Arquitetura de Informação

18 mai, 2010

Desabafo por uma web mais limpa

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Gosto de usar a Web para coisas cotidianas. Procurar endereços em um
mapa, restaurantes para ir, consertos caseiros, receitas para cozinha.
Ou, então, ver a programação de TV, dicas de jogos etc. Isso tudo seria
muito mais prazeroso e simples se não fosse uma coisa: a quantidade de
sujeira e distração existente na maioria dos sites da Web atual.

Exceções que confirmam a regra

Para começar, é claro que há exceções,
algumas muito conhecidas. A página limpa do Google e a interface do
Twitter são excelentes exemplos. É um fato
conhecido
que boa
parte do sucesso
desses
serviços
deriva
da sua simplicidade
. Então, por que é que tão pouca gente copia o
exemplo?

  1. Vamos reconhecer: criar um bom design é coisa para
    profissionais. A maioria dos sites é criada por alguém interessado na
    área ou por um programador. Saber HTML e CSS não é a mesma coisa que
    saber desenhar. Por isso os resultados são muito variados. Mas se tudo
    se limitasse ao mau gosto na escolha das cores ou dos temas, ainda seria
    possível achar a informação desejada no meio da confusão.
  2. A
    necessidade de monetizar o serviço leva a uma profusão de anúncios, que
    se tornam cada vez menos eficientes à medida que o serviço demanda mais
    fundos para ser mantido. O resultado é a hipercomercialização,
    que interrompe a navegação e torna complicado separar o conteúdo do
    anúncio.
  3. Redes sociais e serviços agregados se tornaram parte
    do problema. Todo mundo quer colocar uma timeline de Twitter ou Google
    Friend Connect no site.
    Em parte, isso é resultado de uma pressão social, de mostrar que
    participa das redes da moda. Essa necessidade de hipersocializar
    gera ainda mais distração e quebra a imersão no conteúdo da página.
    Outro efeito colateral é o aumento de tempo
    de carga do site
    , resultado de carregar inúmeras aplicações
    externas (e isso por si só já mereceria um manifesto à parte).
  4. É muito difícil manter um foco específico. A maioria dos sites acaba
    cedendo ao desejo de criar mil e uma seções e funcionalidades, o que, na
    falta de um design adequado (problema #1), se transforma em um pesadelo
    de navegação. Daí surgem mil e um atalhos pendurados na tela, resultado
    de um arquitetura mal estruturada.

Penteadeira de Madame, Diário
da Barbie ou Armário Teen?

O resultado final varia de acordo com o
grupo social no qual o serviço se insere. Pode ser penteadeira à moda
antiga, cheia de bijuterias e penduricalhos. Pode ser o diário
prototípico de uma garota, cheio de adesivos e anotações de canto de
página. Ou pode ser um típico armário de adolescente, com adesivos
gigantes pregados na porta e uma desordem absoluta por dentro.

O
resultado são sites que você pode achar via Google, mas dificilmente
iria anotar para usar como referência direta. Aliás, ponto para o
Google, que nos permite filtrar toda a distração e encontrar o que
desejamos. Talvez o Google não fosse tão onipotente se os sites fossem
mais bem organizados – mas isso é outra história.

A luz no fim do túnel (e não é um trem na direção contrária)

Alguns dos melhores
sites que eu leio diariamente são blogs simples. São sites mantidos
por seus autores pelo prazer de escrever sobre aquilo que os interessa.
Porém, à medida que o site se profissionaliza, a tendência de
hipersocializar e hipercomercializar aumenta. Alguns passos simples
ajudam a evitar que isso aconteça:

  1. Atentar para as perguntas
    básicas: quem é seu público? Qual é o assunto? Mantenha o foco no
    conteúdo, para evitar diluição. E, de preferência, escolha um tema único.
    Isso facilita todo o resto.
  2. Se o seu site tem um tema único
    bem definido, a arquitetura de informações se torna simples, quase
    trivial. Mas se você tem pretensões mais ambiciosas, pensar em uma
    organização de conteúdo é fundamental. É uma das áreas nas quais o apoio
    de um profissional pode fazer a diferença. Na falta desse suporte, uma
    regra simples basta: quanto menos seções você colocar, melhor. E se o
    seu conteúdo estiver “transbordando” as seções, volte ao item #1.
  3. O design para Web evoluiu muito nos últimos anos. Existem hoje muitos sites especializados emdesigns de prateleira“, que
    certamente não atendem integralmente a necessidades mais
    profissionais, mas pelo menos permitem aos amadores que dêem uma
    roupagem mais adequada para seus sites (e a bem da verdade até
    mesmo os especialistas se aproveitam disso!
    ).
  4. Para cada
    item que você coloca em seu site, pense se ele agrega valor ao
    conteúdo, e não o contrário. É muito comum colocar gadgets externos como
    uma forma de dar “credibilidade” ao conteúdo. Isso já deixou de ser
    diferencial faz tempo. A coisa mais fácil do mundo é colar um snippet de
    Javascript no seu site, todo mundo faz. Então, se você for usar, que
    seja para algo útil.

Por uma web mais limpa

Criar conteúdo
já é difícil suficiente. Deixar seu conteúdo sufocado em um site
confuso não ajuda em nada. Mantenha seu foco dentro de uma estrutura
simples, e evite complicar desnecessariamente. Seus usuários agradecem.