Arquitetura de Informação

3 mai, 2010

As redes sociais estão mudando a indústria de software

Publicidade

Poucos usuários são tão mal compreendidos como os desenvolvedores. O
típico perfil de nerd parece não ter um grande apelo mercadológico. No
entanto, a dinâmica da indústria de software tem uma ligação íntima com o
desenvolvimento do mercado como um todo. Cabe aos desenvolvedores criar
novos serviços, e isso só é possível se eles tiverem ferramentas cada
vez melhores, que permitam fazer coisas novas e mais eficientes.

Hoje, o mercado de software está dominado por grandes empresas,
fazendo ferramentas para grandes empresas. São produtos complicados e
caros. Ninguém tenta seduzir os desenvolvedores mais. No máximo, a
indústria tenta extrair o máximo de cada um: certificados, cursos e mais
certificados. Mas nem sempre foi assim.

Um pouco de história

Nos anos 80, a Microsoft calcou seu domínio da indústria com base em
um fortíssimo suporte aos desenvolvedores. Para alavancar o Windows (e
depois o Windows NT), a Microsoft produzia ferramentas para
programadores e divulgava o conhecimento através de uma rede de
conhecimento, distribuindo CDs muito antes que fosse possível fazer isso
pela Internet. Atuando agressivamente, a Microsoft criou um ecossistema
que derrubou empresas fortes como Novell, WordPerfect e Borland. Em
vários aspectos, a dobradinha VB & C++ talvez tenha sido tão
importante como o Office é hoje.

A primeira geração da Internet teve grande impacto sobre a indústria
de software. Foi nessa fase que projetos como o Linux e o Apache
ganharam peso, e que empresas como MySQL e RedHat surgiram. Eram
inovações reais de infra-estrutura
, que viabilizaram inúmeros
negócios e mudaram a forma como o software era escrito. A indústria do
open source ganhou credibilidade. Porém, com raras exceções, a maioria
das empresas surgidas nessa época não conseguiu se firmar no mercado de
forma independente para inovar de forma consistente.
Aos poucos, o mercado se consolidou, e hoje o MySQL
é parte da Oracle
, mas isso é história para outro artigo.

Passada essa fase, surgiu uma segunda onda, com  impacto bem
diferente, com o amadurecimento de novas linguagens (como PHP,
Javascript, Python e Ruby). Frameworks como o Jquery e o Ruby On Rails
tiveram grande impacto sobre o desenvolvimento Web em geral. Porém, com
toda sua relevância, essa fase não se compara em escala e importância
tecnológica (em termos de infra-estrutura) ao que ocorreu na primeira
fase. São produtos que têm apelo para o programador, mas que ainda não
penetraram no mercado corporativo em larga escala. Não é uma indústria
com empresas de bilhões de dólares – e, para alguns clientes, isso faz
diferença.

Uma nova geração de software para uma nova indústria

Estamos assistindo agora ao começo uma terceira onda, bem diferente
da segunda, e que guarda similaridades com a primeira. É uma nova onda
de infra-estrutura, que pode mudar radicalmente a indústria de software.
Dessa vez, são ferramentas que têm em comum:

  1. Tecnologias inovadoras. Não estou falando de
    inovações incrementais, do tipo “agora o MySQL suporta transações”, mas
    de inovações radicais e com grande potencial disruptivo. São mudanças
    que afetam o funcionamento de componentes tão fundamentais como um
    gerenciador de banco de dados e que permitirão novos tipos de
    aplicação, indo muito além das redes sociais.
  2. Quebra de paradigma, mudando radicalmente a
    arquitetura das aplicações. São mudanças que exigem que o desenvolvedor
    mude radicalmente sua forma de trabalhar.
  3. Foco na comunidade.
    Esta é a primeira geração de software que é ativamente desenvolvida por
    empresas de grande porte que alavancam o potencial da comunidade “open
    source” de forma consciente e estratégica. Isso inclui não apenas
    liberar o código, mas trazer os desenvolvedores para perto da empresa,
    organizando eventos (como o Chirp
    e o F8) e estimulando o uso de
    suas ferramentas.

Empresas como o Facebook (com o Cassandra) e agora o
Twitter (com o FlockDB
e o Gizzard,
por exemplo) atuam junto à comunidade de forma estratégica. Compare a
postura com o MySQL (que sempre teve relação ambígua com a comunidade)
ou com o próprio Google, que é um tipo de “primo mais velho” das
empresas mais novas e que parece sempre um pouco deslocado nesse
ambiente. Curiosamente o Yahoo! (mais velho que o Google) tem conseguido
sucesso com uma grande comunidade ao redor do Hadoop. Mas a liderança
parece ser mesmo de empresas novas, que entendem a nova mentalidade de
uma forma bem diferente da geração anterior.

Essa é uma mudança profundamente disruptiva, em todos os aspectos:
social, tecnológico e econômico. Não se trata de uma biblioteca
desenvolvida no tempo livre por um grupo de amadores, mas de componentes
fundamentais da arquitetura, desenvolvidos por programadores
experientes e bem pagos, mantidos por empresas com valor de mercado de
bilhões de dólares. Tudo isso disponível de graça. O potencial é
fantástico. Se eu estivesse do outro lado (leia-se Oracle e Java),
estaria pensando seriamente no que fazer a respeito.