Tecnologia

2 abr, 2013

Festival das luzes na era da interatividade

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Tomei de empréstimo para estas divagações o tema de um dos tópicos abordados na Conferência do Festival da Luzes de Lyon 2012, organizado pela LUCI Association e Prefeitura de Lyon, a que tive a oportunidade de assistir. Mais informações no site da LUCI.

Fiat Lux. Deus criou a luz e o homem criou a iluminação artificial, com a qual dominou a noite, afugentou os perigos e foi para a balada. Dizem que, desde 1850, os lionenses saem às ruas para admirar a atmosfera luminosa que a cidade ganha, sempre no dia 8 de dezembro.

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Et Si? – Daniel Knipper/ Production: GL EvetnsAudiovisuel (c) Muriel Chaulet/Fete des Lumieres

 

Inicialmente, essa iluminação era criada com velas acesas e dispostas nas janelas das casas de Lyon em homenagem e agradecimento à Virgem Maria por ela ter salvado a cidade da peste. Essa, pelo menos, é a história contada sobre o mais antigo e famoso festival das luzes, “La Fête des Lumiéres”, em Lyon, França. O que sempre me leva a pensar em como as possibilidades tecnológicas de iluminação mudaram muito nestes 150 anos de história.

Da parafina ao LED, passamos por iluminação a gás, luminárias de querosene, lâmpadas a arco voltaico, lâmpadas elétricas incandescentes e fluorescentes, neon, fibra ótica, light flex, refletores cênicos, moving heads, e assim por diante – isso sem contar o advento do cinema e seus desdobramentos digitais, como a projeção mapeada (videomapping). Um festival das luzes discute tudo isso, já que é, de fato, uma relação íntima entre as tecnologias de luz disponíveis, a arquitetura, o espaço público e a arte.

Para ampliar nosso entendimento dessas relações, voltemos à balada, ou melhor, à iluminação pública. Ela é fruto de um processo de urbanização crescente a partir do século XIX, que ampliou o convívio em espaços públicos noite adentro, gerando uma noção de segurança aos cidadãos. O que um festival das luzes dilata nesse contexto é a celebração conjunta dos conhecimentos científicos, responsáveis pela história humana, aplicados à imaginação e ao lúdico. Eu, pessoalmente, considero essa tarefa uma arte.

Outra obra que gostaria de citar é “Highlights” – não imagino melhor nome para descrevê-la, esta sim um videomapping monumental. Trata-se de um vídeo de aproximadamente sete minutos que se estende por três fachadas distintas que cercam a Place des Terreaux. O vídeo foi feito com bailarinos que, em determinados momentos, são projetados como pilastra dos edifícios e, em outros, aparecem desenhando as fachadas com luz de lanterna. Nota para a sincronização dos moving lights, refletores eletrônicos que possibilitam o movimento do facho de luz pelo espaço, que entram em cena para acompanhar o videomapping com luzes coloridas, ou para fazer parte da narrativa.

Para não se perder entre as inúmeras obras do festival de Lyon, foi criado um app (http://bit.ly/142iMc8), no qual constavam pequenas curadorias de caminhos propostos ao longo da cidade para visualizar as intervenções luminosas (eram cerca de 60 projetos). As rotas do app contavam com mapas e, se conectadas à internet 3G, eram capazes de orientar o usuário pelo festival. Além disso, era possível compartilhar as próprias fotos do festival, votar nas mais interessantes, e na iluminação que mais agradou, tudo por meio do aplicativo. Não tive oportunidade de usar as opções que necessitavam de Internet – vai ficar para o próximo ano.

E o que isso tem a ver com a era da interatividade?

E assim, meio sem querer e timidamente, este texto adentra ao tema: interatividade. Primeiro, vamos definir o que tratamos como interatividade. Da mesma forma que tomei de empréstimo o título, peguei emprestado também o conceito geral da série de palestras com a participação do artista Miguel Chevalier, que tratou a interatividade como um modo de encorajar a participação e a apropriação da obra por parte do espectador.

O conceito não é novo para um usuário mais avançado da Internet e dos videogames. Contudo, o suporte digital das novas tecnologias permite ampliar a ideia de interatividade para espaços cada vez mais diversificados. Entre as obras presentes no festival, pude perceber o uso generalizado de câmeras de detecção de profundidade, como a kinect. Ela emprega uma técnica que não é nova e consiste em usar iluminação infravermelha e uma câmera sensível a essa iluminação para detectar um corpo no espaço. O que a kinect fez foi criar uma ferramenta estável e acessível com esse conhecimento e ampliar para uma detecção 3D do seu objeto. Esse sistema de computação visual é tão aperfeiçoado e tangível que a opção por seu uso, atualmente de maneira massiva, em obras ditas interativas não é nenhuma surpresa. Basicamente, essa tecnologia foi usada no festival para permitir ao espectador usar seu corpo para interferir nas projeções. Lembro-me especificamente do “LABO#6”, uma experiência de estudantes de arte e design, e da obra “Murs Sensibles”, na fachada da Aliança Francesa de Lyon. Creio que havia mais uma obra, o “Eclat-Fresque Interactive”, que não consegui ver. Todas elas apontam para a expectativa de o festival se alinhar com essa questão contemporânea de engajamento do seu público, tornando-o coautor e provocando uma experiência cada vez mais afetiva.

Quem acompanhou o Intercon 2012, organizado pelo iMasters, pode ver na Arena Criatividade, eu e o parceiro Luis Leão demonstrando o uso da kinect. Mudamos as cores da iluminação lateral do evento de acordo com o movimento horizontal da mão (da esquerda para a direita) em frente à câmera. Para quem quiser ainda dar uma conferida nas experiências que fizemos com a iluminação do Intercon e possibilidades interativas, clique aqui.

É claro que sistemas de computação visual que rastreiam o corpo no espaço não são a única forma de se fazer interatividade. Ainda temos outra possibilidade da qual o Festival talvez se aproprie nos próximos anos, como a internet das coisas. Usar twitters, instagrams e outras redes sociais, ou mais ferramentas da rede para modificar e interagir com as obras, é uma possibilidade real hoje em dia. Outra novidade à qual vale ficar atento é o “hue, que a Philips lançou em outubro, um sistema de iluminação wireless em que o usuário é capaz de, a partir de seu sistema (iphone/ipad ou android), controlar a intensidade e a cor das lâmpadas instaladas. Não vejo a hora de encontrar uma dessas lâmpadas na balada.

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Este artigo foi publicado originalmente na Revista iMastersAcesse e leia todo o conteúdo.