Todos já nos deparamos com um bully em algum momento de nossas vidas. Eles estão em todos os lugares e atormentam a vida de todos a seu redor. Eles pregam o medo onde há paz e a fúria onde há calma, deixam suas vítimas ansiosas e perturbadas e sempre acabam tomando o poder pela força, não pela liderança.
Bully é um termo criado para definir os valentões e tiranos dos tempos de escola – sim, aqueles que roubavam seu lanche, perturbavam sua irmãzinha, te agrediam, escondiam sua mala e queriam sempre te pegar na saída. Eles sempre estavam lá para te humilhar na frente dos seus amigos e das garotas da sua sala sempre que havia uma oportunidade. Eles são os responsáveis pela maioria das frustrações na sua infância e você pulou de alegria quando deixou de vê-los, uma vez que grande parte deles pode não ter chegado à faculdade. Afinal, quase sempre um livro para um bully é como uma cruz para um vampiro.
Alguns bullies crescem e deixam de ser bullies. Outros crescem e se tornam mais bullies ainda. E alguns que não eram bullies mas sim atormentados por eles, acabaram virando bullies pois precisavam se defender e ou queriam pertencer ao time.
Independente da origem do bully, você, adulto, pode ter tido o azar de ser obrigado a conviver com um deles diariamente. Pode ser seu chefe, aquele cretino que te trata mal e não te valoriza. Ou aquele seu colega de trabalho que dificulta a vida de todo mundo do escritório com seus constantes ataques histéricos. Ou mesmo seu subordinado, que sempre está de malandragem para cima de você, tentando te manipular para conseguir o que quer.
A verdade é que o mundo está cheio deles e nós, que nos consideramos seres do bem, que praticamos diariamente o bom-senso, tato e empatia, precisamos de uma aula de auto-defesa contra eles. Precisamos aprender a não deixá-los ganhar todas as situações só porque falam mais alto. Não deixá-los nos humilhar na frente dos outros. Não deixá-los nos manipular com suas táticas traiçoeiras.
Foi com esse sentimento YES WE CAN em meu coração li o livro “Bullies, tiranos, valentões e pessoas difíceis” de Ronald M. Shapiro, um dos mais respeitados agentes do mundo do baseball que, após enfrentar os maiores tiranos do mundo deste esporte, criou uma estratégia denominada N.I.C.E. para que pessoas como nós possamos enfrentar situações difíceis sem sermos intimidados pelos ataques dos bullies. Esta estratégia mostra-se muito eficaz em reuniões de negócios, decisões que exigem consentimento de terceiros e negociações com bullies. Ela deve ser utilizada sempre que você se vê obrigado a lidar com um bully.
Agora, se o bully em sua vida é seu cônjugue ou amigo, saiba que é muito difícil mudar um bully, e a estratégia N.I.C.E. é apenas para o gerenciamento de crises e situações de curto prazo.
A estratégia é baseada na sigla N.I.C.E., contendo 4 etapas a serem seguidas sempre que você se encontrar em uma situação difícil envolvendo um bully:
( N ) Neutralize seus sentimentos
Quando perceber que está sob ataque, neutralize suas emoções. Não tente falar mais alto. Não tente revidar. E mais importante que tudo, não leve para o lado pessoal. Você precisa ser racional e estar plenamente consciente para conseguir seguir as próximas etapas.
( I ) Identifique o tipo de bully
Segundo o livro, erxistem 3 tipos de bully:
- Pessoas difíceis sob pressão.
São pessoas normais, mas que se tornam difíceis sob stress e param de pensar racionalmente. Elas ficam nervosas e irritadas facilmente, em proporções exageradas do normal. - Pessoas estrategicamente difíceis.
Se fazem de difícil para obterem vantagens pessoais e profissionais. Criam táticas para te manipular e sempre saírem ganhando. - Pessoas naturalmente difíceis.
São, sempre foram e sempre serão difíceis, em qualquer situação, independente de seu estado de humor. Está ligado à sua própria personalidade. Seu principal objetivo é impor seu ponto de vista, certo ou errado, e dificilmente acatam opiniões contrárias, mesmo que isto os afete negativamente. São extremamente teimosos, egoístas e muitas vezes megalomaníacos, se achando superiores aos outros a seu redor.
