* Texto originalmente publicado em 2005 no site NoMinimo.
Durante alguns poucos anos assinei uma coluna mensal chamada “.comportamento” no saudoso NoMínimo, que foi tristemente descontinuado no final de 2007. Ele, como o nome abertamente sugere, se propunha a criticar determinados movimentos da internet e da tecnologia em geral sob o ponto de vista do impacto em nosso humilde cotidiano. Fomos da cauda longa para leigos até a web 2.0, passando por o dilema de digitar ou escrever na internet.
Quase que por acaso me deparei com o texto abaixo que escrevi para o NoMínimo. Ele originalmente é de 2005 e fala de blogs. Tenho minha opinião sobre pontos que mudaria caso ele fosse reescrito hoje. Mas, por favor, fique à vontade para deixar o que acha nos comentários, ok?
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Blog: contração de weblog (web + log). Assunto batido, não? Tentou entendê-lo?
Ao pé da letra, parece apenas uma forma de deixar algo registrado, gravado na web. Apesar da simplicidade do significado, a fama e o burburinho atualmente ao seu redor têm, sim, um sentido: continuar a tal evolução digital. É um passo a mais não só na forma de comunicação online, mas também na tarefa de definir e manter laços sociais na rede. Vai além de gostar ou não. Eles já são mais de 100 milhões existentes no mundo e têm a ver com a atual condição da internet. É questão de ser, de estar.
Numa análise mais simplista, é possível relacionar o blog como o passo seguinte a uma série de ferramentas criadas para publicação e hospedagem de sites. Tais utensílios foram concebidos para quem não sabia HTML – linguagem que sustenta os sites – mas queria ter a sua página. Tudo de modo simples e rápido. Bastavam poucas escolhas sobre tamanho e cor de fonte, cor de fundo e mais um clique para que tudo estivesse publicado lá, no ar para quem quisesse visitar. E nessa mágica da programação, o GeoCities foi o primeiro, há anos. Diz a lenda que o serviço só surgiu porque um grande computador sem uso teria sido encontrado à deriva no canto de uma universidade estrangeira. Acabou servindo, então, de hospedeiro gratuito para sites do mundo todo. Gesto de caridade mesmo.
Pouco tempo depois, o modelo do GeoCities já estava amplamente consolidado. No seu rastro veio uma série de serviços idênticos, oferecendo soluções e espaço para quem quisesse ter sua página pessoal online. E, mais uma vez, a briga entre concorrentes do mesmo segmento foi benéfica ao usuário, fazendo com que as ferramentas disponíveis para produção e edição dos sites – tudo de modo online e através de qualquer navegador – fossem ficando mais e mais sofisticadas.
Apesar de todas as funcionalidades dos sistemas oferecidos até então, ainda faltava algo no mercado que pudesse popularizar ainda mais o acesso à produção de conteúdo para a web. A questão não era nem tecnológica, mas sim de produto, de forma, de proposta. E é justamente nesse capítulo que aparecem os blogs – justiça seja feita: muito em função do Blogger, atualmente uma marca do Google. Sim, `aparecem`, pois o uso da web como forma de registrar informações pessoais, ou de qualquer outra conotação, tem datas antiqüíssimas. O segredo do `novo blog` estava na embalagem, novamente na proposta. Qualquer usuário, a partir de então, poderia ter o seu cantinho na web para falar sobre o que quisesse de um modo ainda mais fácil de usar e atualizar.
Recursos simples e banais tiveram considerável importância social para os blogs, como a possibilidade de comentar um conteúdo publicado e a capacidade de dar notas para os mesmos. Com eles as páginas ganharam interatividade, vida, polêmica, participação. Ganharam comunicação. A integração com o RSS, tecnologia que permite que qualquer um seja avisado sobre novidades em um site, também teve a sua parcela nos méritos da adesão aos blogs, ao lado de tantos outros detalhes que renderiam uma enciclopédia.
É bem verdade que os blogs acabaram virando sinônimo de diários pessoais – até porque a maioria deles tem esse objetivo. Mas escrevê-los serve como terapia para a metade dos mais de 600 bloqueiros entrevistados em uma pesquisa encomendada por um provedor norte-americano. É gente de todo tipo a contar como acordou, o que comeu, com quem brigou. Além disso, 31% procuram blogs em momentos de carência e ansiedade, contra 5% que contratam os serviços de psicólogos e especialistas da área. Somente os conselhos de amigos e da família ganham prioridade em relação a ele. Curioso? Não, parece apenas uma fresta do que se vê na vida moderna.
O assunto foi ficando tão sério e complexo que o termo blogosfera apareceu para exprimir o mundo dos blogs. Espécie de ciência própria, que engloba suas características, seu comportamento, suas regras. É uma comunidade com várias outras, menores, no seu interior. Todas interligadas, inteiramente linkadas. Na blogosfera termos novos não faltam. Tecnologias e recursos, também não.
Nesse cenário, incontáveis são os exemplos de endereços que dispõem de qualidade diferenciada e de posicionamento distinto. Não são mais somente diários pessoais. Como reflexo espontâneo do cotidiano, agora eles falam sobre humor, esportes, negócios, mídia, sexo e todo e qualquer tópico inerente ao ser humano. Nesse processo, era questão de tempo para que a indústria que circula em torno da internet mirasse seus olhos neles. Passaram a atrair e fabricar dinheiro. É a prova de que blogs podem ser fontes de conteúdo e entretenimento confiáveis e que merecem o profissionalismo.
Assim como tudo, existem blogs bons e blogs ruins. Podem ser divertidos ou extremamente frios. Interessantes ou patéticos. Quantos sites `convencionais` você já não visitou e deixavam a desejar, ou tinham um tema completamente desprezível? E quantos outros não eram espetaculares? Isto vale para os blogs também. Vale para qualquer coisa.
Muitas vezes uma página que recebia o rótulo de blog perdia a sua seriedade. Seria, então, uma questão de nomenclatura? Se recebesse outro nome poderia `ser` melhor? Ou agora, com o capital procurando os blogs, eles podem ser valorizados e reconhecidos como sérios – aqueles que se propuseram ser sérios?
Tudo isso é a web, nada mais do que uma parte da web, uma forma dela. Fica cada vez com mais cara do mundo desplugado. Não fosse pelos blogs, todo esse conteúdo, todo esse jeito, viria à tona por outro meio, de outra forma. Ou, até, com outro rótulo. E ainda bem que ele está online.