2015 chegou ao fim comprovando muito do que tínhamos previsto para o mercado mobile. Agora chegou a hora de pensarmos em 2016 e para isso vamos iniciar hoje uma série de três artigos com as nossas principais ideias sobre o que deve vir por aí.
Já de pronto, o que podemos observar é que os principais players que têm a capacidade de moldar a nossa experiência mobile não mudaram tanto de 2014 para 2015. Nominalmente ainda estamos falando sobre Google, Apple, Facebook, Samsung, Microsoft, Nokia, Motorola, Xiaomi e Amazon. No entanto, o cenário e a dinâmica do mundo mobile mudou um pouco em 2015, e devido a isso, fez sentido separarmos esses players em níveis:
- Camada de infraestrutura;
- Camada de hardware e dispositivos;
- Camada de sistemas operacionais e app stores;
- Camada de aplicação e serviços.
Dessa forma, a discussão fica menos generalizada e será muito mais simples visualizar quem, onde, como e o porquê das movimentações mobile.
1. Players na camada de infraestrutura
No mundo…
Chegamos ao fim de 2015 com aproximadamente 2.5 bilhões de pessoas no mundo dentro da Internet. Isso necessariamente implica em descobrirmos novas formas de levar a possibilidade de acesso à Internet de qualidade (tanto em velocidade, quanto em estabilidade) para todas essas pessoas.
Em 2015 começamos a ver uma movimentação muito clara de alguns players em direção à infraestrutura, essencialmente entrando no mercado de MVNO’s (Mobile Virtual Network Operator), como o Project FI. Simplificando o tema, MVNO’s são operadoras construídas em cima da infraestrutura de outras operadoras, como por exemplo a Sprint ou a T-Mobile nos EUA. O tema em geral passa por reinventar e disruptar a forma como as pessoas têm acesso ao mundo online, e iniciativas como a do Google ou o The People’s Operator, por exemplo, demonstram como é possível capitalizar em cima da infraestrutura já existente das operadoras e atingir mercados que, em última instância, seriam mais difíceis.
Outra tendência que vamos ver em neste ano são iniciativas para tornar a experiência da web no mobile mais rápida e fluida. Isso passa por novidades como o Accelerated Mobile Pages do Google, a indexação (e não indexação) de páginas que não são mobile-friendly nos resultados de busca do Google, Google Maps funcionando offline e algumas artimanhas do Google para carregar as páginas mais rápido, entre outras.
No entanto, ficou evidente em 2015 que grande parte da lentidão que experimentamos em diversos sites ao navegar na web em um smartphone vem da má utilização dos anúncios nesses sites. Quando somamos a péssima experiência que obtemos em algumas navegações, como as iniciativas da Apple para bloqueio de anúncios e Facebook Instant Articles, nós chegamos a um cenário desafiador para empresas que dependem unicamente de anúncios como forma de receita de seus produtos.
No Brasil…
Vemos cada vez mais fusões e parcerias no mercado de infraestrutura. A NET e a Claro vêm tentando ofertar algo mais unificado do ponto de vista de conectividade para os seus clientes: você assina a NET e leva junto a internet, telefone fixo, e diversas vantagens no mundo mobile oferecidas pela Claro. O mesmo movimento é feito pelas grandes, como a Vivo, TIM e Oi. Talvez em um caminho ao contrário dos MVNO’s, estamos observando o movimento de bundling de serviços em um único ponto, ou seja, algo que antes era comprado separado, agora forma uma compra composta. Com isso, os preços e margens diminuem devido à falta de diferenciação e geração de valor.
As oportunidades e movimentações mais explícitas que veremos em 2016 no Brasil estão atreladas a serviços oferecidos de forma complementar à conectividade de TV, telefone, celular e Internet. A iniciativa tardia da Vivo para entrar no mercado de messaging é um exemplo disso. Do lado da NET e outros players de T, vemos algumas iniciativas de serviços como NOW – mas vamos falar sobre isso mais para a frente.
2. Players na camada de hardware e dispositivos
No mundo…
A Apple sistematicamente produz bons números de vendas do iPhone (impulsionados primeiramente pela China), mas vai enfrentar dois grandes desafios em 2016: continuar sustentando a venda dos Apple Watches, que já figura como o smartwatch mais vendido no mundo (3,6 milhões de dispositivos no segundo trimestre de 2015) e alimentar a iniciativa do (caríssimo) iPad Pro. Como os números de vendas do iPad e de tablets em geral não continuaram subindo como esperado nos mercados mais relevantes, a ideia agora é entrar com tudo no mercado de produtividade.
