Desenvolvimento

8 nov, 2018

O Afropython mostra que até na tecnologia representatividade importa, sim!

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Você conhece o Afropython? O projeto é uma iniciativa de profissionais de TI e Recursos Humanos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E o seu objetivo é incentivar o ingresso e empoderamento de pessoas negras na área da tecnologia.

O Brasil é composto por 54% de negros e pardos, de acordo com pesquisa do IBGE. Mas na área de tecnologia da informação, a representatividade desta parcela da população é quase inexistente.

E na tentativa de mudar esse cenário, sete jovens se juntaram (Felipe Machado, Andreza, Felipe de Morais, Amanda Vieira, Thomas Medeiros, Rosalba Monteiro e Jonas Davila) e criaram o Afropython.

Nesta entrevista com Rosalba Monteiro, uma das idealizadoras do projeto, conhecemos um pouco mais da história do projeto, como eles estão atuando na região de Porto Alegre e os planos para o futuro.

Como surgiu o Afropython e quais as principais atividades?

Surgiu através da ideia do Felipe de Morais, em fazer algum tipo de ação com foco em pessoas negras no cenário de tecnologia. Junto com essa ideia, ele conectou algumas pessoas que foram as idealizadoras do projeto (que você pode conhecer mais em https://afropython.org/).

Sobre nossas atividades, a principal ocorre sempre em novembro, onde realizamos o evento anual. Esta será a nossa segunda edição. Nossa principal frente é a gama de eventos que ocorrem periodicamente, como oficina de programação (e foi assim que o projeto surgiu), ou eventos em ciclos de palestras e workshops divididos em trilhas de assuntos de interesses. Além disso, estamos iniciando um ciclo de meetpus de porte menor, porém mais frequentes.

Fora nossos eventos, mantemos o engajamento através de grupos no WhatsApp e no Facebook, na tentativa de criarmos um movimento para que pessoas negras possam ser protagonistas e que possam preencher outros espaços. Cada participante que atua em algum setor de tecnologia incentiva nosso protagonismo e com isso tentamos formar uma grande e linda corrente.

O Afropython me parece bastante peculiar. O que os diferencia de outras iniciativas?

Na verdade, este é o único projeto com este formato destinado a pessoa negras. Um projeto que reúne oficinas, ciclo de palestras e meetups; só isso já poderia ser considerado como algo único, mas o que o torna, na minha opinião, um projeto especial é a entrega, carinho e amor que todos os envolvidos têm pelo projeto. E não só quem o organiza, mas também os participantes que, depois de vivenciar essa experiência, passam a realizar atividades dentro do projeto.

Existe uma troca de experiências com outra comunidade?

Sim, existe uma troca de experiências entre todos; quem organiza, quem participa… E essa troca é tão real que, aos poucos, os participantes vão se empoderando dos seus próprios conhecimentos e vão perpetuando-os para outras pessoas.

Gostamos de falar que o Afropython se multiplica a cada evento, em cada participante. Isso é muito legal! É muito gratificante poder estar em um evento de pessoas negras e saber que estamos entre pessoas que muitas vezes têm a nossa mesma vivência quanto pessoa negra na sociedade.

Quando exaltamos que somos todos capazes de qualquer coisa, essa semente germina e é perpetuada por todos ao nosso ecossistema.

Qual a importância do Afropython para a região que vocês abrangem?

É muito importante ter um movimento na área de tecnologia focado em pessoas negras; principalmente porque a tecnologia é um setor gerador de empregos em que não vemos uma quantidade aceitável de pessoas negras – e nisso estão vários fatores: sociais, econômicos e culturais.

A pessoa negra, muitas vezes, nem se permite sonhar com algumas dessas profissões. Quando um projeto assim surge, ele dá a oportunidade para que elas não só tenham técnica, como a oportunidade de ter poder de escolha. O mais importante é mostrar que somos capazes e que o mundo também é nosso.

Quanto a localidade, não podemos desconsiderar o fato do Rio Grande do Sul ser ainda considerado um dos estados brasileiros mais racistas do Brasil. Nestas circunstâncias, ter um movimento de resistência e visibilidade para pessoas negras é algo tão importante que ultrapassa o projeto e se torna um movimento.

Como enxerga o meio das comunidades no Brasil (o pessoal se ajuda, troca experiências, vão uns nos eventos dos outros)?

Sim! E não só comunidades com foco no recorte racial. Hoje, vários grupos considerados minoria se uniram para forma uma grande corrente. Temos e damos apoio a esses eventos e isso é fundamental para que cresça a diversidade na tecnologia.

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Artigo publicado na revista iMasters, edição #28: https://issuu.com/imasters/docs/imasters_28_v5_issuu