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16 mai, 2011

Como ficaria o código aberto em um mundo pós-PC?

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Em um artigo no site germano-britânico The H, Glyn Moody (autor do livro “Rebel Code: Linux and the Open Source Revolution”) analisa uma hipótese instigante e que vem sendo abordada com frequência crescente por proponentes de tecnologias com propostas de mobilidade, como tablets e smartphones: a possibilidade de estarmos chegando a uma era pós-PC, em que os computadores de mesa e suas versões menores (os notebooks e netbooks) deixem de ocupar a posição de destaque que tiveram desde a década de 1980.

Desfazendo dois equívocos frequentes a respeito, é bom delimitar a hipótese que está sendo tratada aqui, esclarecendo que:

a) não se trata de afirmar que já estamos vivendo na era pós-PC, e;

b) não se trata de afirmar que os desktops e notebooks desaparecerão ou se tornarão raros.

Ou seja: trata-se da ideia de que estamos em transição para um período em que outras formas de interação com a tecnologia serão mais presentes do que o tradicional modelo baseado em processamento local, teclado e mouse.

Mas Moody não trata da hipótese como um todo, e sim de um aspecto dela que tem apelo especial comigo: o que aconteceria com o código aberto nesta possível era pós-PC da qual estaríamos hoje vivendo a véspera?

Para responder, ele analisa a presença atual do código aberto nos chamados dispositivos pós-PC: tablets e similares, bem como a sua visibilidade (ou não) na estrutura criada ao redor deles.

Não tenho dúvida de que o critério preço é uma justificativa insuficiente para defender o modelo de código aberto, mas isso não é razão que me faça discordar da visão do autor sobre o desafio muito maior de o código aberto concorrer pela atenção do consumidor médio quando se percebe que ele está satisfeito com o nível de preço, disponibilidade, qualidade e conveniência das apps oferecidas como código proprietário para a plataforma que escolheu – ainda mais quando sabemos o quanto é difícil incutir no público a questão da liberdade do licenciamento como um critério de seleção de softwares.

Uma das situações abordadas por Moody já foi tema de artigo anterior aqui neste espaço: a App Store da Mozilla, baseada no modelo de aplicações web capazes de rodar em qualquer navegador – inclusive os móveis.

Naturalmente a execução em ambiente web e a oferta por meio de uma app store poderia ser um modelo viável para fazer os aplicativos de código aberto chegarem até a atenção e o dispositivo dos consumidores. Mas o próprio Moody foi atrás de uma ocasião recente em que o modelo de web apps atuou como concorrente do modelo de aplicativos nativos para uma linha de dispositivos móveis, e a preferência (dos desenvolvedores e dos usuários) pendeu claramente para o modelo nativo.

Quando o raciocínio é baseado em cenários hipotéticos, a solidez dos modelos é difícil de ser verificada, a não ser pela prova mais prática de todas: aguardar para ver o que acontece.

Aplicativos que hoje são grandes exemplos de visibilidade do código aberto, como o Firefox e o LibreOffice, talvez ainda estejam muito longe de realmente mostrar sua capacidade de adaptar-se bem a um mundo pós-PC.

Por outro lado, componentes em código aberto como o WebKit estão presentes na execução de muitos dos aplicativos de sucesso no mundo da mobilidade, o sistema Android (baseado em código aberto) está em crescimento incontestável, e os servidores que suportam a famosa “nuvem”, elemento do sucesso do modelo pós-PC, rodam pilhas e mais pilhas de softwares de código aberto – do kernel ao servidor web, passando pelos bancos de dados e muito mais.

Onde isso vai parar? Nem Moody e nem eu podemos afirmar, mas tenho uma certeza a compartilhar: a hora de pensar nisso, para quem tem fichas apostadas no código aberto, é agora!