Carreira Dev

25 jan, 2010

O suspense do Apple Tablet: revolução ou simples estardalhaço?

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Um dos jogos favoritos dos colunistas de tecnologia pelo mundo afora é tentar adivinhar qual será o próximo movimento da Apple, comandada por Steve Jobs. A combinação de segredo, inovação, cuidado extremo com o detalhe e principalmente lucros torna esse jogo cada vez mais atrativo (e difícil).

A bola da vez é o Apple Tablet (iSlate?), que seria uma aposta em um segmento de mercado que não é novo, mas que ainda não “decolou” como se imaginava. Desde os anos 90 diversas empresas tentaram sem sucesso criar este mercado. E o fracasso dos antecessores torna a aposta mais interessante. Vindo da Apple, como será este tablet afinal? Sendo bem grosseiro, seria um iPod gigante, ou um MacbookAir sem teclado?

Depois de ouvir inúmeras apostas, resolvi fazer a minha também: nem “iPodão”, nem notebook sem teclado. Pode até se parecer com uma dessas coisas, mas será um dispositivo novo. O que não é surpreendente tratando-se de Apple.

Vem aí o Kindle Killer (e muito mais)

Acredito que o Apple Tablet será uma ferramenta de leitura, escrita e colaboração – um PDA de verdade. Irá além do simples leitor de ebook (coisa que o Kindle teve oportunidade de ser, mas não conseguiu). E também não será um simples comunicador, centro de mídia ou agenda eletrônica. Certamente irá agregar algumas dessas funções. Mas o brilho da nova plataforma será a integração de tecnologias que tornará o tablet um produto realmente usável no dia a dia, de uma forma que um celular, um iPod ou um netbook jamais poderiam ser.

Uma convergência de tecnologias favorece um lançamento neste exato momento. Existem hoje telas híbridas capazes de combinar o melhor da tinta eletrônica com a cor e velocidade de um LCD. E também existem novas telas OLED capazes de operar com nitidez e baixo consumo. São tecnologias quem permitem implementar o “ebook reader perfeito”: leve, fino e durável – e 100% integrado com a loja digital da Apple. Mas o produto iria muito além: um sistema de reconhecimento de escrita, gestos e toques permitirá escrever e até desenhar de forma natural. Ferramentas de colaboração deixariam as funcionalidades de anotação de livros do Amazon Kindle comendo poeira. O resultado seria um tablet pronto para tomar de assalto o mercado educacional, nicho dominado pela Apple desde a sua fundação. Se tudo der certo, a Apple poderá fazer com o segmento de ebooks o que fez com a música digital, disputando diretamente a liderança com a Amazon.

Um tributo ao Apple Newton

Não deixa de ser curioso lembrar um pouco da história da Apple para rastrear o possível ancestral do novo tablet. Estou falando do Apple Newton, em sua concepção original – e não o PDA que fracassou no mercado no início da década de 90.

Para quem não sabe, o Newton não foi pensado para ser um PDA, mas um tablet legítimo. O produto acabou se tornando um PDA por uma série de razões técnicas e de marketing. Por exemplo, havia um temor de que o produto “canibalizasse” as vendas do Mac. O fato é que o Newton antecipava tecnologias que hoje são realidade. Mas outras de suas idéias – como o reconhecimento de escrita de alta qualidade – ainda não tem concorrente à altura, mais de 10 anos depois. Aliás, a Apple recontratou recentemente um dos principais criadores do Newton, o que esquenta ainda mais as especulações.

Se o novo Apple Tablet realmente resgatar o espirito do Newton, a genealogia do produto não poderia ser mais irônica. O Apple Newton foi um poucos produtos inovadores da Apple que não teve a orientação visionária de Jobs. Apesar de tecnicamente avançadíssimo, o Newton fracassou no mercado. Até que ponto isso aconteceria com Jobs no comando não é claro. Afinal, ele mesmo havia falhado antes e saído da Apple em 1985. Ao retornar já no posto de CEO em 1998, coube a ele a decisão de descontinuar o desenvolvimento do produto. Foi uma decisão executiva importante que ajudou a colocar a Apple de novo nos trilhos, recuperando a rentabilidade – e que abriu o caminho para produtos como o iMac, o iPod e, finalmente, o iPhone.

E o anúncio vem aí!

A Apple já convocou a imprensa para um evento de lançamento da sua última criação no dia 27 de janeiro. Porém, de última hora, a possibilidade de um atraso deixou o mercado agitado. Mas, afinal, o futuro é esse. Computação pervasiva, realidade aumentada, interfaces naturais. E como é sabido, Steve Jobs não gosta de perseguir o futuro. Gosta de estar lá antes que ele aconteça. E é isso que ele está fazendo agora, pela enésima vez em uma carreira ímpar. Depois disso tudo, quem apostaria contra?