( C ) Controle a situação
Para cada veneno, um antídoto. Para lidar com cada tipo de situação existe uma estratégia bem definida, que veremos a seguir:
- Pessoas difíceis sob pressão
O primeiro passo é tirá-la do stress. Você precisa acalmar a pessoa. Coloque-se do lado dela e demonstre empatia. Diga que entende porquê ela está tão estressada, diga que já passou por isso e faça-a desabafar até que ela fique tranquila novamente, voltando a seu estado racional. - Pessoas estrategicamente difíceis
Mostre que você não cai em seus truques, não se deixe afetar pelas suas táticas. Ria, se preciso, dizendo que conhece essa estratégia e que ela não funciona com você. Diga que não dá pra conversar, negociar ou conviver assim e para conversarem novamente quando a pessoa estiver sendo sensata. - Pessoas naturalmente difíceis
Este é o caso mais difícil de lidar, uma vez que você estará lutando diretamente contra o ego da pessoa e isto pouco tem a ver com o objetivo da discussão. Neste caso, você precisa se manter confiante e mostrar que não está disposto a aceitar sua postura, que geralmente consiste em maus tratos e ataques pessoais com o objetivo de te inferiorizar e demonstrar a superioridade dela em relação à você. Analise se você realmente precisa manter relações com esta pessoa e, caso contrário, mude de emprego ou, se em nível pessoal, corte radicalmente relações com ela. Mas se você acredita que realmente vale a pena, demonstre seu valor deixando claro o quanto ela precisa de você e mostre-se irredutível, demandando respeito e consideração em quaisquer atividades que venham a exercer juntos. Esta conversa deve ser franca e provavelmente terá que repetí-la constantemente até que o bully te enxergue com diferentes olhos. Lembre-se que todas as pessoas tem sua importância e que, especificamente nestes casos, nem todo mundo está disposto a conviver com pessoas deste tipo, o que faz de você uma exceção e este fato por si é suficiente para que o bully te trate com o respeito profissional e pessoal que merece.
( E ) Explore todas as possibilidades
Uma vez que você consiga conter a crise, levando a pessoa do outro lado da mesa a adotar uma postura racional e baseada no bom-senso, você pode começar a negociar as condições para o motivo específico de sua discussão. Um fator de sucesso para qualquer negociação bem-sucedida onde ambos saem ganhando é que você não se atenha simplesmente a defender o que você quer versus o que a pessoa quer. Existem infinitas possibilidades e variações dos objetos a serem negociados e você raramente precisa ceder em tudo o que a pessoa quer. Deste modo, tente sempre enxergar de ângulos diferentes, tendo empatia para saber o que a pessoa realmente quer e precisa e o que é importante para você. Sempre que fizer concessões, faça com que o outro lado ao menos saiba o quanto ela é relevante para você e exija que ela faça o mesmo em relação aos ítens de sua preferência. Deste modo, poderá manter uma balança saudável e equilibrada de modo com que você não saia com a sensação de derrota e nem de estar lesando o lado oposto (se não for este o intuito). E, se acreditar que aquele não é o melhor negócio para você, peça um tempo para reanalisar e adie a data de decisão. Nada como um dia após o outro para repensar suas opções e procurar ajuda junto a suas pessoas de confiança.
Nesse leitura aprendi duas coisas que não estavam ali escritas mas que são de igual importância para o entendimento dos bullies:
1. Nem sempre um bully é uma pessoa má. Alguns na verdade acham que estão na verdade se defendendo de possíveis maus que você possa causar à ele, ou mesmo devido à traumas passados.
2. Ser um bully é como ter
mau-hálito. Quem tem, nunca sabe. Eu descobri que praticava
inconsciente alguns artifícios ali descritos e foi uma boa oportunidade
para me conscientizar e um primeiro passo para mudar. Ser bully é feio.
Muito feio. Mas pode te dar infinitas vantagens pessoais e
profissionais a curto prazo. Sendo assim, dependendo do intuito do
leitor, o livro poder ser um manual de como ser um bully muito bom, uma
vez que expõe todas as suas estratégias. Então é muito importante que você não se deixe levar influenciar pelo poder de falar mais alto e faça o que
é correto.
Para concluir e refletir, coloco aqui uma questão. A estratégia do bully é extrema e altamente perceptível. Os que não a praticam consideram-na desprezível e injusta. Mas se você leu e pratica os fundamentos do livro ” Como fazer amigos e
influenciar as pessoas” , de Dale Carnegie, você também é, de certo modo, um manipulador. Só
que de um modo tão elegante que poucas pessoas vão notar e provavelmente
vão até gostar de ser enganadas por você. A manipulação através da empatia claramente não é tão agressiva quanto a manipulação pela força. A manipulação pela liderança é com certeza a mais eficaz quando uma pessoa precisa impor sua vontade ou a de uma corporação em relação àqueles que interessa.
Obviamente preferimos ceder às táticas que não machucam nosso ser e que estimulam nosso ego, nosso espírito de equipe e que nos permitem ter mais confiança em nosso trabalho. Então seria a transparência realmente uma virtude?