Acessibilidade

25 mai, 2009

Supermercados: o preço da inacessibilidade

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Os supermercados estão comendo mosca!

Não sei quantas pessoas, hoje em dia, ainda sabem o que significa
esta expressão. Para quem não a conhece, quando minha avó dizia que
alguém estava “comendo mosca“, queria dizer que essa pessoa
estava deixando passar uma boa oportunidade, ou deixando-se passar para
trás. Pois acho que ela diria exatamente isto dos supermercados: “estão comendo mosca“.

Aqui em casa o queijo está no fim e já acabaram os guardanapos, o
champignon, o damasco, as azeitonas, o suco de caju… Está na hora de
“fazer supermercado”: fazer a lista, arranjar tempo, pegar o carro, ter
paciência com o trânsito, arranjar um bom lugar no estacionamento,
pegar um carrinho, manobrar o carrinho pelos corredores, procurar os
produtos, verificar as embalagens, o prazo de validade, conferir a
lista, enfrentar a fila do caixa, lembrar onde está o carro, colocar as
compras nele, torcer para ter acabado o engarrafamento, descarregar as
compras e levá-las para dentro de casa; mais ou menos umas duas horas.

Nada disso… Aqui em casa é diferente. Não tenho que enfrentar toda
essa chatice, infelizmente, pois sou cega. Ainda bem que existe essa
maravilha que é a Internet: é só ligar o computador, entrar no site do
supermercado preferido, aproveitar as promoções, passear pelas seções
virtuais, escolher os produtos, clicar para colocá-los no carrinho,
fechar a compra e pronto!

Pena que, no meu caso, não é bem assim…

Outro dia ouvi a Lu, minha colega de trabalho, dizer que iria
aproveitar o horário do almoço para fazer umas comprinhas pela
internet. Ela entrou no mesmo supermercado que utilizo e comprou, em
quinze minutos, a mesma quantidade de itens que eu demoro duas horas
para comprar.

Caramba! Será que sou tão lerda assim? Não, infelizmente não é um
problema meu, mas, sim, de todas as pessoas cegas. Os sites dos supermercados
são totalmente inadequados, não só para cegos, mas também para pessoas
idosas ou que têm dificuldade na utilização do mouse. Para começar, as
páginas são muito carregadas de informação e poluídas visualmente.
Gastamos muito tempo, lendo uma tonelada de coisas que não nos
interessam, até encontrar a informação ou os produtos que desejamos, ou
constatar que, simplesmente, eles não estão lá. As imagens
freqüentemente carecem de descrição em texto. As dicas e promoções
aparecem, inadvertidamente, no meio da informação… E, na hora de
fechar a compra, quem não pode usar o mouse tem que fazer alguns
malabarismos para preencher todos os campos solicitados nos
formulários. Solicitados, para quem? Devido a erros na codificação da
página, muitas vezes o texto da solicitação não está associado ao campo
onde devemos entrar com os dados. E temos ainda um problema que, pelo
menos, é bastante democrático, pois não atinge somente a este grupo de
usuários: as páginas são pesadas e, quando a conexão é lenta, demoram
muito para baixar.

Estes são apenas alguns dos problemas que dificultam ou impedem o
acesso de muitas pessoas. Mas o grande paradoxo é que são justamente
estas as pessoas que têm as maiores dificuldades para fazer
supermercado pelos meios tradicionais, ou seja, seriam estes os
clientes mais fiéis e assíduos dos sites de supermercado.
Conseqüentemente, se os sites de vendas fossem criados levando em conta
todos os clientes potenciais, eles seriam muito mais amigáveis e
agradáveis.

Portanto, se a minha avó ainda vivesse hoje e dissesse que os supermercados estão “comendo mosca”, não estaria coberta de razão?