Problemas complexos são dinâmicos e causam visões desconexas, pois têm causa e efeito só percebidos pela reflexão, já que estão longe no tempo e espaço. Não podem ser percebidos, assim, pelos sentidos; têm desdobramentos imprevisíveis e desconhecidos e, por causa disso, suscitam nas pessoas diferentes visões. Não se pode lidar com problemas complexos da mesma forma que fazemos com os simples – o resultado é desastroso!
Temos tido dificuldade de analisar a chegada da Revolução Cognitiva e seus desdobramentos, entre outros problemas complexos da sociedade.
Temos nos mostrado incapazes de analisar um problema complexo, perceber que não é algo simples, destacar pessoas para estudá-lo e tomar medidas para que possamos lidar com ele de forma mais madura e racional.
Não é só nesse aspecto, me parece que a crise do Euro, do mercado financeiro e mesmo ecológica denotam que estamos intoxicados demais com a visão indutiva (principalmente estimulada pelos americanos) e não conseguimos mais sair do pensamento cotidiano.
Problemas complexos pedem parar para pensar.
Vivemos um momento histórico de muita atividade e pouca reflexão.
É a dita sociedade do conhecimento (que rejeito o nome), mas ninguém para para pensar.
Não estamos conseguindo separar o que é simples do que é complexo.
E achamos que vamos resolver algo sofisticado da mesma maneira que o simples.
Não vamos; são duas formas de lidar com o problema: de baixo para cima ou de cima para baixo, com dois perfis distintos de inteligência: associativos (que ajudam a teorizar) e memorialistas (que ajudam a coletar e agregar os fatos).
Perdemos muito tempo com o irrelevante e deixamos de nos dedicar tempo ao que importa.
É um dos desafios do século XXI.
No livro “Como resolver problemas complexos“ – de Ada Kahane, editado pelo Senac, ele diz lá, citando o Peter Senge:
Problemas complexos são dinâmicos, generativos e causam visões desconexas. Ou seja, dinâmicos, pois têm causa e efeito só percebidas pela reflexão, pois estão longe no tempo e espaço. Não podem ser percebidos, assim, pelos sentidos; têm desdobramentos imprevisíveis e desconhecidos e, por causa disso, suscitam nas pessoas diferentes visões. Tais fatos os tornam polarizados e emperrados.
Perfeito!
Isso tudo é a cara da Revolução Cognitiva e o estranhamento que estamos tendo com as redes sociais. Certo?
Os problemas que estamos tendo na sociedade com a chegada da Revolução Cognitiva são:
- a complexidade é anti-natural, as pessoas lidam bem com problemas simples, mas têm cada vez menos tempo para parar para pensar. Nossas escolas ensinam de forma a não juntar lé com cré. A filosofia que é a base para pensarmos como pensamos e nos ajudar a melhorar como pensamos é uma cadeira extinta (mas vai voltar, anotem);
(Veja bom artigo da Tanure aqui, em que toco em alguns desses pontos.)
- vivemos um momento especial: o fim de uma era cognitiva e o início de outra. Nesse fundo do poço de baixa circulação de ideias, temos uma decadência cognitiva, o que nos torna com mais dificuldade de pensar o longo prazo, a despeito do que dizem, a Internet vai nos ajudar a trabalhar de outra maneira mais adiante;
- tal fato nos coloca mais pragmáticos, mais colados à realidade, mais interessados em assuntos do que em problemas, mais memorialistas do que associativos, mais indutivos do que dedutivos, mais pragmáticos e menos filosóficos, mais ligados a coisas que vemos e podemos usar (materiais) do que bens imateriais – o que dificulta uma visão de algo mais amplo, complexo e de longo prazo;
(Note que essas variações são fases de cada um ou de grupos, porém estamos falando de fatores macros, dentro do espírito do estudo da macrocognição.)
- o tema da mudança cognitiva atualmente é tratado (como tantos outros) de forma corriqueira, como um problema simples, relegado na organização a escalões mais operacionais e técnicos, com menos maturidade e/ou poder de decisão.
O principal erro que tal problema tem tido nas organizações é o seguinte: quem tem tomado decisões nessa complexidade é quem não tem tempo e nem o perfil necessário para tal.
Ou seja, temos um problema complexo e estratégico sendo encaminhados para perfis muito táticos e práticos para resolvê-los e isso é o “x” da questão!
Tal desalinhamento tem como consequência:
a) método de tentativa e erro em algo que precisa ser visto mais de cima;
b) custos elevados, além do necessário;
c) crises culturais, falta de medição;
d) abertura de espaço para concorrência;
e) por fim, radical perda de valor competitivo no mercado por falta de visão adequada do cenário.
Podemos dizer que se avalia uma empresa saudável pela capacidade de identificar problemas complexos e dar para eles as cabeças mais associativas e estratégicas, mais de cima, para o estudo e decisão. E pela capacidade de criar espaços de inovação transformadora (dentro ou fora) para experimentar novas formas de produzir ou de gerir.
Nada disso está sendo levado em conta nesse caso em particular!
Isso nos impede de ver melhor os seus contornos.
Problemas complexos, portanto, pedem a história para que possamos ver suas causas, pois elas estão longe.
Por isso, problemas complexos pedem uma visão dedutiva, de cima para baixo, da filosofia e da teoria para os cases e não o contrário.
Não que a visão indutiva (dos cases para as teorias) não seja boa, porém, para problemas complexos são pouco eficientes!
Temos um mega problema de cenário e quem está se debruçando sobre ele não tem janela para olhar e – quando tem – não pode fazer nada com ela.
É isso.
Que dizes?