Um dos grandes artifícios utilizados por hackers é a pseudo arte da engenharia social. Sem sequer tocar em uma tecla ou mouse, o vilão se aproxima de funcionários de empresas ou servidores públicos governamentais para obter informações estratégicas que o ajudem no seu intuito ilícito. Esforçam-se em fingirem ser funcionários da própria empresa ou meros fornecedores para chegar aos acessos físicos e virtuais corporativos. Geralmente são pessoas de boa lábia, como o famoso Kevin Mitnick ,que protagonizou o mais badalado case de sucesso da engenharia social já decantado em livro de própria autoria e também por muitos outros.
Incrivelmente, por meras questões políticas que envolvem a Casa Civil, Receita Federal e o #forasarney, e, também, sem ter sido interpelado por nenhum engenheiro social, Romero Jucá falou. Falou demais e ao vivo para milhões de tele espectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado. Entregou de lambuja dados e informações que muitos hackers poderiam levar meses para talvez conseguir.
De acordo com as informações fornecidas pelo senador Romero Jucá (PMDB), líder do governo no Senado Federal, ao discursar à tribuna do próprio Senado, à tarde de 27/08/2009, percebeu-se que o atual sistema de segurança do Palácio do Planalto é falho. Um queijo suíço cheio de furos bem grandes. Notou-se que certas figuras não possuem o mínimo preparo e a menor habilidade para falar sobre o grave e complexo assunto que é a segurança da informação e comunicação.
Após ter tido um colóquio reservado com o General Jorge Felix, que é o atual Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, o senador informou que os registros do sistema de gravação de imagens estão configuradas para capturar apenas movimentos nos corredores, entradas e saídas do Palácio do Planalto. Não gravam nada dentro dos gabinetes. Nem muito menos no gabinete do presidente Luiz Inácio. Ao contrário, por exemplo, do que fazem os norte americanos, que gravam tudo e a todos e, inclusive, absolutamente tudo o que se passa dentro do gabinete presidencial de Barack Obama.
É sabido, público e notório que os EUA são o país mais “psico” quando o assunto versa sobre questões de segurança. O que dizer então sobre segurança nacional?
Mais espanto ainda causou quando Romero Jucá falou já um tanto quanto inflamado que o sistema brasileiro possui apenas 8 gigabytes de memória. Não especificou se são de memória RAM ou de área de armazenagem em HD. Mas o que afinal são 8 Gb hoje em dia?
Há um tempo, creio que no ano passado, escrevi outro artigo citando a existência de um pen drive de 2 Tb (dois terabytes) made in China. 2 Tb são a mesma coisa que 2 mil gigabytes. Ora, quer dizer então que os 8 Gb de Romero Jucá cabem 250 vezes na mão de qualquer um que desembolsar a bagatela de US$1500,00 para comprar o poderoso gadget de 2 Tb? Também é notório que o custo de memória volátil e memória física cada vez mais caem de valor de aquisição. Mas o sistema da mais alta esfera governamental executiva do governo brasileiro somente registra 30 dias de imagens nos seus famigerados 8 Gb. Atingindo-se este limite o próprio sistema começa a gravar por cima de tudo que está em memória. Parece mais coisa de fita cassete.
Até posto de gasolina e padaria possuem sistemas capazes de gravar por períodos maiores do que este.
Ou então perguntem a si mesmos o que são 8 Gb para as atuais máquinas e telefones digitais que tudo filmam. Simplesmente nada.
Remotamente, e de forma gratuita, faço backup nos mesmos Estados Unidos onde possuo mais de 2 Gb alocados em um dos tantos serviços de backup e restore online.
Mas, então, que sejam os 8 Gb informados por Jucá apenas para a memória RAM do sistema planaltino. Apenas 8 Gb de RAM para gravar o processamento de todas as imagens do Palácio do Planalto! Poderia aqui discorrer sobre N sistemas de segurança; mas, para quê? Se o Palácio do Planalto se contenta com um sistema de apenas 8 Gb!.. Mas será que pelo menos não existe uma máquina espelho? Aí seriam, na pior das hipóteses, 16 Gb.
Mas o discurso de Jucá não parou por aí. Continuou a consultar seus alfarrábios destacando datas e horários onde nos quais a sra. Lina Vieira estivera no palácio planaltino. No entanto, ao ser inquirido, não soube informar o “para que” e o “com quem” a distinta ex-servidora federal foi ter. Posteriormente, foi divulgado que em uma das datas divulgadas por Jucá a Sra. Lina Vieira estava em São Paulo, e não em Brasília.
E o backup? Ora sempre existe no mínimo um backup. O sistema do meu prédio guarda por 12 meses cada mês gravado pelas câmeras de segurança do hall, da garagem, dos elevadores etc. Mas o sistema do Jucá parece ser um tanto quanto seletivo.
Romero continuou entusiasmadamente a falar sobre as atuais e futuras medidas de segurança de acessos físicos não só do Planalto, mas também das residências presidenciais. Um de seus grandes trunfos foi informar que alguns sistemas de segurança ainda NÃO estão implantados. Frisou que o sistema de reconhecimento facial ainda está sob implantação devido à problemas de iluminação. Que luminar… Praticamente inviabilizou o sistema com sua boca rota.
Preocupante de fato é esta situação. Pois nota-se que realmente o exemplo vem de cima; uma vez que a segurança também é falha na mais alta governadoria do Brasil. Como quem vai a um supermercado e pede 1 Kg de carne, no Planalto só poderemos pedir 8 Gb de imagens e nem 1 g de Lula. Aliás, nem 1 byte de Lula.
E como está a segurança da sua empresa? Espero que você não siga o exemplo do Governo…