Design & UX

29 mai, 2012

A ascensão e a queda da experiência do usuário – Parte 2

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Dando continuidade à série sobre experiência do usuário, neste artigo serão abordados os problemas do setor.

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Problemas à frente

Mas existe um problema à frente. Acredito que os próximos dois anos serão difíceis para a comunidade de experiência do usuário. Parcialmente, essa é uma correlação natural para nosso sucesso; parcialmente, é o resultado de nossas tendências expansionistas. De qualquer maneira, estamos escorregando em direção ao vale da desilusão.

Poluição

Nosso problema mais urgente é a poluição. A disciplina da experiência do usuário se tornou tão ampla que qualquer um pode, legitimamente, praticá-la. Cada objeto ou serviço que tem design pode, literalmente, representar uma experiência. No entanto, sua interpretação mais comum é mais restrita: o “UX” está se tornando rapidamente um sinônimo para “web design”.

A explosão da influência em nossa indústria, salário e respeito estão desvalorizando nosso termo e causando problemas de qualidade iminentes. Como a demanda é muito maior que a oferta, agências web e freelancers criaram uma corrida para o termo UX. As competências que sustentam o trabalho foram muitas vezes deixadas de lado no meio da confusão.

Algumas empresas e pessoas verdadeiramente mal informadas agora oferecem serviços medíocres sob o rótulo de design de experiência do usuário. Fico constrangido com algumas das coisas sem sentido que essas pessoas com cargo UX cultivam, e eu luto diariamente para decidir entre ranger os dentes ou aceitar que é assim que as coisas serão daqui pra frente.

Não me entenda mal; eu sou aberto a participantes genuínos ao campo, e tenho sido mentor de pessoas inteligentes e decididas por muitos anos. No entanto, mesmo entre os novos participantes mais brilhantes, vejo uma tendência preocupante. Os cultivadores da experiência do usuário normalmente são motivados pelo glamour do design de interação sobre uma tecnologia brilhante, e a psicologia amadora que os ajuda a soar autoritários sobre suas abordagens. Falta conhecimento das informações básicas sobre arquitetura de informação, teoria de design e habilidades elementares de programação para a maioria.

A poluição do nosso campo era completamente previsível, e o design da experiência do usuário é a primeira comunidade a enfrentá-la. O objetivo final transforma qualquer ideia que ele quiser, para grande desgosto dos pioneiros, que reclamam nos bastidores que têm sido mal interpretados.

Não existem soluções fáceis. O Chartership nos pega de vez em quando, mas aqui eu devo discordar de Jared: acredito que não é um um início comum na nossa área. Nenhuma organização está devidamente posicionada para oferecê-lo, e introduziria uma sobrecarga enorme para uma indústria fundada sobre a acessibilidade e a simplicidade, e que poderia marcar um retorno infeliz às torres de marfim que assolam nossas tendências mais elitistas.

Repercussão 

A repercussão está a caminho. Alguns dos nossos colegas e membros proeminentes da comunidade tecnológica agora rebaixam o rótulo de experiência do usuário, alegando que, ao mesmo tempo em que prometemos o mundo, super-promovemos os novos funcionários a papeis que eles não conseguem cumprir. Nosso vocabulário abstrato é direcionado a um público-alvo suave. Sejamos francos: “arquiteto da experiência do usuário” é tão vaidoso para uma posição de trabalho quanto o século pode se orgulhar.

Para nossos detratores, o design da experiência do usuário nada mais é que a última mania, um exercício trivial para ouvir os usuários e dar a eles o que eles quiserem. Nós refutamos suas alegações, obviamente, mas, como a Hydra, uma nova cabeça surgirá no seu lugar. Mesmo algumas pessoas das quais devíamos ser próximos – estrategistas de conteúdo, analistas de negócios, designers visuais – começaram a se sentir esmagadas pelo jargão UX. Elas são forçadas a defender seu território: “Não, não somos parte da UX”.

Facções

Uma reação natural à superexpansão e às ameaças externas é se retirar em grupos. Isso oferece alguns benefícios ao grupo, particularmente sobre a gestação e sobre a discussão de conceitos profundos. E também pode ser usado para ganho pessoal; simplesmente erga uma nova bandeira e proclame que você é o rei.

