Marketing Digital

22 dez, 2010

Zuckerberg e Assange: mesmos sonhos, destinos diferentes

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Ele é hacker, tem
relações familiares conturbadas, já foi preso mais de uma vez e é
considerado o inimigo público número 1 do Estado moderno. Já o
outro também é hacker, filho de dentista, família estruturada e
estudou em Harvard.

As distintas trajetórias desses dois homens os
levaram a um ponto em comum: ambos são personalidades do ano pela
Time, o primeiro é escolhido pelo corpo editorial da revista, o
segundo, pelo voto popular.

A revista que já
elegeu Hitler, Stalin, Bush (pai e filho), elege agora Mark
Zuckerberg, criador do Facebook. Mas sejamos justos: a Time também
já fez boas escolhas, como em 2003 quando elegeu “Você” como
personalidade do ano. Porém, precisamos lembrar qual o critério
utilizado pela revista norte-americana. Consta na Wikipedia que a
escolha se dá pela influência: “para melhor ou para pior, quem
mais exerceu influência nos acontecimentos do ano” é escolhido.

O sonho de Zuckerberg

Muitas empresas já se
ofereceram para comprar o Facebook de Zuckerberg. Uma delas, a
Microsoft, chegou a oferecer US$ 15 bilhões. O nerd recusou sem nem
pensar muito. O motivo, segundo ele, é simples:

Não é por causa da quantidade de dinheiro. Para mim e meus amigos, a coisa  é criar um fluxo aberto de informação para as pessoas.
Ter um conglomerado detendo diversas corporações de mídia não é
uma ideia atrativa para mim – Fonte: Wikipedia

Mark sonha com a
liberdade e a transparência. Assange também. O que faz com que Mark
esteja milionário e Assange preso?

O calvário de Assange

O conceito de liberdade
e transparência dos dois nerds é bem parecido. Mas enquanto o de
Zuckerberg se aplica à vida privada, o de Assange tem foco na vida
pública. Aqui temos a inversão de papéis e entendemos o porquê do
sucesso de um e do calvário de outro.

Tornar a vida privada
objeto de transparência total pode se traduzir em controle e
vigilância. O sonho de Zuckerberg, nesse sentido, pode então ser a
mais poderosa arma de controle social para o poder público e
investimento social para o capitalismo. Você pode saber tudo sobre
as pessoas através do Facebook.

Publiquei em outra
ocasião um artigo sobre controle e vigilantismo na web 2.0. O texto trazia uma entrevista com Eben Moglen, professor de Direito da
Universidade de Columbia. Recomendo a leitura na íntegra do post,
mas a parte que mais nos interessa é o papel das redes sociais nessa
coisa de vigilância.

Segundo Moglen, o negócio das redes sociais (e
aqui o Facebook é a empresa mais bem sucedida) é a espionagem
deliberada. Calma, não é teoria da conspiração. O professor nos
alerta que a informação é a moeda mais valiosa para o capitalismo
do século 21.

Nesse sentido, Eben Moglen alerta que a forma que encontraram de ganhar
acesso à vida privada é oferecer páginas gratuitas e alguns
aplicativos. Uma péssima troca para o usuário que degenera a
integridade da pessoa humana. É como viver num regime totalitário.

Assange inverte essa
lógica. Aponta para o terreno do poder público os faróis da
liberdade e transparência (que trazem embutidos o controle e a
vigilância).

Oras, o Estado não quer ser vigiado pela sociedade
civil. Nunca quis. Por isso, a cabeça de Assange foi a prêmio e
ele acabou sendo preso e condenado por outro crime (abuso sexual e
estupro) para silenciá-lo. Claro que não deu
muito certo. Vocês conhecem a história.

A prisão de Assange
desencadeou uma onda de contra-ataques a todos serviços que cortaram
relações com o wikileaks. O Paypal, por exemplo, sofreu o que foi
chamado de “payback” – pessoas de todo o mundo incentivaram
clientes do Paypal a retirarem seus investimentos do serviço a fim
de prejudicá-lo. Esse fato, junto a outros, desencadeou o que foi
considerado a primeira ciberwar do mundo, que está acontecendo agora
mesmo.

Liberdade, controle e
vigilância

Zuckerberg e Assange
serem considerados personalidades do ano pela Time prepara um
perigoso terreno para 2011. Se os nerds foram os homens do ano,
“liberdade” foi a palavra. E em 2011, é bem provável que os
discursos em torno dessa expressão ganhem dimensões nunca antes
vistas.

A capa da Time desta vez revela o que está por vir, não o
que se passou.

Torçamos e lutemos
para que, em 2011, “liberdade” seja a personalidade do ano. Pois
ainda há chances de vermos estampado na Time as palavras “censura e
controle”.