Design & UX

30 mai, 2012

A ascensão e a queda da experiência do usuário – Parte 3

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No artigo anterior foram abordados os problemas relacionados à AI. Agora, vamos falar de como podemos resolvê-los.

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A maneira de seguir em frente

Claramente, nos deparamos com problemas. Felizmente, somos “resolvedores de problemas” naturais, então vamos ver como podemos negociar com o território à frente.

Rótulos

Primeiramente, é hora de abandonar um dos vícios mais prejudiciais: a rotulagem. Como se nossas definições já não fossem complexas o suficiente – usabilidade, IA, design de interação – agora a experiência do usuário é atrelada ao design de serviço e à experiência do consumidor, que são idênticos entre si, a não ser no nível mais meticuloso.

Em Memphis, Jesse James Garrett criou uma patologia adaptada da doença do IA (inglês) e proclamou o fim do rótulo ‘Information Architect’. Eu vou além e prevejo que o rótulo de Designer de Experiência do Usuário não será mais útil daqui a uns dois anos. Foi um epíteto decente para protestar contra a falta de visão prática e hostil do usuário, mas suas deficiências estão se tornando muito aparentes.

Mas eu não indico qualquer substituto. Um rótulo é uma escolha pessoal sobre os limites e as zonas de conforto de alguém. Não estou dizendo que deveríamos escolher lados. Estou apenas dizendo que deveríamos parar de jogar o jogo.

Nós não deveríamos nos sentir ameaçados ou sentimentalistas com relação aos rótulos. As disciplinas por trás do design UX estão aqui para ficar, e ganharam maturidade o suficiente para se tornarem uma competência dentro de todas as formas de design, não apenas no domínio de um grupo de praticantes. Nossas habilidades sempre vão importar, e sempre teremos boas experiências de design. Portanto, eu não me importo do que você se chama. O trabalho é o que importa. O rótulo é apenas metadado.

Foco em entrega

Em vez de explicar nossa expertise a partir de processos e de terminologias, deveríamos apontar para nossa entrega (output). Somos, de fato, dignos dos elogios que temos recebido, nossas entregas têm sido comprovadamente melhores que os outros. Caso contrário, talvez nossos detratores estejam certos.

Colocar esse tipo de fé em nosso trabalho demanda dedicação. Isso significa que deveríamos parar de “fetichizar” nossas trivialidades – o estilo do iPad, com essas interfaces de video-game – e as substituindo pelo foco firme no produto final.

É claro que a curiosidade intelectual é saudável: ela nos ajuda a refinar nossas filosofias e a adicionar novas ferramentas à nossa armada. Eu também valorizo a ironia de usar um discurso importante para denunciar a pontificação. Mas existem problemas evidentes bem debaixo do nosso nariz, que precisam de atenção. Gerenciamento de identidade digital. Ajudar as pessoas a controlar a privacidade em um mundo conectado. Descobrir maneiras para as pessoas levarem sua vida digital através de dispositivos. Se resolvêssemos esses problemas, aí sim mereceríamos todo esse louvor.

Isso foca no fato de que a entrega deve sustentar tudo o que fazemos. É compreensível que designers queiram papéis estratégicos, ao encontrar limites táticos. Mas, ao reivindicar o pensamento de design, não se pode esquecer da prática de design, na qual o real ofício e o talento se transformam em resultados reais.

Considere a ética

Ao focarmos no nosso trabalho, devemos também focar no valor que ele tem para a sociedade. Com a maturidade do campo da experiência do usuário, me entristece que nossa discussão sobre ética tem sido tão frágil.

Tivemos um grande sucesso recentemente ao enquadrar o UX como uma maneira de influenciar os usuários a fazerem coisas que nossos empregadores gostam: comprar mais itens, se inscrever em atividades, e voltar mais vezes. A ideia de usar a psicologia para persuasão não é nova. Publicitários têm feito isso por anos, e é um tópico interessante no setor público.

Alguns dos casos de design persuasivo são realmente convincentes, especialmente quando os desejos do usuário e do “persuador” se sobrepõem, com um claro ganho mútuo – ganho de energia, prudência financeira, perda de peso. Mas existem aplicações questionáveis, e alguns que se consideram designers UX usam o design persuasivo apenas para o benefício da empresa em que eles trabalham. É uma terrível perda do nosso potencial. Claro que precisamos agradar as pessoas para as quais trabalhamos, mas também devemos observar nosso impacto no mundo.

Questão de valor

Há quase 50 anos, um grupo de designers gráficos liderado por Ken Garland escreveu um manifesto chamado First Things First. Nesse texto, eles lamentam a falta de foco da indústria do design em anunciar bens triviais, e sua negligência em relação aos outros campos, incluindo educação e design de livros.

É hora de uma reavaliação similar dentro da comunidade do design digital. Não estou falando apenas sobre publicidade; estou falando sobre questionar o valor de tudo que criamos.

No Consumer Electronics Show deste ano, produtores apresentaram 20 mil novos produtos, incluindo cerca de 80 tablets. Nas palavras de Helen Walters, que reportou o evento, isso não é inovação, “é vandalismo“.

O mundo não precisa de outro clone do Groupon ou de mais barras de Snickers. Eles não geram valor para o mercado, ou para as pessoas daquele mercado.

Em vez disso, o mundo precisa de menos coisas, mas que sejam melhores. Coisas que funcionem perfeitamente bem. Coisas que sejam humanas e confiáveis; que ajudem as pessoas a fazer as coisas que elas nunca imaginaram serem possíveis. Esse é o nosso território natural.

Você pode discutir – e muitos irão – que um designer UX ainda pode ter uma carreira significativa criando serviços marginais ou anunciando produtos de lugar comum. Isso é com você, mas eu pergunto o seguinte – qual elogio você prefere: “Eles mudaram o maior número possível de peças” ou “Eles realmente fizeram a diferença?”

Ganhando influência

Então vamos falar sobre fazer a diferença. O primeiro passo é obviamente fazer o design dos melhores produtos e serviços que podemos. Mas isso pode ter um efeito mais local; grandes ambições requerem influência.

Esse é um conceito familiar para a comunidade, e o Summit. JJG prevê que um designer UX que chega a CEO será impossível de ser parado. Ano passado, Whitney Hess nos alertou para olhar para fora de nossa comunidade e nos alinhar com o mundo dos negócios.

Tentativas, até hoje

Até hoje, na maioria das vezes nós tentamos ganhar influência nos negócios ao adotar (ou pelo menos simular) um pensamento focado em negócios.

Falamos sobre como os designers têm um modo de melhorar a lealdade dos clientes, de coletar referências e de reduzir os riscos. Aprenda bastante sobre seu consumidor primeiro e você terá mais chances de acertar. Apresentamos o design como algo que possa ser analisado, controlado e ajustado a partir de iteração, de testes multivariáveis, de usabilidade, e assim por diante. Tentamos quantificar nossos esforços, de modo que o mercado possa ver que não somos apenas um grupinho criativo.

O próximo artigo abordará a relação do setor com ciência, a obliquidade, a regra de ouro, o modernismo e a subversão.

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Texto original disponível em http://www.cennydd.co.uk/2011/fall-and-rise-of-ux/