Carreira Dev

8 out, 2009

Como a Economia do Grátis afetará o iPhone

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Você já deve ter ouvido falar em Chris Anderson, especialmente se trabalha com marketing digital. Ele é editor-chefe da revista Wired e escritor dos best-sellers A Cauda Longa e Free, que mudaram radicalmente o modo como muitos profissionais do mercado enxergavam seus modelos de negócios e estratégias de marketing.

O conceito do Free defende que nem sempre é o cliente final quem precisa pagar pelos produtos que você oferece. O lucro pode vir através da venda de mídia em seu site, usuários premium, serviços adicionais cobrados à parte, venda de banco de dados de usuários e inúmeros outros meios. Um grande exemplo desta modalidade de negócios é o Google Docs, onde o usuário utiliza toda a suíte de ferramentas sem custo algum, graças aos anunciantes.

Mas, afinal, o que isso tudo tem a ver com o iPhone? Onde ele se encaixa nesta categoria? O que mudou?

Até então, graças à AppStore, a Apple vem tendo lucros extraordinários com a distribuição de aplicativos pagos, desenvolvidos por terceiros e onde eles cobram do desenvolvedor uma comissão de 30% por venda, gerando um mercado estimado em 1 bilhão de dólares. Existem, também, muitos aplicativos grátis na AppStore, muitas vezes usados como isca para que o usuário, após utilizar a versão demo, sinta-se compelido a comprar a versão integral do aplicativo. O desenvolvimento de aplicativos para o iPhone até então é baseado em programação de baixo nível, sendo a mão-de-obra desta um tanto especializada, escassa e cara. O desenvolvimento destes aplicativos leva tempo. E tempo custa dinheiro.

Como muitos sabem, a Adobe vem trabalhado há bastante tempo no desenvolvimento de um Flash Player para o iPhone. Apesar de o player ter sido desenvolvido com sucesso, a Apple se recusou a disponibilizá-lo para o Safari, impossibilitando que os usuários possam navegar por sites contendo conteúdo Flash. Esse fato diminuiria radicalmente o mercado da AppStore, uma vez que os usuários poderiam utilizar ferramentas acessíveis via browser, sem a necessidade de download. Desse modo, o desenvolvedor, responsável pela produção dos aplicativos, não precisaria pagar qualquer comissão à Apple.

O que restou à Adobe foi incluir a possibilidade de criar aplicações standalone para a AppStore na nova versão do Flash, que será disponibilizada no primeiro semestre de 2010

Como isto afetará a AppStore? Diminuindo o custo de desenvolvimento dos aplicativos e descentralizando seu desenvolvimento, a resposta é VOLUME. Imagine o seguinte cenário: aproximadamente 2 milhões de desenvolvedores Flash poderão criar aplicativos para o iPhone sem precisar de nenhum conhecimento adicional, sem precisar migrar radicalmente de linguagem. Enquanto esse poder estava nas mãos de alguns poucos programadores de Objective C que se arriscaram a estudar a API do iPhone SDK, agora o volume de profissionais aptos a desenvolvê-los será muito maior, infinitamente maior, assustadoramente maior. Além disto, existem centenas de milhares de aplicações e jogos prontos em Flash que poderão ser facilmente adaptados para o iPhone.

Para o mercado Flash, esta é uma das melhores notícias de todos os tempos, criando uma demanda até então inexistente e que deve aumentar consideravelmente o volume de trabalho.

Em resumo, crescendo o número de desenvolvedores, cai o valor do desenvolvimento em si (pela própria lei da demanda versus disponibilidade). Diminuindo o valor do desenvolvimento, inúmeras pessoas e autônomos estarão dispostos a criar aplicações gratuitamente, como a maioria das start-ups que vemos hoje, transformando tudo que uma vez já foi pago em gratuito, visando obter uma base sólida de usuários e, com isso, obter lucro através de outras fontes, seguindo o conceito da Economia do Grátis.

Isso coloca em risco uma grande parte do mercado pago da Appstore, mas ínfimo perto do que aconteceria se o Flash Player chegasse ao Safari. Até quando a Apple conseguirá segurá-lo? Provavelmente até que a ausência do Flash Player comece a afetar a decisão de compra do consumidor.