DevSecOps

13 jul, 2012

Querido chefe, você não precisa mandar demais

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Como em outros artigos, vou falar de música e lembranças de tempos passados. Em minha adolescência e início da juventude, eu tocava alguns instrumentos e fazia a regulagem do som (volume e tonalidade) nas reuniões da igreja.

Para podermos ir direto ao assunto, apenas resumo que, em quase todas as ocasiões em que estava fazendo a parte técnica, a que me competia regular o som, era necessário principalmente para os microfones fazer algum ajuste nos graves, médios e agudos para que o som ficasse bom, audível ao máximo e, principalmente, sem excessos/ imperfeições na voz em determinadas faixas de frequência que fizessem com que os alto falantes da igreja saturassem, atingissem o seu limite e assim gerassem uma distorção do som.

Mas havia uma pessoa em especial, que era diferente das outras: a voz dela simplesmente não precisava de retoques. Era só entregar o microfone na mão dela e aumentar o volume do canal ao qual o microfone estava conectado que já estava tudo pronto. Por mais que você tentasse realizar ajustes na tonalidade percebia que, na verdade, ao mexer nos controles acabaria por danificar a qualidade do som da voz dela. Ou seja: a voz dela era excelente já ao natural, ela era boa cantora de nascimento.

Claro, no grupo também existiam pessoas que não tinham um talento natural e não executavam seu ‘trabalho’ de forma tão natural; mas ainda sim eram importantes na composição do conjunto do grupo.

Às vezes saiam algumas farpas entre um componnente e outro, mas a pessoa que citei primeiramente nunca estava envolvida. Falsidade do grupo? Não… Primeiro porque ela era uma boa pessoa e humilde por natureza; segundo porque todos tínhamos ciência da importância daquele membro para o grupo exercer o seu melhor e, por isso, nunca dávamos chance para que ficasse um disse-me-disse, um desentendimento com ela. Deixávamos sempre tudo às claras e jamais exigíamos que a mesma fizesse algo de um jeito da qual era realmente contra. Ninguém queria perdê-la.

Mas qual é a lição dessa história?

Três coisas:

  1. Que há pessoas que já são boas no que fazem por natureza;
  2. Gerentes, superiores ou técnicos ligados à esta pessoa precisam aprender a lidar com isto;
  3. Mesmo que a pessoa não seja simplesmente ‘O CARA’ da área em que atua, a empresa e seus vários gestores devem entender que NÃO É NECESSÁRIO impor sempre e em tudo um estilo de fazer as coisas.

Se um subordinado do gerente X fez um determinado procedimento, executou determinada ação ou simplesmente escreveu umas linhas de código de forma diferente do que este gerente faria, não é por causa disto que o trabalho necessita ser refeito. Claro, desde que o resultado final fosse o mesmo.

Aliás, convenhamos, se um gerente quer que as coisas sejam feitas exatamente do jeito que ele faria, sem nada diferente, trago para ele uma má notícia: será necessário que você mesmo execute o trabalho.

Precisamos entender que funcionários trazem velocidades de execução, experiências, estudos, treinamentos, práticas e, principalmente (na minha opinião), personalidades diferentes. E dificilmente algumas destas características baterá com as suas.

Há limites para esta compreensão, sem dúvida: o funcionário precisa seguir determinadas regras da empresa. É necessário que ele entenda que ela exige uma burocracia boa para que as coisas fluam como deveriam.

Mesmo porque uma empresa em que todos fizessem o que bem entendessem, e da forma como quisessem, não seria uma empresa: seria na verdade uma associação anárquica de pessoas que buscam (em vão?) cumprir uma tarefa para alguém (fosse este alguém uma pessoa de seu próprio grupo ou o cliente).

Apenas devemos ter a consciência de que se impormos coisas demais aos nossos funcionários, eles podem se sentir podados, pressionados a fazer da forma que não gostariam, não valorizados em sua criatividade e individualidade e, com o tempo, eles podem se cansar das imposições e deixar de fazer parte do seu time. E neste caso quem sairia perdendo mais? É óbvio em que há situações em que meu pensamento não vale, mas, francamente, acho que seria a empresa. Baseando-se em custos de realocação e contratação de funcionários, considerando, inclusive, curvas de aprendizagem de alguma tecnologia ou conceitos de negócio.