Carreira Dev

26 dez, 2011

E se você ganhasse na loteria?

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No momento em que escrevo este artigo encontro-me em casa, curtindo as minhas merecidas férias. Por quê te informo disto? Simples, às vezes em nossos momentos de parada e de descanso, é que temos tempo de refletir mais sobre a vida e sobre o que fazemos.

E foi num destes momentos de reflexão que fui apanhado por uma antiga conversa que tive há coisa de três ou quatro anos com alguns grandes companheiros de empresa e, em especial, com um grande amigo e combatente.

A conversa era sobre o que faríamos se ganhássemos uma grande quantia de dinheiro na loteria ou qualquer outra origem não planejada (poderia ser uma herança de um tio distante). E entre os sonhos estavam os desejos comuns: de comprar uma casa ou um apartamento em determinado lugar, de ter um carro ‘x’, de montar um mega-computador com um monitor gigante apenas para jogar (e poder gritar com mais emoção “For The Alliance!”), e, claro, contratar um link considerável de internet que servisse apenas para o nosso bel prazer (nosso sonho da época era ter uns 10Mbps, mas substitua para o que hoje representa um link de 100Mbps).

Todavia, havia um ponto que chamava a atenção mais que todos os outros, rendendo boas trocas de ideias e que dizia respeito à vida profissional: a maioria das pessoas para as quais fazíamos o questionamento dizia sempre que, mesmo ganhando uma bolada (e aqui desculpe-me o Big Brother Brasil como origem do dinheiro, mas quando dizíamos bolada queremos dizer mais de um milhão e meio de reais), não pararia de trabalhar, mas mudaria de ramo abrindo seu próprio negócio (uma livraria, um restaurante, uma revenda de carros, uma boate, etc.), e passaria a fazer apenas o que ‘desse na telha’, desenvolvendo apenas quando, o que e para quem quisesse.

Dificilmente aparecia uma pessoa que dizia que, tendo recebido a tal quantia, usaria parte do dinheiro para investir na própria empresa em que se encontrava hoje. E eu não estou falando da velha piada que diz que ’se a pessoa ganhasse um bom dinheiro compraria a empresa atual só para mandar o atual dono, o chefe, embora’. Mesmo!

Me refiro a realmente investir na empresa, virar um sócio (talvez majoritário), comprá-la mantendo o atual dono dentro do quadro com outra função (ou com a mesma, já que nem todos tem o tino certo para a administração), financiar o desenvolvimento de novos produtos ou novas versões de produtos já existentes. Até porque todos nós temos idéias de como fazer nossas criações serem melhores se ‘apenas’ tivéssemos um pouco mais de dinheiro.

E a pergunta que eu faço é: por que estas pessoas sairiam de suas empresas?

Acredite se quiser, penso que o que definiria esta saída não seria o ganho financeiro em detrimento do anterior salário. Alguns de nós ganham pouco, muitos ganham na faixa da média do que é pago pelo mercado (que é pouco também, eu sei) e pouquíssimos ganham muito bem e, mesmo nesta última categoria, as pessoas largariam a empresa atual.

O fato é que poucas empresas motivam o funcionário a QUERER continuar nela. Muitas vezes somos chamados a apenas fazer aquilo para o qual recebemos nosso salário e, tendo recebido nosso salário, devemos ficar quietos. Mas fica, vai ter bolo! Quer dizer, vai ter mais trabalho e no outro mês mais um salário para você.

Por exemplo, às vezes somos chamados a fazer hora extra, pra trabalhar no sábado e no domingo. Já vi e fiquei sabendo de muitos casos em que quando (e se) o patrão aparece nem um ‘Bom Dia’ o funcionário recebe. Passamos o dia inteiro ao lado dele fazendo o que precisa ser feito e, no final do dia, dizemos ‘Falou, estou indo porque tenho compromisso inadiável com minha família agora’. E são grandes as chances de, ao contrário, de escutarmos dele ‘Muito Obrigado! Valeu por você ter vindo!’, de ouvirmos um ‘Ok, vou continuar nisso aqui até segunda-feira’ e isto, aliás, QUANDO escutamos algo e não somos ignorados em nossa despedida.

Você acha emotivo demais esperar que o patrão/chefe agradeça por você ter feito a hora extra, se ele já te pagará por ela? É, meu amigo… reveja seus conceitos! Por mais alto que seja o valor recebido pela sua hora extra ele nunca terá realmente compensado uma eventual perda de momentos de vida que você teve. E este colaborador que não se sentiu compensado não continuaria e não investiria na empresa.

As empresas deveriam também primar por um ambiente amigável. Saber escolher quem participará de seu time é um ponto crucial. Às vezes a melhor pessoa tecnicamente não é a melhor pessoa para se juntar à sua equipe. Os colaboradores não precisam ser amigos de infância, mas posto que passarão 8 horas diárias juntas é preciso haver um mínimo de afinidade. Por isso é preciso também saber retirar rapidamente um membro que não se encaixou no perfil do time para não desanimar os outros componentes . E este componente desanimado não continuaria e não investiria na empresa.

Outro ponto importante é o fato de as companhias não ouvirem seus funcionários. Muitas não os estimulam a participar de decisões, ou são totalmente podados no que diz respeito a novas ideias a serem construídas, às vezes até com excesso de autoridade pelos seus superiores. E esta árvore podada do jardim não continuaria e não investiria na empresa.

Pequenas coisas, tal como uma reunião semanal de alinhamento, com todos da empresa de uma só vez ou setorizadas, caso não seja possível a junção de todos sob um mesmo espaço, sobre TODAS as coisas que estão sendo desenvolvidas no momento ajudam o funcionário a conhecer melhor a empresa, aquilo que está sendo feito e se sentir mais como um membro de uma família do que uma mera força de trabalho. E esta pessoa continuaria e investiria na empresa.

Momentos de descontração, tal como festas de fim de ano ou pequenas comemorações de aniversariantes do mês também unem mais o time. E especificar alguns minutos do dia para um lanche, ainda que rápido, além de promover o arejamento da cabeça permite o encontro de pessoas de diferentes setores da empresa para, pelo menos por um instante, trocarem idéia sobre o que estão fazendo. E estas pessoas se sentiriam integradas e continuariam e investiriam na empresa.

De toda forma, é essencial fazer com que o colaborador se sinta mais um membro integrante do organismo que é a empresa do que um corpo estranho, que entrou em um lugar sem saber direito a que veio, cumpriu sua tarefa determinada e, na primeira oportunidade, sairá de onde se encontra para tentar algo melhor.

E vale lembrar duas coisas: primeiramente que caso o colaborador saia da empresa quem mais perde é a empresa, que terá de preparar outra pessoa para ficar no lugar dele. E em segundo lugar, o mais importante, que pode até ser que seu funcionário não jogue e não ganhe na loteria, mas mesmo assim um dia ele pode deixar a sua empresa, mesmo indo para um lugar em que receberá menos pelo seu trabalho, porque lá se sentirá mais valorizado.