Vivemos na iminência da década em que 90% dos crimes serão virtuais – nos próximos dez anos, representarão a migração do meio de ação e atuação dos marginais. Com a impressão real de um ambiente com menores riscos a correr, as organizações criminosas moldam-se como mega empresas envoltas às suas holdings e respectivas subsidiárias. Registram domínios web em todos os cantos do mundo sob nomes que não deixam nenhuma suspeita.
Como então o Brasil está se preparando para lidar com este novo cenário, que nem mais peça de ficção científica é? Considerando o quase que total desaparelhamento das polícias e a eterna falta de recursos, como encarar este desafio que agora se apresenta?
O futuro chegou avassaladoramente e emerge em meio a 160 milhões de telefones celulares e mais de 50 milhões de internautas. Todos conectados sob alguma forma onde já está no inconsciente coletivo que ninguém pode, ou deve, ficar de fora desta viagem sem volta aos orkuts, facebooks, twitters e SMSs da vida.
Há pouco ainda se discutia se a classe política poderia fazer campanha nas mídias virtuais como websites e redes sociais. Muita polêmica também causou o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo que bate forte no anonimato na grande rede. Com a reforma da lei eleitoral e a liberação do uso da internet, todos os políticos hão de querer usufruir do efeito Obama. Muitos já se mostraram preocupados em ter sua representatividade online.
Porém, anos luz à frente está o crime organizado, que cada vez mais se alastra em larga escala através da existente capilaridade da internet, seja em portais de jogatina e cassinos online ou através da comercialização de pirataria, material de pedofilia e drogas pelo celular. Vale lembrar a campanha do desarmamento, realizada há três anos, quando a população foi incitada a se desarmar. Só esqueceram de avisar sobre o desarmamento aos bandidos. E hoje, mais do que nunca, eles estão “trepados até os dentes” com armamento pesado.
Para o delegado José Mariano, titular da divisão de combate a crimes eletrônicos de São Paulo, estamos no meio de uma guerra eletrônica. Podemos perceber isso claramente com as fraudes bancárias, a pedofilia e os sites falsos, que oferecem produtos baratos, mas não os entregam.
Outra prática crescente e que começa a incomodar as grandes redes varejistas é o chargeback. A pessoa faz uma compra pela internet, recebe o produto e repudia o pagamento alegando que não foi ela que efetuou o pedido pela internet. O débito fica com o varejista que vê como única saída declará-lo como prejuízo em seu balanço.
E o golpe do bilhete de loteria premiado? Tem gente que responde a e-mails (phishing) solicitando a atualização do seu cadastro bancário. Como achar seus mentores quando a origem do e-mail fraudulento se dá em países como a Romênia?
Recentemente, a Polícia Federal brasileira viu-se em maus lençóis ao tentar quebrar, sem sucesso, a chave de criptografia dos HDs do banqueiro Daniel Dantas. Especificamente neste caso, nem o FBI conseguiu abri-los. Apenas a empresa fabricante do software de encriptação é que poderá mostrar os dados, através de um mandado judicial.
Outra classe que deve estar muito bem preparada é a dos magistrados, que cada vez mais se depara com a crescente tendência de demanda das perícias judiciais em tecnologia e segurança da informação por parte dos cidadãos. As pessoas se vêem envolvidas em crimes que jamais cometeriam mas, ainda pela falta de maturidade e cultura, permitem-se deixar seus computadores vulneráveis às ações de hackers. Como provar, então, que um ataque que partiu do seu IP não foi cometido por você mesmo? Isso não é problema para o criminoso virtual, que pode se dar ao luxo de efetuar o ilícito a partir de máquinas de terceiros e depois retirar o programa nefasto do PC atacado e atacante sem deixar rastros.
No mundo corporativo não é diferente. Percebendo que as grandes empresas passaram a investir mais em segurança, os crackers mudaram o alvo e agora miram médias e pequenas empresas ainda muito vulneráveis aos seus ataques virtuais. É a lei do menor esforço.
Tal qual o livro de Julio Verne, em 20 Mil Léguas Submarinas, que
previu invenções como o submarino, seriados de TV como o americano CSI antecipam
a premente necessidade de pessoal especializado e aparelhamento do
Estado. No enlatado americano, vemos uma polícia técnica com
equipamentos de última geração, altamente preparada para lidar com
questões forenses, técnicas, médicas, e que só falta ler as mentes dos
bandidos.
Lamentavelmente, aqui no Brasil existem delegacias que mal possuem
uma cadeira para se sentar. O que dirá, então, de equipamentos e gente
para pericias eletrônicas? Se começássemos hoje a treinar um policial
de cada delegacia, já seria tarde. Urge que todas as DPs estejam
preparadas para lidar com crimes do mundo de dentro e de fora dos
computadores. Não só eles, mas também o cidadão comum precisa de ser informado sobre as situações de crimes eletrônicos, sendo até treinado, também, para combatê-los. A vida está no meio eletrônico.