Marketing Digital

10 dez, 2012

O corte conceitual em projetos de curadoria de conteúdo

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Primeiro artigo aqui.

O mito do “homem Renascentista” foi durante muito tempo uma abordagem recorrente para se definir as potencialidades de se trabalhar com conteúdo digital.

Viveríamos a plenitude do conhecimento total, onde coletivos pensantes se reuniriam de forma assíncrona e independente do seu espaço físico para produzir um salto evolutivo no conhecimento humano.

Mas basta uma rápida voltinha pelo seu feed de notícias para perceber que, bem, escorregamos feio no cumprimento desse potencial. Memes mais famosos de todos os tempos da última semana, Luizas no Canadá, Ginas e seus palitos e Echo Homos são só alguns exemplos de que a mediocridade tomou conta.

Sem preconceitos: a média é mais numerosa do que a exceção, por questões puramente lógicas e matemáticas. No entanto, quando você coloca um cliente nesse meio, ele quer se sobressair. E, ficando na média (em termos conceituais, estéticos e comerciais), o retorno é sempre abaixo da média.

E é aí que projetos de curadoria podem ajudar. Mas, para isso, você precisa ajustar um detalhe muito importante:  o corte conceitual.

Como definir os temas de meu projeto de curadoria?

Não existe a curadoria sobre “tudo”. Porque, em última análise, a web É a curadoria do todo. Caso fôssemos visitados por uma civilização alienígena neste exato momento e eles proferissem o famoso “levem-nos ao seu líder”, muito provavelmente ofereceríamos a eles um navegador e nossa lista de endereços favoritos. A web hoje representa os anseios, limitações, acertos e erros de pouco menos de 1/3 da população mundial.

Portanto, o corte conceitual em um projeto de curadoria é a determinação da fatia do bolo que você (ou sua marca) escolherá para representar a visão desse “todo”. E, mais, de que lado você começará a degustar a iguaria. Se pela cobertura caramelada, se pelo recheio ou se pelos dois.

Vamos dar um exemplo recente: o lançamento no iPhone 5. Atendemos aqui na Contém Conteúdo dois clientes de orientações um pouco diferentes sobre o tema tecnologia e gadgets: uma grande rede de varejo e um portal de tecnologia.

Para ambos, o lançamento do novo smartphone da Apple é notícia e precisa de cobertura e material no ar, poucos minutos após a conferência em São Francisco. O varejo tem uma pegada mais focada na rapidez de aquisição do produto. Algo como “ A Apple lançou e logo, logo estará por aqui”. No portal de tecnologia, que tem equipe interna para a cobertura em si, optamos por ir um pouco mais a fundo, trabalhando temas relacionados ao evento de apresentação do produto, como as vantagens da tecnologia Edge 4G, por exemplo.

Em resumo: no primeiro caso, optamos por oferecer uma degustação da cobertura caramelada; no segundo, o recheio. Mas ambos alimentaram os leitores. Foi uma simples questão de opção e, sem medo de repetir o tema deste post, de corte conceitual.

Por que o corte conceitual é necessário?

Este artigo começou com um tom um pouco pessimista demais, relegando os feitos e os efeitos da cultura digital a uma coleção de piadas de gosto duvidoso. Mas, alto lá.

…corte conceitual é a determinação da fatia do bolo que você (ou sua marca) escolherá para representar a visão desse “todo”. O pensamento coletivo gerou também iniciativas sociais louváveis, modelos de negócio revolucionários e oportunidade de participação de populações que antes não tinham acesso a conteúdo.

Até por isso, ao assumir um projeto de curadoria, você deve estar pronto para “ir para dentro” dessas conversas, incluir o cliente que você representa em fluxos de ideias que transcendem o advento da cultura digital mas que, apesar disso, encontram nessas ferramentas força motriz renovadora.

Parafraseando aqui Seth Godin, no livro Unleashing the Idea Virus, você só conseguirá adesão e engajamento quando merecer atenção. Apesar dos marketplaces de anúncios, likes e RTs tão em evidência hoje, o trabalho de curadoria e gestão de conteúdo em ambientes digitais é fundamentalmente um ambiente de merecimento.

Quando você coloca sua marca como fonte ou ponto de apoio em alguma questão que 1) tenha relação direta com os atributos que ela representa e 2) que ofereça oportunidades de diálogo reais com aquilo e aqueles que consomem o seu conteúdo, sua chance de sucesso é bem maior.

Procure evitar a polêmica ou virar um escravo do “novismo”

Um dos principais erros de trajetória em um projeto de curadoria é fazê-lo pensando em se sustentar em cima de polêmicas. O termo anda meio banalizado mas, em sua origem etimológica polêmica, tem a ver com confronto radical de ideias opostas e, se para filosofia isso é um ponto positivo e denso em seus atributos conceituais, no mundo da cultura digital, se traduz basicamente em fotos constrangedoras de celebridades, descobertas científicas duvidosas ou lendas urbanas recém-cunhadas.

Não podemos negar: a polêmica traz retorno, curtidas, RTs, seguidores. Não fosse por um único detalhe, a polêmica seria o motor perfeito para o corte conceitual em seu projeto de curadoria. E esse detalhe se chama TEMPO.

A polêmica se sustenta, única e exclusivamente no tempo da polêmica. Para algumas, será uma semana, para outras, alguns meses. Vejam o caso de videocasts que despontam, alcançam o seu auge e a) ou viram programas em TVs por assinatura ou b) somem. Para eles, a curva é de exatos 12 meses. Temos acompanhado nos últimos três anos essa curva e ela, realmente, não passa disso. Não, pelo menos, em termos suficientemente caudalosos para garantir sucesso para seu cliente.

Então, caso não queira transformar seu belo projeto de curadoria em uma drosophila super desenvolvida que tem na certeza de seu fim sua única razão para sobreviver, evite a polêmica.

Outro detalhe a se observar com atenção é a praga moderna do “novismo”. Pergunte para qualquer adolescente ou jovem adulto qual é a música mais antiga que ele conhece. Ela terá a idade do verão passado. Simples assim: “música velha” é aquela que não está mais no TOP alguma coisa de seu canal de conteúdo preferido.

A noção de tempo real em que se consome conteúdo é tão intensa que, ao sair de uma timeline, ou do radar de percepção dessa turma sem atenção ou foco, uma peça de conteúdo torna-se instantaneamente velha. E, no melhor estilo “você é o que você compartilha”, o velho não tem valor social.

Qual a decorrência disso para um projeto de curadoria? Transformar-se em refém, escravo desse “novismo”. Nada mais contraditório com o processo criterioso de seleção e categorização e conteúdos relevantes para um público do que a submissão à “última moda mais famosa do mundo da última semana”.

Se evitar a polêmica e libertar-se da necessidade de selecionar somente o novo são importantes, mais ainda é a escolha do TOM e PROFUNDIDADE de seu projeto de curadoria. De simples agregação à montagem de paineis temáticos, a brincadeira começa a ficar interessante. Mas falaremos sobre isso no próximo artigo.

Até lá, comentários!