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22 ago, 2011

Qual é o papel da mídia?

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“A felicidade bestializa: só o sofrimento humaniza as pessoas” – Mário Quintana – da coleção de frases.

A mídia tem tripla função na sociedade.

  • É uma empresa como outra qualquer: visa ao lucro;
  • Tem a função oficial de gerar informação/comunicação;
  • E nas entrelinhas criar ilusão social de que tudo está bom e pode
    ficar do jeito que está. É uma apaziguadora de ânimos, coloca panos
    quentes nos conflitos.

A mídia é e sempre será aliada do poder de plantão.

Sem controle da mídia não há poder e vice-versa.

E sem poder não há sociedade.

Bem-vind@ à humanidade com suas celas e limites!!!

Ou seja, a liberdade de imprensa, de opinião existe, desde que trabalhe dentro de algumas fronteiras.

Não é algo malévolo, mas regulador social.

Obviamente, que há poderes e poderes, mídias e mídias.

Veja, por exemplo, a postura da mídia americana em relação à Guerra
do Iraque pró-Bush, nacionalista e patriota. E superficial ao apontar a
raiz das seguidas crises financeiras.

É uma liberdade de imprensa dentro de determinado jardim.

Esse processo, entretanto, é algo que tende a gerar decadência, pois
vai evitando que determinadas mudanças necessárias ocorram na sociedade.
Criam latências que vão se acumulando e resultam em:

  • De forma mais comum, revoltas, tumultos, alternâncias fortes de
    grupos de poder (que impactam de alguma forma na mídia, por ajustes
    menores);
  • Quando o sofrimento geral passa de determinado limite (vide revoluções sociais, que criam outros veículos);
  • Quando a população cresce e exige uma mudança radical na sociedade
    (vide revoluções cognitivas, que criam outra forma de controlar a
    informação, de forma mais descentralizada – vide passagem do papel
    manuscrito para o impresso).

Ou seja, não há mídia que não esteja afinada com a estrutura de poder.

Se não está, ou o poder vai construir uma nova mídia (vide Chavez na Venezuela) ou vai cair.

Não tem como.

Faz parte das sociedades humanas.

Porém, como disse o Castells, onde há poder há resistência.

O poder cria uma ilusão e quem está na resistência tentar criar uma
anti-ilusão, que tem contida nela uma nova, já que na vida adotamos a
ilusão que mais nos convém em dada circunstância econômica, que se
reflete no político-social.

Somos a ilusão que viabiliza nossa sobrevivência,
diante de uma dada conjuntura de relação de poder dos diversos
interesses sociais e a capacidade de articulação de quem está satisfeito
ou insatisfeito com o status quo.

Diante disso, não me surpreende alguns pontos dos Princípios editoriais das organizações Globo (pdf), publicado há poucos dias, que considerei um dos textos mais importantes do ano, pois:

a) a Globo é um dos principais veículos do país;

b) tem tido iniciativas com as redes sociais (vide jornalismo participativo);

c) o texto aponta perspectivas sobre informação, comunicação e relacionamento com leitores;

d) aborda o mundo digital;

e) e revela como (tenta) pensar o futuro o principal grupo de comunicação do país.

Conhecê-lo, analisá-lo, ver os pontos eficazes e pouco eficazes sobre
a visão do futuro que chega é algo fundamental e importante para quem
está atuando nessa área.

No documento no último parágrafo, depois de muito texto, tem algo que assume essa função criadora da ilusão, lá diz:

“Entendemos mídia como instrumento de uma organização social que viabilize a felicidade”.

Ou seja, o critério final para se saber se os veículos da Globo estão cumprindo o seu papel é se estão viabilizando a felicidade!

Criando a ilusão, já que a felicidade é um estado de espírito,
seguido de momentos de tristeza, que uma sem a outra não existe, assim
como precisamos conhecer a depressão para saber o que é a euforia e
vice-versa.

A procura da felicidade é um conceito altamente lucrativo e
interessante de uma sociedade de consumo, que vende de tudo para que
você não fique triste, inclusive remédios tarja pretas.

É coerente ainda com o status quo da nossa atual sociedade centrada na força do indivíduo (egoísmo) em detrimento ao coletivo.

O que, na verdade, é o movimento contrário que o atual movimento que
surge na rede procura contrapor: projetos coletivos para equilibrar o
poder atual dos indivíduos.

O documento como um todo levanta questões muitos interessantes para o
debate, pois já mostra a influência da internet em vários momentos,
porém, ao se ler em detalhe, tudo acaba na mão de alguém regulando todo
o fluxo.

Ou seja, a visão, como não poderia deixar de ser, é a manutenção
dessa sociedade com o modelo informacional de controle que conhecemos,
com algum leve verniz de modernidade.

Há uma pretensa ode à participação, mas o modelo central é o do
controle final por um editor (mais experiente e mais maduro),
independentemente da demanda dos clientes (leitores, telespectadores e
ouvintes).

No modelo secular da comunicação vertical. Pouco se sente a brisa da participação coletiva nos rumos da imprensa.

Não chegou a tanto, nem se esperava que chegasse.

É um documento em que se vê claramente a atual briga da aranha com a estrela do mar.

Vai ser, aliás, o tema do meu próximo Nepô ao Vivo.

(Não perca!)

Vou arrumar algumas coisas nessas ideias, a partir de um papo maior, por e-mail,  com o @augustodefranco.

Vou detalhar:

As revoluções cognitivas e as mudanças das topologias das redes.

(Que vai sair na segunda.)

Adianto o seguinte:

  • Apesar de as mídias terem o papel de reguladora social, através da
    construção de uma ilusão, isso é um processo em equilíbrio e
    reequilíbrio, que muda conforme a população aumenta radicalmente e ganha
    a alternativa de mídias mais descentralizadas;
  • Que, no caso particular, de uma revolução cognitiva, é fruto de
    um radical aumento populacional, o modelo de criadora de ilusão passado
    perde o sentido, pois procuram-se outros modelos, criando uma alternativa
    à mídia de plantão, que começa a entrar em decadência (vide resultados
    dos últimos anos).
  • E que a nova mídia será muito mais colaborativa do que a atual,
    mantendo um novo tipo de controle muito mais sofisticado que o atual,
    via plataformas, algoritmos e novos “editores de desejos de comunidade”.

Quem não se preparar para esse mundo perderá espaço, pois a sociedade começa a parir as mudanças na qual a mídia será engolfada.

O documento é extenso, mas ignora o fundamental: o momento histórico
da passagem de um ambiente aranha para estrela do mar, de redes
centralizadas com um tipo de controle para mais abertas, com um novo.

Que dizes?