Nos últimos anos, a IA (inteligência artificial) se consolidou como o tema mais quente da tecnologia. Produtos, serviços e até pitches de startups passaram a usar a sigla como selo de inovação. Mas como em todo ciclo tecnológico, o entusiasmo inicial deu lugar à cobrança por resultados concretos.
Esse movimento já se reflete em algumas pesquisas. A edição de 2025 do relatório anual “Technology Vision”, que foi produzido pela consultoria Accenture e entrevistou mais de quatro mil executivos do mundo todo, revelou que apenas 36% deles dizem que suas organizações escalaram soluções de IA generativa. Além disso, somente 13% relatam impacto empresarial significativo em nível de toda a companhia.
Essa distância entre intenção e prática também aparece no último levantamento “The state of AI”, divulgado em março pela McKinsey & Company e que revelou as impressões de quase 1.500 respondentes sobre o tema. De acordo com o documento, só 21% dos entrevistados que trabalham em empresas que usam IA generativa observaram uma reformulação significativa em alguns fluxos de trabalho. Para completar, menos de um terço relatam que suas companhias estão seguindo a maioria das 12 práticas de adoção e escalonamento da tecnologia.
Há uma lacuna clara entre adoção e maturidade. Muitas empresas experimentam essa ferramenta tecnológica, mas poucas conseguem transformá-la em resultados com impacto real.
Essa realidade já demonstra sinais de saturação. As big techs que dominam o desenvolvimento de modelos de IA seguem valorizadas, porém várias outras organizações que surfaram apenas na narrativa viram sua relevância diminuir.
Esse cenário não significa que a tecnologia perdeu força, pelo contrário. A transformação provocada por ela é irreversível. O que mudou foi o critério: não se trata mais de anunciar uma integração com IA, mas de mostrar métricas claras de ganho de eficiência, aumento de produtividade ou novos fluxos de receita.
Projeções para o futuro
Em suma, a lição é simples: a fase de encantamento acabou, e o mercado agora premia a consistência. Startups que usam a IA para resolver problemas específicos, com clareza de modelo de negócio, encontram hoje mais espaço do que aquelas que se apresentam como “disruptivas” apenas no discurso.
Um exemplo recente é o da Enter, startup de IA para o direito. A empresa vem sendo reconhecida justamente por entregar resultados concretos: recebeu investimento da Sequoia Capital e do investidor Peter Thiel, e acaba de conquistar uma segunda rodada, atingindo um valuation de R$ 2 bilhões. A Enter, inclusive, foi tema do episódio 178 do nosso podcast IA Sob Controle, que contou com a participação de Michael Mac-Vicar, cofundador e CTO da empresa. Vale a pena conferir!
As lideranças precisam trabalhar para integrar a tecnologia de forma responsável e mensurável no dia a dia dos times. Ainda existe muito terreno a ser explorado por quem souber transformar projetos-piloto em estratégias consistentes, com objetivos bem definidos e retorno comprovado.
Nos setores onde há dores urgentes, a oportunidade de crescer com o impacto real da IA é ainda mais clara. Mercados como logística, saúde, educação e serviços financeiros que não usarem a ferramenta como modismo, e sim como diferencial competitivo capaz de reduzir custos, ampliar acesso e transformar a experiência do usuário, entrarão com o pé direito nessa nova fase.
No fim das contas, a grande virada de chave é entender que IA não é mais uma carta de apresentação para investidores ou manchetes. Ela precisa ser, acima de tudo, uma fonte de valor. Só sobreviverão as empresas que conseguirem traduzir código em impacto.