Leia os artigos anteriores:
- Qualidade em projetos de softwares: melhorias de processos com base no MPS.BR e CMMI – Parte 02
- Qualidade em projetos de softwares: melhorias de processos com base no MPS.BR e CMMI – Parte 01
*
Bem,
pessoal, como vimos no artigo anterior, o CMMI é um modelo de
maturidade para desenvolvimento de software criado pelo SEI.
Mostramos
abaixo a representação da estrutura dos níveis de maturidade do
CMMI. Cada nível de maturidade representa um estágio evolutivo bem
definido com relação à obtenção de um processo de software
maduro.
Com
exceção do primeiro, cada nível de maturidade é decomposto em
áreas chave de processo, que indicam as áreas nas quais as
organizações deverão direcionar seus esforços para alcançarem a
melhoria de seus processos no desenvolvimento dos softwares.
- Nível
Inicial: organizações neste nível do CMMI tipicamente não provêem
um ambiente estável para o desenvolvimento e a manutenção do
software, não existindo a presença de processos definidos. Ainda
assim, organizações neste nível conseguem desenvolver softwares
que funcionam, apesar de na maioria das vezes excederem o orçamento e
estourarem o custo. - Nível Repetível: aqui observamos que as organizações passam a ter políticas para gerenciar um projeto; procedimentos
para implementar tais políticas são estabelecidas. Os projetos são
gerenciados de forma a permitir o acompanhamento dos custos, do
cronograma e da implementação das funcionalidades, definindo-se
padrões para os projetos e a organização assegura que estes
padrões são seguidos. - Nível
Definido: o processo padrão é documentado e utilizado por toda a
organização para o desenvolvimento e manutenção de software.
Existe um programa de treinamento implementado capaz de assegurar que
a equipe e os gerentes tenham conhecimento e a habilidade requeridos
para desempenharem seus papéis. Para cada projeto, o procedimento
padrão pode ser adaptado de forma a atender os requisitos
específicos do projeto. - Nível
Gerenciado: metas quantitativas da qualidade são estabelecidas tanto
para os produtos quanto para o processo de software. A produtividade
e a qualidade são medidas em todos os projetos por meio de
processos, como parte do programa organizacional de medições. As
organizações são consideradas quantificáveis e previsíveis, pelo
fato de o seu processo ser medido e por operar em limites
quantitativos. Este nível permite à organização predizer
tendências na qualidade do processo e do produto por meio destes
limites. - Nível
Otimizado: organizações com o nível 5 de maturidade são
focadas na melhoria contínua do seu processo, tendo objetivo de
identificar pontos fracos e pontos fortes do processo, de forma a
prevenir a ocorrência de defeitos em seus produtos. As melhorias
acontecem tanto pelos avanços incrementais nos processos existentes
quanto pela inovação utilizando novas tecnologias e métodos.
O MPS.BR
O MPS.BR é um programa
para Melhoria de Processo do Software Brasileiro coordenado pela
SOFTEX (Associação para Promoção da Excelência do Software
Brasileiro), contando com o apoio do MCT (Ministério da Ciência e
Tecnologia), da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento. A coordenação do Programa
MPS.BR conta com duas estruturas de apoio para o desenvolvimento de
suas atividades, são elas: o Fórum de Credenciamento e Controle
(FCC) e a Equipe Técnica do Modelo (ETM).
Por meio destas
estruturas, o MPS.BR obtém a participação de representantes de
universidades, instituições governamentais, centros de pesquisa e
organizações privadas, os quais contribuem com suas visões
complementares que agregam qualidade ao empreendimento MPS.BR.
O MPS.BR baseia-se nos
conceitos de maturidade e capacidade de processo para avaliação e
melhoria da qualidade e produtividade de produtos de software e
serviços correlatos. Dentro desse contexto, o MPS.BR possui três
componentes: Modelo de Referência (MR-MPS3), Método de Avaliação
(MA-MPS4) e Modelo de Negócio (MN-MSP4) descritos na seção 6 –
Descrição geral do MPS.BR, que pode ser encontrado no site softex.com.br.