Quem se lembra do Steve Jobs apresentando o iPad sentado em um sofá, mostrando o uso “relaxado em casa” e o potencial de segunda tela?
Pois é. Essa visão agora vai ser substituída por um iPad muito mais potente e disponível para uso como ferramenta de produtividade.
A ideia é se posicionar no mercado de produtividade e possivelmente juntar o laptop com o tablet em uma iniciativa só. Existem outros players muito bem posicionados nessa arena, entre eles a Dell e a Amazon Workspaces. Se você somar essas iniciativas com o posicionamento de infraestrutura na nuvem com características híbridas, fica claro que a briga no mundo do hardware e dispositivos passa por ocupar os espaços de produtividade (em casa ou no escritório) e oferecer capacidade de processamento de forma rápida e barata por meio de IaaS (Infrastructure as a Service).
Um avanço em potencial para 2016 está na capacidade de não desperdiçar a bateria e usá-la de forma inteligente. Os avanços aqui serão relacionados tanto na camada de hardware, quanto na de software – ambos cruciais para melhorar a experiência do usuário e o potencial de uso dos dispositivos. Afinal, sem uma bateria que dure, a geração de valor de um produto fica incompleta.
Outro tipo de hardware que vai aparecer no radar em 2016 são os óculos de realidade aumentada ou realidade virtual. Cada player no mercado possui a sua versão: Facebook com o Oculus Rift, que tem o seu lançamento previsto para o primeiro trimestre de deste ano; Microsoft com o HoloLens; e Sony em uma linha focada no Playstation ou o Magic Leap (apesar das críticas). Em 2016, vamos poder observar a reação do mercado para esses tipos de dispositivos e como eles construirão um ecossistema de desenvolvedores e usuários em cima desse tipo de gadget. As aplicações práticas são muitas, e desde a década de 90 o mercado de tecnologia tenta algo nessa linha. Vai acertar quem conseguir integrar hardware e software de forma não intrusiva à vida do usuário.
No Brasil…
Voltando para o tema de smartphones, vemos um ano em que a Motorola consegue se posicionar com algumas linhas de aparelhos de qualidade para o mundo Android (Moto E, Moto G, Moto X e Moto Maxx), e com uma boa capilaridade de produtos, como o Moto 360. A Samsung continua com a sua hegemonia ameaçada por novos entrantes no mercado de smartphones. E é importante entender as consequências de iniciativas como o Android One e como isso vai moldar a forma como o mundo que ainda está fora da Internet se relacionará com ela.
Apesar de já ter entrado no Brasil, a Xiaomi ainda parece estar tendo algumas dificuldades para adequar a sua estratégia de go-to-market para os novos mercados (Índia e Brasil). No entanto, a sua oferta complementar e a forma diferente de abordar o ecossistema Android pode ser um diferencial no futuro. Poderíamos fazer a mesma análise para Nokia: conforme a geração de valor vai subindo a pilha de tecnologia, sobra cada vez menos margem nas camadas inferiores. Um exemplo disso é o posicionamento da Nokia em lançar aparelhos rodando Android para este ano.
3. Players na camada de sistemas operacionais e app stores
Chegamos ao final de 2015 com a consolidação de dois sistemas operacionais que vão impulsionar o mundo dos smartphones: o Android, que chegao ao final de 2015 com 1.4B de usuários ativos no mês, e o iOS. Ambos concentram aproximadamente 85% do mercado mobile no mundo, e em 2016 vão ditar as novidades e possibilidades para os nossos celulares.
A Apple começou no ano passado uma abordagem de fragmentação do seu sistema operacional, apesar da base provavelmente ser a mesma. Para ser mais específico, falo de seus diversos dispositivos, como WatchOS e tvOS. Essa tendência também acontece (com algumas ressalvas) no Android, que está avançando as iniciativas do Android Wear ou Brillo. A força dessas iniciativas vai ser sentida em este ano e possivelmente vai forçar as empresas a se aproximarem cada vez mais da camada do sistema operacional para garantir o lugar estratégico de seus produtos no futuro.
O terceiro grande player que precisamos discutir é a web. A tendência para 2016 é que a linha divisória entre o mundo nativo, dos apps e o mundo web seja cada vez mais ofuscada. Os principais players posicionados nesse sentido são os navegadores que dominam a presença online, começando pelo Chrome, do Google. Mais importante do que o navegador em si, talvez seja a webview, componente que permite a renderização de conteúdo web em diversas partes do mundo (nominalmente aplicativos). Fica o desafio de como os sistema operacionais vão incorporar esse conteúdo de forma não intrusiva na sua navegação.
