Carreira Dev

11 mai, 2010

Entendendo os ciclos de inovação: onde estamos e para onde vamos

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Este artigo surgiu de discussões que venho mantendo com Yuri
Gitahy (@), Diego Gomes (@) e
Edmar Ferreira (@), além de
diversos outros co-autores do RWW BR. A idéia de trabalhar em uma visão
estratégica do ciclo de inovações surgiu no ano passado, mas somente
agora consegui colocar no papel. Para quem leu o livro “Innovator’ s
Dilemma”, a idéia pode parecer familiar, mas o foco é bem diferente
nas gerações de inovações e não em inovações individuais.

O atual ciclo de inovação na Internet começou modestamente por volta
de 2003 ainda nas cinzas do estouro da bolha dotcom e se acelerou
nos últimos cinco anos, até começar a dar sinais de mudança de ritmo
depois da crise de 2008/2009. Nesse período, empresas como Facebook e
Twitter surgiram e alcançaram a ponta de um mercado cobiçado, através de
serviços e modelos de negócio inovadores.

O mercado está passando agora por uma fase de transição. Novas
startups continuam surgindo, mas os recursos estão mais escassos e
seletivos (pelo menos no primeiro mundo). O mercado brasileiro é
promissor, porém ainda não tem um modelo de investimento em inovação
maduro. Mas o que mais chama a atenção para os analistas que atuam nessa
indústria é um certo cansaço com as idéias apresentadas.
Na visão de muitos, a inovação acabou: as grandes idéias já teriam sido
exploradas e, com isso, sobram apenas oportunidades menores.

A análise do ciclo de inovação mostra que isso tudo faz sentido. As
inovações têm caráter cíclico
. A geração atual está acabando, e
uma nova geração virá por aí de cara nova e, quem sabe, em um novo
território.

Gerações de Inovação

Inovações podem surgir a qualquer momento, mas raramente ocorrem de
forma isolada. Quando as condições tecnológicas e de mercado propiciam
uma base adequada, surge uma geração inteira de inovações, que se
estende por vários anos. Essa geração passa por um ciclo de vida,
caracterizado por variações no tipo, na frequência e no impacto das
inovações apresentadas.

Fase Experimental

O ciclo de inovação começa com uma fase de experimentação. É comum
que exista um estranho tipo de sincronicidade: idéias parecidas começam
a pipocar de lugares diferentes, aparentemente sem ligação. É uma fase
amadora, caracterizada por ‘startups de garagem’, que alavancam idéias
novas com base na tecnologia disponível no mercado. Ainda não há um
modelo de negócio claro, e os investimentos tendem a ser pequenos e
localizados.

Fase Disruptiva

O ciclo se acelera quando algumas inovações da fase experimental
amadurecem e demonstram seu caráter disruptivo. Essa fase é a que
costumamos associar com inovação “de verdade”: idéias que aparentemente
vêm do nada e que mudam a forma de pensar e agir, criando novos mercados
e sacudindo o status quo. O mercado cresce rapidamente. As
estruturas de financiamento se consolidam. Muitas idéias da fase
experimental são abandonadas, mas quem sobrevive fica muito bem
posicionado para crescer ao longo do ciclo.

Fase Combinatória

Depois das primeiras grandes idéias, começa a corrida
do ouro
. Investidores buscam freneticamente por novas idéias em um
terreno cada vez mais ocupado. À medida que o processo  avança (e as
idéias naturais se esgotam), começam a surgir empresas especializadas em
recombinar exaustivamente outras idéias, na busca de
uma combinação que dê certo. É um processo de tentativa e erro, onde os
erros se tornam cada vez mais frequentes.

Essa fase é marcada pela exuberância quase irracional dos
investidores, que substitui a desconfiança inicial e chega a causar
situações bizarras. Com o tempo, o processo se torna cansativo. O
retorno é decrescente, mas mesmo assim durante muito tempo a pressão
pela inovação continua, até um ponto de colapso.

Fase Incremental

Quando o mercado finalmente se cansa de explorar combinações, começa o
processo de consolidação. Nessa fase, as empresas que conseguiram se
estruturar nas fases anteriores já estão maduras o suficiente para
assumir um papel de liderança. Elas oferecem ao investidor a garantia de
um processo de gestão de inovação mais previsível, com menos risco,
porque têm uma marca conhecida e já demostraram capacidade de
desenvolver e implantar uma inovação no mercado. Em suma, elas têm o
know how necessário para fazer as coisas acontecerem.

Onde estamos hoje

Vivemos hoje uma fase de amadurecimento, onde a transição da fase
combinatória
para a fase incremental é
visível. Empresas como Google e Facebook estão adquirindo outras
empresas e consolidando seu espaço. A inovação é cada vez mais dirigida
para preencher espaços, dentro de uma estratégia corporativa bem
definida. Os investidores ficam mais seletivos, e o volume de capital de
risco começa a minguar. Negócios
táticos e bem dirigidos ainda têm grande chance de sucesso
, desde
que se evite a armadilha de entrar em uma corrida combinatória cada vez
menos eficiente.

Nesse momento, é engraçado pensar que um ciclo de inovação surge
justamente do sucesso completo do ciclo anterior.

À medida que o ciclo evolui, o custo da inovação aumenta. As apostas
ficam mais altas. Na fase experimental, bastam duas pessoas e uma boa
idéia na cabeça. Na fase incremental, se você não conhece ninguém nas
grandes empresas, dificilmente venderá sua idéia. Um exemplo conhecido é
a Apple, que tentou vender o conceito do microcomputador para a HP e
foi esnobada. O mesmo ocorreu com o Google na primeira geração da
Internet.

Além disso, a base tecnológica criada pela geração anterior propicia
as condições para que novas idéias sejam testadas, marcando o início de
uma nova fase experimental. No caso da Apple, o baixo custo dos chips
permitiu experimentar com processadores caseiros; no caso do Google, o
baixo custo dos servidores permitiu experimentar com paralelismo em
larga escala.

A inovação morreu, viva a nova inovação!

A nova geração de inovadores já está por aí. Cabe a ela ficar de olho
em setores de mercado para os quais os atuais líderes se mostrarão
incapazes de ocupar de forma eficiente. E, nesse momento, tamanho não é
documento. Assim como a Microsoft jamais conseguiu se firmar como líder
na Internet, negócios com potencial disruptivo (mesmo que ainda não
provado) como realidade aumentada ou computação pervasiva podem se
mostrar pedras no sapato dos gigantes de hoje.

Nada garante que tudo que
os tornou grandes até agora valerá para ser o líder no novo mercado. A
questão é identificar segmentos onde o custo de inovação seja baixo,
permitindo experimentar de forma livre. Por exemplo, a geração atual irá
deixar uma base de dispositivos móveis poderosos e baratos, e uma
infra-estrutura de cloud computing capaz de dar escalabilidade a idéias
realmente inovadoras. Alavancar essa tecnologia é o caminho mais seguro
para se posicionar no novo ciclo que se anuncia.