O MPS.BR está descrito por meio de documentos em formato de guias: o
Guia Geral, que contém a descrição geral do MPS.BR e detalha o
Modelo de Referência (MR-MPS), seus componentes e as definições
comuns necessárias para seu entendimento e aplicação; o Guia de
Aquisição, que descreve um processo de aquisição de software e
serviços correlatos, que serve de apoio para as organizações que
queiram adquirir produtos de software; o Guia de Avaliação, que
descreve o processo e o método de avaliação MA-MPS, contendo os
requisitos para avaliadores líderes, avaliadores adjuntos e
Instituições Avaliadoras; e o Guia de Implementação, que é
composto de sete partes, cada uma delas descrevendo como implementar um
determinado nível do MR-MPS.
Fonte: Elementos do MPS.BR – SALVIANO, Clenio F. – “Uma proposta orientada a perfis de capacidade de processo para evolução
da melhoria do processo de software”. Tese
de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil, 2006
Para melhor entendimento, a capacidade do processo se caracteriza
segundo cinco atributos de processos (AP) que são:
- AP 1.1 – O processo é executado;
- AP 2.1 – O processo é gerenciado;
- AP 2.2 – Os produtos de trabalho do processo são gerenciados;
- AP 3.1 – O processo é definido, e;
- AP 3.2 – O processo é implementado.
Nível G – Parcialmente Gerenciado: o nível de maturidade G é composto pelos processos de Gerência do
Projeto e Gerência de Requisitos. Neste nível, os processos devem
satisfazer os atributos de processo AP 1.1 e AP 2.1.
Nível F – Gerenciado: este nível
de maturidade é composto pelos processos do nível de maturidade
anterior (G), acrescido dos processos Aquisição, Gerência de
Configuração, Garantia da Qualidade e Medição. Todos estes
processos devem satisfazer os atributos de processo AP 1.1, AP 2.1 e
AP 2.2.
Nível E – Parcialmente Definido: composto pelos processos dos níveis de maturidade
anteriores (G e F), acrescidos dos processos Adaptação do Processo
para Gerência do Projeto, Avaliação e Melhoria do Processo
Organizacional, Definição do Processo Organizacional e Treinamento.
Todos os processos devem satisfazer os atributos de processo AP 1.1,
AP 2.1, AP 2.2, AP 3.1 e AP 3.2.
Nível D – Largamente Definido: o nível
de maturidade D é composto pelos processos dos níveis de maturidade
anteriores (G ao E), acrescidos dos processos Desenvolvimento de
Requisitos, Integração do Produto, Solução Técnica, Validação
e Verificação. Todos os processos devem satisfazer os atributos de
processo AP 1.1, AP 2.1, AP 2.2, AP 3.1 e AP 3.2.
Nível C – Definido: composto pelos processos dos níveis de maturidade
anteriores (G ao D), acrescidos dos processos Análise de Decisão e
Resolução e Gerência de Riscos. Todos os processos devem
satisfazer os atributos de processo AP 1.1, AP 2.1, AP 2.2, AP 3.1 e
AP 3.2.
Nível B – Gerenciado Quantitativamente: este
nível de maturidade é composto pelos processos dos níveis de
maturidade anteriores (G ao C), acrescido dos processos Desempenho do
Processo Organizacional e Gerência Quantitativa do Projeto. Todos os
processos devem satisfazer os atributos de processo AP 1.1, AP 2.1,
AP 2.2, AP 3.1 e AP 3.2.-
Nível A – Em Otimização: o propósito do
processo Implantação de Inovações na Organização é selecionar
e implantar melhorias incrementais e inovadoras que, de forma
mensurada, melhorem os processos e as tecnologias da organização.
As melhorias implantadas apóiam os objetivos de qualidade e de
desempenho dos processos da organização, que são derivados de seus
objetivos de negócio.
