A Internet não vai salvar o mundo – Saramargo!
Segundo o pai (ou seria a mãe?) dos burros 2.0, a Wikipédia, o Iluminismo foi:
Movimento cultural de elite de intelectuais do século XVIII na Europa, que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento prévio.
Os iluministas acreditaram que quanto mais inteligente fôssemos, mais a humanidade avançaria em um processo evolutivo em direção a um mundo melhor. A base dessa crença girou em torno do papel impresso.
Quanto mais livros, melhor.
Já disse que toda teoria que não se mostra eficaz necessita de uma revisão filosófica, pois a filosofia define a potência e a onipotência humana.
Os iluministas acreditavam, por exemplo, que o homem é muito mais razão que emoção. E, quanto mais usassem a razão, melhor seriam.
Não é o que pensa a Lilian, que me escreve motivada pela entrevista que concedi para o Jornal Hoje da TV Globo:
Mais de um ano depois eu me deparo com este post e simplesmente descreve a minha realidade … não consigo viver sem o Facebook, nem longe de qualquer aparelho eletrônico com acesso à internet, já procurei grupos que pudessem me ajudar, sem sucesso, e só tive êxito quando comecei a terapia. Com todas a facilidade do mundo virtual, as pessoas passam mais tempo no computador que com a família Atualmente vivo uma luta diária contra meu desejo do Facebook. Neste exato momento tive uma crise e ao ler o post e os depoimentos vieram à minha memória – tudo que quase perdi por causa do Facebook. Quantos trabalhos da faculdade com nota baixa feitos nas coxas para suprir meu desejo de estar incluída no processo. O emprego que quase perdi. Infelizmente as pessoas não veem como um vício, acham que é irresponsabilidade e imaturidade, assim como eu pensei no início, e pensar que isso começou porque eu queria acompanhar a vida de um paquera pelo facebook… Obrigada por dividirem essas opiniões e experiências comigo… mais uma hora “ciberlimpa”.
Vocês poderão dizer que a Lilian é exceção. Não acho.
É preciso redefinir a base do pensamento iluminista. Eles acreditavam que o ser humano é uma ilha de emoção cercada de razão por todos os lados. Acredito, por experiência própria, que somos uma ilha de razão cercada de emoção por todos os lados.
As tecnologias cognitivas, nas quais se incluem o livro e a Internet, têm um forte poder de melhorar a nossa qualidade funcional de vida.
Foi o livro que permitiu um controle melhor sobre os processos, bem como o computador.
Ou seja, o piloto automático da sociedade se estabelece, a partir dos processos que conseguimos construir. Desse ponto de vista, do piloto automático, podemos dizer que há algum tipo de evolução, com a sociedade criando leis que impedem determinado tipo de abuso contra o ser humano.
Além disso, melhoramos a forma de lidar com os processos, já que somos cada vez mais no mesmo espaço. Se hoje, por exemplo, conseguimos a carteira de motorista em uma semana, e não mais em um ano, que era o tempo que levava quando eu fui tirar a primeira, na década de 1980, devemos muito ao computador.
O mesmo podemos dizer quando acessamos o banco, vamos ao cinema, compramos livros usados, tudo pela rede.
Obrigado, Internet!
Porém, essas facilidades funcionais, que incluímos na vida dos nossos pilotos automáticos, não nos fazem ser pessoas melhores, apenas pessoas mais funcionais, num mundo cada vez mais habitado.
A melhora individual, ou coletiva, é justamente a capacidade que temos de olhar o piloto automático do lado de fora, conhecer o automatismo das nossas neuroses e saber lidar melhor com elas para nos humanizarmos mais, como diz a Lilian, mais uma hora “ciberlimpa”, ou com uma taxa maior de humanidade, já que nosso automatismo nos desumaniza.
Sim, acredito que o espaço de troca entre as pessoas que a Internet permite PODE ajudar nesse auto-conhecimento. Veja bem a caixa alta e o negrito: PODE.
Desde que possamos equilibrar nossas vidas e saber lidar com ela de forma a não nos desumanizarmos emocionalmente, no centro de um discurso racional-humanizante.
Em resumo, a nova ecologia cognitiva que a Internet traz para o mundo, seguindo a pista de Lévy, nos condiciona, mas não nos determina.
O que nos determina, tanto em termos funcionais, práticos e emocionais, subjetivos, um reforçando o outro, é a nossa capacidade de lidar nos dois setores de forma harmônica.
Nem tanto razão, nem tanta emoção.
Equilíbrio.
E isso é um esforço de saber usar a rede com sabedoria, evitando as sua armadilhas, como a que ocorreu com a Lilian de forma mais aguda, mas como acontece conosco todos os dias, quando não conseguimos passar nem dez minutos sem saber se alguém comentou algo sobre nós, ou interessante nas redes sociais.
Por aí, que dizes?