O Windows Phone, por sua vez, começou 2015 de forma muito promissora e tem aparecido sistematicamente de forma expressiva nos dados de uso de diversos produtos que temos a oportunidade de desenvolver na Concrete Solutions. O sucesso do sistema operacional vai depender do posicionamento claro da Nokia em 2016 e, possivelmente, de outros players. É evidente que existe mercado, mas ainda precisamos atender melhor o usuário do Windows Phone, produzindo aplicativos de impacto e considerando esse sistema operacional na estratégia mobile.
Por fim, vale a pena ficarmos de olho em iniciativas como o Cyanogen. Em um cenário em que a camada de sistema operacional está cada vez mais estabilizada, se adicionarmos a possibilidade de customizá-la, temos um estágio cambriano para novos tipos de soluções no mundo mobile.
As app stores
Vamos falar agora de gatekeepers. Em 2015, à primeira vista tivemos movimentações um tanto tímidas no âmbito das app stores. Os principais players continuam sendo a App Store, da Apple, e o Google Play. No entanto, por debaixo do radar, vemos que diversos players estão tentando entrar nesse mercado. Seja por meio da Amazon Underground ou do processo de bundling dos aplicativos de mensagens instantâneas, essa hegemonia está sendo questionada.
Em 2016 vamos ver o Google aprofundar sua iniciativa de obter receita a partir do Google Play, com anúncios, venda direta de apps, filmes, músicas e outros ou por meio de mecanismos de in-app purchase. E não só o Google. Sem dúvidas a Apple também tende a capitalizar em cima do ecossistema que construiu ao longo dos anos. É importante ressaltar o vácuo no poder do Google Play na China e os recentes posicionamentos do Google para mitigar isso.
4. Players na camada de aplicações e serviços
No mundo…
É aqui que o bicho vai pegar neste ano. Cada vez mais vemos a cristalização de aplicativos que efetivamente conseguem se tornar negócios de alguns bilhões de dólares. Vamos fazer uma análise mais aprofundada de cada segmento de mercado, no entanto os principais players nessa camada são (sem uma ordem específica): Google (e Youtube, Waze, Maps etc.), Facebook (e Whatsapp, Messenger, Instagram etc.), Pandora, Spotify, WeChat, Snapchat, Netflix, Amazon, Twitter e Uber.
Neste contexto, o gráfico abaixo traz um ponto importante a ser considerado:
A Nasdaq atingiu nos últimos anos o mesmo patamar que havia atingido na época da bolha pontocom. No entanto, o cenário agora é infinitamente melhor e mais favorável e o tamanho do mercado de tecnologia é muito maior do que em 2000 (graças aos smartphones, por exemplo). Então, o cenário apocalíptico do passado não deve acontecer, mas veremos em 2016 o início da reformulação dos unicórnios. Os investidores estarão tentando ativamente obter retorno pelos seus investimentos dos últimos cinco anos e quem não abrir capital vai ter que depender cada vez mais de formas sustentáveis de crescimento e obtenção de receita. É provável que o moto de crescimento eterno seja substituído por algo mais estrutural e baseado menos em investimento externo e mais em break-even de suas operações.
No Brasil…
Vemos o mercado de aplicativos inicialmente dominados por players que se dividem nas seguintes categorias:
- Mobile commerce: Netshoes, Dafiti, Buscapé, OLX, Magazine Luiza, Walmart, Centauro, Kanui e outros;
- Serviços de táxi: EasyTaxi, 99Taxi e Uber;
- Financial Tech: Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Guia Bolso e Nubank;
- Social & Instant messaging: Facebook, Instagram, Whatsapp e Messenger;
- Imóveis: Viva Real, ZAPImóveis;
- Esportes: SporTV Times, Placar UOL e Cartola;
- Notícias, vídeos e mídia: Globo.com, UOL Noticias, Globosat Play, Globo Play, FOX Play.
Vamos discutir quase todos esses segmentos em separado nos próximos artigos e analisar como cada um deles impacta o mercado mobile em 2016. No entanto, é importante ressaltar como a maioria deles tenta capturar alguns momentos (ou micro momentos) do seu dia e criar com isso negócios relativamente grandes, garantindo a sua presença no mundo mobile no Brasil.
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Até lá!