No início do ano eu li “Usabilidade na Web – Projetando Websites com qualidade”, que ganhei de presente de Natal (não-voluntário) de uma das minhas irmãs e fui consumindo em doses homeopáticas. Embora o livro seja de 2006, e contenha análises baseadas em sites feitos até 2005, achei-o muito enriquecedor e tirei dele muitas informações úteis que não conhecia e pretendo guardar e aplicar daqui pra frente.
Em quase uma década desenvolvendo websites, confesso que muitas vezes pensei de dentro da caixa e encarei apenas da perspectiva de programador a construção destes, não tendo prestado real atenção nem estudado muito a sério a usabilidade dos meus sites – muito embora eu possa dar a desculpa de que o desenvolvimento da interface deles nunca tenha sido exatamente a minha tarefa. Ainda assim, lendo este livro levei alguns tapas na cara, muito bem dados pelos autores Jakob Nielsen e Hoa Loranger. Jakob em particular é conhecido como papa mundial da usabilidade e não compreendido e odiado por muitos designers e arquitetos de informação por causa de suas posturas radicais no assunto.
Como contraponto às críticas, o autor garante que todas as suas recomendações são baseadas em constatações feitas através da observação de pessoas comuns fazendo uso e realizando tarefas nos mais variados sites. Em decorrência disso, a principal lição que se recebe dele é a de que os usuários devem ser ouvidos sempre, e que os sites devem ser construídos com feedback deles. Apesar de isso soar óbvio, minha impressão e vivência dizem que no geral poucas equipes e empresas (independente do porte) realmente fazem isso.
“Usabilidade na web”, que ao que consta é a publicação mais recente de Jakob, é um livro pequeno (400 páginas, com muitas imagens) e fácil de ler. Entre os assuntos cobertos estão erros fatais no design da interface de um website, buscas e SEO, como estruturar a navegação, como redigir para a web e que tipografia usar para obter legibilidade, melhores formas de apresentar boas informações sobre produtos, e o equilibrio da tecnologia com a necessidade das pessoas.
Embora o próprio autor admita que não disseca os assuntos presentes, nem cubra todos eles tão extensamente quanto em seu site, o livro pinta muito bem um quadro geral de diretrizes para projetos de websites e traz algumas informações detalhadas interessantes, como por exemplo: quanto tempo um usuário gasta numa home-page em média, quantas palavras ele lê por página, qual deve ser o tamanho da caixa de busca num site e quais os problemas de interface que mais irritam os usuários, gerando falhas e frustrações.
Assim, concluída a leitura, se eu pudesse faria com que qualquer pessoa envolvida com a construção ou criação de conteúdo para um website, notadamente gerentes de produto, designers, programadores e até blogueiros leiam, senão este livro, ao menos sobre o assunto. Acredito agora que a experiência do usuário e o sucesso da usabilidade do site devem ser um objetivo perseguido por todos os envolvidos com ele, ao invés de somente designers ou arquitetos de informação, como é usual.
Para finalizar, reproduzo algumas lições e informações interessantes que são destacadas no livro.
- “Há mais de um bilhão de usuários na internet, portanto, qualquer site com menos de dez milhões de clientes (em outras palavras, quase todos) não atingiu nem 1% do potencial de audiência”
- “É uma prova do crescimento da web o fato de que usuários agora a vêem como um todo integrado. Isso é uma boa notíca para sistemas de pesquisa e usuários, mas não para os websites”
- “Voltar é o segundo recurso mais utilizado na navegação na web. Naturalmente, supondo que funcione como previsto”
- “Os designers costumam dizer que abrem novas janelas para não perder os visitantes dos seus sites. Mas, em última instância, essa é uma causa perdida. Se as pessoas realmente quiserem sair, elas farão isso”
- “A maioria dos sites que cresceram significativamente na década de 90 apresentava interfaces simples com poucas imagens gráficas e rápido download de páginas. Os designers gráficos reclamavam, mas os usuários adoravam”
- “A principal diretriz para uma busca avançada é esta: evite-a. Poucas pessoas utilizam uma pesquisa avançada corretamente, e na maioria das vezes ela traz mais problemas que benefícios”
- “Tentar projetar a estrutura do seu site sem um feedback dos seus clientes é um grande equívoco que pode lhe custar milhares ou milhões de dólares. Projete para a conveniência deles, não para sua”
- “Um tamanho de fonte pequeno não é uma solução para acrescentar mais conteúdo a uma página. Mais texto frequentemente significa menos leitura. Texto denso afasta as pessoas”
- “Mais uma vez, menos é mais. As pessoas não gostam de se confrontar com um mar de escolhas”
- “Tentar fazer um objeto maior, mais destacado e mais brilhante para que seja notado pode ser um tiro pela culatra porque essas características frequentemente são associadas a anúncios – e sabemos que as pessoas querem desviar a atenção de qualquer coisa que pareça um anúncio”
- “Subestime o conhecimento técnico do seu usuário”
- “Os designers têm diferentes explicações para o não funcionamento de algo nos sistemas de seus usuários. No final, a razão realmente não importa. Não defenda a sua interface. Corrija-a!”
- “Simplifique, simplifique, simplifique: inclua somente os recursos que ajudarão as pessoas a simplificar suas tarefas. Quando interações são muito complexas, as pessoas costumam não encontrar as informações necessárias e não se beneficiam do site. Interações complexas aumentam tanto o tempo de aprendizagem como a probabilidade de as pessoas se confundirem. É melhor ter poucos recursos úteis do que muitos inúteis”.