Na semana passada tive o privilégio de participar de um painel da edição paulistana de DevDay Exchange São Paulo — a versão local do evento global OpenAI DevDay — e, como alguém que acompanha o mercado de tecnologia há muitos anos, saio com muitas reflexões: sobre o evento em sua forma “origem” nos EUA, sobre o que ele representa para o setor de IA e, especialmente, sobre o que isso significa para nós, desenvolvedores brasileiros.
A origem: OpenAI DevDay nos EUA
O DevDay da OpenAI nasceu como a grande conferência anual da empresa para desenvolvedores — foi lá em San Francisco que, em 6 de outubro de 2025, a OpenAI lançou o que chamou de sua “maior DevDay até agora”.
No evento norte-americano, os participantes assistem a keynotes com os executivos de topo, sessões técnicas profundas, demonstrações ao vivo de novos modelos, ferramentas para desenvolvimento de agentes, integração multimodal, etc.
É um momento em que a empresa revela sua agenda para o ano seguinte — o que vai liberar de API, que modelos entram em produção, qual será sua estratégia de plataformas e ecossistema de parceiros. Por exemplo: no DevDay 2025 foram anunciados modelos como o “Sora 2”, o “gpt-realtime-mini”, o kit de agentes “AgentKit”, entre outros.
Para o setor, isso representa o “momento de alinhamento” — quando todos olham para onde a OpenAI está apontando, e começam a calibrar suas apostas de produto, de arquitetura, de estratégia de IA.
O que o evento representa para o setor tecnológico
Participar ou acompanhar o DevDay (nos EUA ou nas variantes regionais) significa alguns impactos importantes:
Definição de rumo: quando a OpenAI mostra novas ferramentas, ela impacta não só quem já é “early adopter”, mas também quem está planejando entrar no ecossistema. Ver onde as APIs vão, quais modelos virão, ajuda a decidir “onde investir” em pesquisa, produto ou equipe.
Ecossistema em movimento: não é só sobre modelos — é sobre plataformas, integração, agentes autônomos, recursos multimodais. Isso muda o jogo para empresas de software, para startups, para times de devs. Por exemplo, a noção de “app dentro do ChatGPT” já aparece como nova fronteira.
Competição e colaboração global: vimos no evento que a OpenAI está enfrentando concorrentes fortes (como Google, Anthropic) e, ao mesmo tempo, buscando parcerias, formas de escalar, de democratizar acesso.
Mudança de mindset para desenvolvedores: quem vai ao DevDay volta com “idéias maiores”: não simplesmente “usar um modelo para preencher X”, mas “como criar agentes, como construir workflows, como projetar comportamento de IA, como gerar valor real com IA”. A técnica de “prompt + modelo” ainda é importante, mas o evento empurra para “arquitetura de agente + modelo + integração”.
O que significa para os desenvolvedores brasileiros
E aqui é onde a edição de São Paulo assume um papel especial — e sou grato por ter participado.
Acesso local: nem todo dev ou startup no Brasil tem condição de voar para San Francisco, fazer o evento em inglês, absorver tudo. A versão aqui permite “ver de perto” o que está acontecendo globalmente, com contexto local, com networking em português, com trocas que fazem sentido para o mercado brasileiro.
Adaptação ao mercado local: o Brasil tem particularidades — idioma, cultura de produto, modelo de negócio, infraestrutura. Ver como os lançamentos globais se inserem no nosso contexto ajuda a calibrar “o que faz sentido aqui”. Por exemplo: se uma API exige uma infraestrutura de latência baixa ou consumos de tokens altos, como isso pesa em empresas brasileiras?
Incentivo à construção de ecossistema: participar desse tipo de evento mostra que “não somos periféricos”. O Brasil está dentro da rota global de IA, e isso abre oportunidades para parcerias, projetos, inclusive de visibilidade internacional. Para devs, isso significa “estamos na rede”.
Desenvolver com ambição: estar num DevDay abre o horizonte. Percebi ontem em São Paulo que vários participantes já estavam pensando “e se a gente construir um agente para X?”, “e se a gente usar isso para produto Y?”. Ou seja: o nível de ambição sobe.
Rede de contatos e inspiração: além das palestras, a troca de ideias, os “hallways”, os workshops — tudo isso gera inspiração. Que tipo de aplicação de IA eu posso fazer hoje, com as ferramentas que a OpenAI já liberou? Que dúvida técnica ainda tenho? Que parceria posso buscar? Essas respostas fluem mais facilmente quando se está num evento.
Minhas principais reflexões após o evento em São Paulo
* Vi mais claramente que IA de produção está deixando de ser “experimento” para virar “produto”. Os kits de agente, as ferramentas para automação, mostram que agora o foco é: “Como vou colocar isso em funcionamento real?”
* A barreira entre “modelo de IA” e “logic workflow / agente autônomo” está se estreitando. Ou seja: não basta ter o modelo, é preciso ter “o que fazer com ele”. E isso muda o perfil do dev.
* No Brasil, temos uma janela de oportunidade: muitos players ainda não estão totalmente atentos às mudanças rápidas que um DevDay sinaliza. Quem absorver essas mudanças mais cedo pode ganhar vantagem.
* Ao mesmo tempo: ajuste de expectativas. As ferramentas são poderosas, mas não são “plug & play perfeito” em todos os contextos. Latência, custo, tokenização, integração… são fatores que aqui importam mais.
* Para mim, ficou claro que este tipo de evento favorabiliza quem está disposto a mudar, aprender e experimentar. Se você for “continuar com o mesmo pipeline de sempre”, talvez não aproveite tanto. Mas se quiser repensar arquitetura, produto, integração de IA — esse é o momento.
Conexão
Participar da edição de São Paulo do DevDay Exchange foi mais do que “assistir a palestras”: foi conectar global + local, compreender “o que vem pela frente” da OpenAI e refletir como nós, no Brasil, podemos entrar nessa próxima onda de IA com mais preparo.
Para os desenvolvedores brasileiros, meu convite é simples: leve isso como um chamado para agir. Inspecione o que foi anunciado, projete o que pode caber no seu produto, experimente. Se o evento global define a rota, nós precisamos estar prontos para embarcar.