Um dos grandes debates tecnológicos da atualidade é a divisão de papéis entre os profissionais humanos e a IA (inteligência artificial). Especificamente na área da tecnologia, a discussão sobre a função do dev sênior se intensificou ainda mais nesse sentido, considerando alguns acontecimentos recentes.
Vamos começar pelo caso do editor de código Cursor como exemplo. A ferramenta alterou sua política de cobrança de maneira pouco clara, o que gerou indignação entre muitos desenvolvedores.
A principal razão da revolta foi que somente com o novo plano pago, dez vezes mais caro do que o atual, os usuários poderiam utilizar a ferramenta sem limites em suas atividades.
Embora o acontecimento possa parecer apenas uma polêmica, ele levanta uma questão importante sobre o papel do desenvolvedor sênior na era da inteligência artificial.
Apoiar-se totalmente em ferramentas de IA como o núcleo do desenvolvimento é arriscado, pois, apesar de inovadoras, elas podem, com o tempo, promover profissionais com limitações. O verdadeiro potencial da IA não está em substituir o conhecimento e a experiência do desenvolvedor sênior, mas em potencializar suas habilidades
Vamos partir agora para o caso recente do Llama 4, o novo modelo de IA da Meta. Nos testes, a ferramenta não atingiu as expectativas desejadas, o que desencadeou grandes mudanças internas, inclusive na estrutura da empresa. Mark Zuckerberg em pessoa criou um laboratório de superinteligência e recrutou algumas das maiores referências globais em engenharia de IA para lidar com o entrave, inclusive da concorrência (Apple, OpenAI, Google, etc.).
O dono da big tech ofereceu salários milionários para esses especialistas. Isso mostra o quanto eles são indispensáveis e nenhuma tecnologia de última geração vai alcançar o seu propósito integral sem a ação dessas pessoas. A criticidade humana é imprescindível na transformação digital.
Curadoria estratégica
Todos os exemplos citados mostram que a área de desenvolvimento não pode depender do uso exclusivo da IA. A criação e o aprimoramento de ferramentas como o Copilot, o ChatGPT e o Gemini moldam mercados e rotinas inteiras, mas não representam por si só a qualidade das entregas. Essa responsabilidade é do usuário.
A curadoria estratégica do dev sênior é o que permitirá irmos além da simples automatização. Essa figura está na posição central da interpretação e lapidação das respostas propostas pelas IAs, de modo que a programação evolua de maneira criteriosa e eficiente.
Com esse conhecimento robusto sobre a tecnologia, será possível formar líderes que repassem o seu uso correto. Ensinar a programar de modo puramente técnico é algo que não conversa com a inovação. O aprofundamento no tema não só tende a gerar diferenciais criativos, mas também facilitar a detecção de riscos e eventuais gargalos.
A própria questão ética também entra nessa discussão. O enviesamento e a segurança da informação são temas recorrentes nos debates sobre IA (e com razão), devendo ser tratados com o máximo de cuidado e transparência pelas empresas. Isso começa com profissionais que conseguem mesclar técnica e humanidade no dia a dia.
A senioridade não é saber tudo de cabeça, dominar todas as linguagens ou entregar códigos perfeitos. Senioridade é saber tomar decisões com base em contexto, objetivos e visão de produto. É entender que tecnologia serve a um propósito maior: o de resolver problemas reais.
O dev sênior não é mais um executor, mas sim um agente de transformação. Ele guia times, influencia culturas organizacionais e promove debates fundamentais sobre como, quando e por que aplicar determinada solução.
Em tempos de IAs cada vez mais complexas e desenvolvidas, essa consciência é ainda mais valiosa, sendo o que impede que avancemos com pressa e sem direção clara.




