, aplicativos para Apple Watch, e praticamente todos os players estão envolvidos de um jeito ou de outro em incubadoras digitais (InovaBRA e Cubo).
De qualquer forma vamos ver em 2016 uma luta acirrada entre os players desse mercado, e eles devem procurar novas formas de gerar valor para seus acionistas e seus clientes no mundo digital, especificamente no mobile, repensando o mercado de empréstimos, por exemplo. No entanto, a capacidade de inovação nesse mercado está diretamente relacionada à capacidade dessas grandes corporações de se reinventarem para o século 21, oferecendo formas fáceis, modernas e seguras de integração (ou mashups) com os seus sistemas.
O mesmo movimento está acontecendo no resto do mundo, com grandes instituições financeiras se aproximando cada vez mais do mercado de tecnologia. Os gigantes da tecnologia também estão se movimentando em direção a esse mercado: Google e Apple (e outras menos ortodoxas) possuem produtos nessa linha e é provável que já tenham os dados do seu cartão mais recente. Outras empresas como a Square também estão com bastante alavancagem no mercado.
No Brasil, a disputa fica fragmentada entre diversos players da cadeia de valor, passando por Pagseguro, Cielo, Braspag, Pagar.me ou a estreante Carteira Digital, da Rede Card.
Ainda vale dizer que em 2016 vamos continuar vendo o processo de unbundling de alguns pedaços do setor financeiro e uma movimentação dos players já estabelecidos para garantirem a sua hegemonia no setor. Vai ganhar a briga quem for melhor em execução de produto digital. Também é importante ficarmos de olho na adoção de iniciativas como Bitcoin e Blockchain, das quais provavelmente o Reino Unido (e consequentemente seus bancos) será pioneiro. Não veremos muita movimentação nesse sentido no Brasil ainda, mas com certeza iniciativas desse tipo chegarão em breve por aqui.
Wearables (ou smartwatches?) em 2016
No ano passado discutimos um pouco sobre smartwatches e ressaltamos que o sucesso dos gadgets dependia muito dos casos de uso que os desenvolvedores pensariam para eles. Embora essa premissa ainda seja válida em 2016, veremos adoção dos smartwatches por causa de casos de usos e públicos-alvo relativamente diferentes entre si, mas correlacionados.
Smartwatches para o trabalhador conectado (urban smart)
Se você recebe mais de 20 e-mails direcionados diretamente para você por semana (SPAM ou mail marketing não contam), se você faz uso ativo da sua agenda de compromissos e se você é constantemente bombardeado com notificações ao longo do seu dia, um smartwatch é um dispositivo muito útil para você. Veremos em 2016 a adoção de smartwatches por pessoas que atendem a esse perfil. O mercado provavelmente vai ficar dividido entre Moto 360 (e possíveis novos lançamentos do mesmo) e o Apple Watch, mas não podemos esquecer de players como a Tag Heuer e a HTC, que também vão entrar nesse mercado no ano que vem. Com mais mercado no Brasil e no mundo, mais os desenvolvedores vão se sentir estimulados a construir soluções e o próprio sistema se retroalimentará.
Smartwatches para os geeks
Se você se interessa por novidades no mundo de tecnologia e adora os lançamentos dos gigantes como Apple, Google e outros, então a tendência é que você irá pelo menos testar algum dispositivo do tipo em 2016. Com a entrada de novos modelos os preços tendem a cair e isso diminui a fricção para entrada de novos consumidores nesse mercado. Ambos os perfis servirão como agentes catalizadores na adoção desse tipo de dispositivo.
E o povo fitness?
A tendência de experimentação com novos dispositivos para tracking de suas atividades físicas vai continuar no Brasil, ainda mais com a diminuição natural dos preços e o mercado (não tão grande) de pessoas que fazem atividades físicas constantemente e que se preocupam com sua saúde. No entanto, é mais provável que esse mercado seja “engolido” pelo mercado de smartwatches (devido a sua capacidade superior de gerar valor para os usuários).
A luta em 2016 será por seu pulso (em parte por smartwatches e em parte por wrist bands e wearables do tipo) e nela vão pesar fatores como tempo de bateria (por exemplo, ter que retirar para dormir e impossibilidade de manter track do seu sono com alguns smartwatches), preço (fitbands são mais baratas do que smartwatches com mais funcionalidades) e o propósito específico desse tipo de dispositivos. Por isso nós não podemos ignorar players como o FitBit e seu posicionamento, ainda mais após a abertura de capital na bolsa. No entanto, o vencedor será quem resolver o problema de execução, condição social desse tipo de dispositivo e integração com outras partes da vida do usuário.
Notifications! Notifications! Notifications!
Se você já usou um smartwatch já sentiu o potencial que eles permitem ao interagirmos com notificações. Ajudando na habilidade de nos mantermos focados no mundo real, a interação com notificações se mostrou o principal caso de uso de dispositivos como esses. No próximo ano, veremos uma evolução dessa feature, seguindo as possibilidades permitidas pela evolução dos sistemas operacionais.
Sendo notificado sobre o gol do seu time favorito no seu Apple Watch
Respondendo a uma notificação do Whatsapp a partir do Apple Watch
E os apps? Como eles ficam em 2016?
No WWDC de 2015 tivemos o privilégio de ter alguns aplicativos desenvolvidos pela Concrete Solutions sendo discretamente mostrados durante algumas apresentações do dia de keynote.
São os aplicativos de times da SporTV, que possuem também um app complementar para Apple Watch.
No entanto, vimos em 2015 e continuaremos vendo em 2016 a construção de aplicativos para os dispositivos. No geral, haverá uma continuação dos players que já estão posicionados, entre eles: Placar UOL, 99Taxis, Uber, Banco do Brasil e Bradesco, VivaReal, Zara, Walgreens e Amazon.
No próximo artigo vamos terminar a série, falando sobre os segmentos de notícias, varejo, carros e educação. Tem alguma dúvida, discorda de algo ou quer deixar um comentário? Aproveite os campos abaixo! Até lá.