Não irei me estender sobre facções dentro da experiência do usuário, e é um caminho bem pisado, mas é suficiente dizer que o facciosismo fez mais mal do que bem. Ele criou lutas de políticas e poderes, sem mencionar a situação ridícula em que três organizações profissionais competem pela atenção das mesmas pessoas. E o territorialismo não reflete o design real; você não pode dividir uma coisa tão escorregadia e amorfa em caixas organizadas. Os desafios do IA, por exemplo, são quase sempre revestidos por desafios maiores de design que envolvem interação, visualização e execução técnica. Ao jurar aliança a apenas uma disciplina, você se limita a ver o problema em toda sua extensão.

Estagnação

Em vez de incentivar a especialização, a fragmentação na verdade promove a estagnação. Se o IA cavar dentro da vala do IA, e se os designers de interações se retirarem para seus bankers de design de interação, ambos se tornam mais fracos. A mestiçagem torna as falhas e as forças maiores. Na verdade, eu estendo a mesma acusação a todo o campo de experiência do usuário.

No início da minha adolescência, eu comecei a ouvir bandas como My Bloody Valentine e Slowdive, que deram início a um cenário de música alternativa bastante forte. Essas bandas se mantiveram juntas, indo aos shows umas das outras, e tocando em seus álbuns. A imprensa inglesa as rotulou de “shoegazers”, pelo seu hábito de olhar para o chão e não prestar atenção no público. Mas, depois, um rótulo pior ainda surgiu: o cenário que se celebra sozinho.

O design da experiência do usuário corre o risco de se tornar um cenário que se celebra sozinho. Claro que todo movimento florescente precisa de animadoras de torcida, mas, na nossa ânsia em reverenciar nossos colegas, podemos negligenciar o que realmente importa: nós importamos? Lançamos algum álbum que mudasse o mundo? Somos tão importantes e efetivos como achamos que somos? Não tenho tanta certeza. A empresa marcada como #1 pela Forrester em experiência do consumidor – a Borders – acabou de ir à falência. Admito que não seja muito inteligente pegar o que a Forrester diz como algo muito certo, mas existe uma dúzia de fatores que afetam o sucesso de um negócio. A experiência do usuário é um fator importante, mas crise no fluxo de caixa, preço ou contratações podem deixá-la estufada.

Eu cada vez mais acredito que a comunidade UX teve, no máximo, um impacto modesto no nosso meio mais comum: a web. Os sites mais bem sucedidos do mundo são aqueles com ótimos modelos de negócios, bom marketing, ou massa crítica. Alguns têm um bom design. Muitos não têm. Em vez de um design centrado no usuário que cause inovação e crescimento, usam-se sites comoditizados e padronizados, que dominam especificamente em sites verticais, como os de e-commerce e de notícias. Essa é uma revelação espantosa, uma vez que as restrições inerentes da maioria dos dispositivos móveis imaturos apresentam obstáculos substanciais a boas experiências.

Uma olhada global

Finalmente, sinto que não estamos apenas olhando completamente para dentro, mas estamos também muito focados localmente. A comunidade UX ainda é centralizada nos EUA, infelizmente. Me falaram que eu fui o primeiro cidadão não-americano a encerrar ou a liderar o IA Summit – uma tremenda honra, é claro, mas não uma que deveria ter demorado 12 anos.

A comunidade global pode não ter contribuído com muitos nomes para competir com aqueles dos EUA, mas o trabalho é forte. Algumas nações européias em particular estão fazendo coisas ótimas e, como de costume, a Europa tem feito as coisas do seu próprio jeito. Organizações profissionais, por exemplo, tiveram pouco impacto na Europa. No Reino Unido, toda a atividade da comunidade tem sido de empresas privadas e ativistas individuais: London IA. UX Brighton. UX London. UXCampLondon. Design Jam. UX Bristol. Northern UX.

Lembre-se de que há apenas 90 anos meu país era a força dominante do mundo. O poder muda com o tempo, e nós não podemos mais olhar apenas para nossos vizinhos mais próximos. Uma prática realmente global nos ensinaria muito sobre novas maneiras de ver o mundo e nossa disciplina.

O próximo artigo falará de como resolver esses problemas.

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Texto original disponível em http://www.cennydd.co.uk/2011/fall-and-rise-of-ux/