Comparativo entre o MPS.BR e o CMMI
Como observado nas
apresentações acima, existe uma equivalência total do ponto de
vista do MPS.BR para o CMMI, onde todos os requisitos das áreas de
processo do CMMI estão presentes no MPS.BR e que ele é um modelo de
melhoria de processos definidos em níveis, como o CMMI.
Representação de Estágios. Fonte:
MPS.BR (2007)
O que observamos no
relacionamento acima apresentado é que o MPS.BR apresenta em sua
proposta de níveis de maturidade um número maior de estágios que o
CMMI, possibilitando a implementação de forma mais gradativa.
Apesar de os dois
modelos de desenvolvimento terem sido criados com o mesmo propósito,
o foco de atuação dos modelos é diferente um do outro. Enquanto
o MPS.BR é um modelo criado em função das médias e pequenas
empresas, o CMMI tem um foco global mais voltado para as empresas de
maior porte.
Observa-se também que
estes modelos possuem processos de desenvolvimento de softwares
bastante burocráticos e criteriosos, o que demandará um grande
esforço e investimento de tempo e dinheiro para que as organizações
consigam atingir os níveis de excelência. Porém, o retorno destes
investimentos é garantido, uma vez que as organizações que possuem
certificações CMMI ou MPS.BR passaram a ter visibilidade no mercado
nacional e internacional.
Como visto, estes
modelos podem ser complementares, o que facilitará para as
organizações de pequeno e médio porte alcançarem uma melhoria
significativa em seus processos com um investimento menor e mais
rápido através dos níveis G e F do MPS.BR. Por isto, acredita-se
que as empresas de pequeno e médio porte devam iniciar a implantação
dos processos pelo MPS.BR nos níveis G e F, para que consigam desta
forma uma melhoria significativa em seus processos, e somente após
passarem pelo processo de aprovação nestes níveis, estas empresas
devem buscar os níveis de maturidade do CMMI. Com isto, os níveis
de qualidades almejados serão alcançados em um período de tempo
menor e com um retorno sobre os investimentos mais rápido.
Curiosidade: número de
avaliações dos dois modelos
Número de Avaliações no MPS.BR
Fonte: SOFTEX (2009)
Número de Avaliações no CMMI por País
Países |
Nro. De Avaliações |
Nível 1 – Inicial |
Nível 2 – Gerenciado |
Nível 3 ? Definido |
Nível 4 ? Gerenciado Quantitativamente |
Nível 5 ? Em Otimização |
Brasil | 117 | 1 | 57 | 46 | 1 | 9 |
Argentina | 69 | 48 | 13 | 2 | 4 | |
Chile | 34 | 20 | 11 | 2 | ||
Canadá | 55 | 1 | 14 | 23 | 5 | 3 |
USA | 1045 | 27 | 499 | 528 | 21 | 131 |
Spain | 155 | 1 | 93 | 48 | 3 | 4 |
India | 460 | 14 | 236 | 24 | 172 | |
France | 153 | 4 | 89 | 50 | 1 | 2 |
China | 946 | 1 | 122 | 728 | 30 | 45 |
Fonte: SEI
2 (2009)
Pessoal, sabemos que
este assunto é muito mais profundo do que as explicações deste
artigo. Meu objetivo é mostrar um pouco da estrutura dos dois
modelos e um simples comparativo entre eles. Como dito, a maioria das
organizações brasileiras buscam iniciar seus processos de melhoria
através do MPS.BR, pois este modelo é mais flexível, exige um
menor investimento e possibilitando a melhoria de seus processos de
forma mais rápida. Isto não quer dizer que por via de regra todas
as empresas devam seguir este caminho, mas sim que o caminho
trilhado por algumas delas tem se mostrado bastante eficiente.
Espero que possam
aproveitar as informações deste artigo e aprofundar seus
conhecimentos nos modelos de melhoria, possibilitando que cada
organização faça a sua escolha. Até mais!