Design & UX

4 ago, 2008

Um apelo em favor da criatividade na Internet

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Esse, assim como todos os outros textos que escrevo, nascem de reflexões, pequenas anotações mentais que faço sobre vários assuntos, todos os dias e dia após dia. Algumas anotações acabam virando algo a ser registrado, escrito mesmo, depois toma forma de artigo e envio para portais de conteúdo que podem se interessar ou não. Felizmente o iMasters tem me acolhido bem. A todos vocês da redação do iMasters, meus sinceros agradecimentos e parabéns pelo trabalho. Só que não sou escritora, sou uma curiosa e pensante em tempo integral.

Daí, navegando pela Internet, pensei: será que não falta criatividade? O que está acontecendo afinal? Por que tenho a sensação que falta tempero? Parece um ir e vir de dejavous! Por que visito tantos sites de artistas, designers, instituições, empresas, etc. e percebo que em grande parte (sem generalizar é claro) há o seguimento de tendências? E o que fazem seus designers que não tomam providências para se prevenir quanto a isso? Não estou falando de tendências ditadas pela tecnologia. Afinal a tecnologia que se emprega na criação de um site, de certa forma acaba por nos limitar a certos padrões estéticos próprios. Refiro-me ás tendências visuais mesmo, aquelas que não necessitam da tecnologia para existir. O que acontece na produção dos designers que os limita criativamente?

Já tive a oportunidade de trabalhar em equipes de designers, em situações diferentes. E o sentimento que fica é que alguns (não todos), mas grande número deles trabalha com o freio de mão puxado. Por que isso? Se você não soltar sua criatividade vai perdê-la? Seu potencial criador vai se desgastar se o usar com força? Ou são as condições desumanas de trabalho, que os impede de pensar mais, de criar genuinamente, de agarrar a coisa com força? Há designer que se empenha de acordo com o salário. Ou seja: “se receber bem, faço algo mais criativo”, caso contrário entrego um feijão com arroz qualquer e está bem pago. Eu já ouvi isso de colega meu e de funcionário também. É incrível a postura da mediocridade. É bem coisa de estudante que só tira nota pra passar: “…é porque se a média é cinco então vou ralar pra tirar cinco, e fico tranquilo”. Mas e se você entra numa daquelas escolas (públicas) que não podem mais reprovar o aluno? Que beleza heim! Nessa situação você não precisa fazer mais nada, vai passar de ano de qualquer jeito mesmo. Maravilha!

Bem, meus colegas, se vocês se limitam pelo número que recebem no final do mês, tenham a certeza que nenhum designer jamais vai ganhar o que acredita que merece. E são vários os motivos, não só a falta de reconhecimento da profissão, a falta de dinheiro no mercado, o pensamento pobre de barganhar preço sempre (por parte de quem paga), ou o desrespeito com as artes, típica da nossa cultura de colonizados. Acredite: você nunca vai ganhar o que acha que merece.

Isso é catastrófico, mas é fácil de entender, porque você sempre vai achar que merece mais do que ganha hoje. Então isso não se resolverá nunca. Tenha certeza. Se você ganha hoje uns R$ 1.200,00 a R$ 2.500,00 por mês (seja empregado ou freelancer), você acha isso pouco, e é pouco mesmo, mas quando você passar a ganhar R$ 7.000,00 também vai achar que é pouco, afinal: “se eu consigo fazer 7, consigo fazer 10”. E se você chegar a 10, vai querer 15. Isso é uma seqüência gradativa e natural. E essa ambição é saudável. É assim mesmo que deve ser. Portanto, ciente dessa condição constante de insatisfação com o volume de dinheiro que você ganha hoje: por que se manter economizando em criatividade? Isso de não se esforçar para ser criativo é um protesto para você? Ou é realmente uma incapacidade profissional sua?

Enfim, não quero julgá-lo, muito menos agredí-lo, mas estive analisando algumas produções e acho que encontrei um ponto que poderia nos prevenir quanto ao aborto prematuro da criatividade.

Se você é um designer digital, na maior parte do tempo, faz longas e demoradas pesquisas de imagens, pesquisas visuais, pesquisas de conteúdo, pesquisas de tendências, pesquisas de idéias, pesquisas sobre o cliente, pesquisas sobre o produto, pesquisas, pesquisas, pesquisas infinitas para criar seu trabalho (isso se você for um designer sério), mas todas estas pesquisas, que são muitas e cansativas, são quase sempre feitas dentro da própria Internet. Pela questão, não só de facilidade, ou por sermos profissionais da rede, mas também de ver o que rola neste meio, se manter atualizado e por estar criando para ela mesmo. Portanto pesquisar na Internet é bom, faz parte do trabalho e facilita as coisas.

Mas ai é que está o furo. Se você cria projetos para Internet, baseados exclusivamente nas suas pesquisas visuais dentro da própria Internet, é ai que está a falha na sua criação. O aborto da criatividade e a cópia de tendências germina nesse ponto.

Quando você pesquisa infindáveis bancos de imagens, por exemplo, e mesmo que não seja com a intenção de usar uma dessas imagens (comprando seus direitos de uso). mas sim com a intenção de tirar alguma idéia para as suas combinações de cores, para aplicar alguma textura no seu trabalho, etc., mesmo que você encontre umas dez imagens para se inspirar e criar a partir de detalhes de cada uma, um novo visual de site, ou banner, o fato é que ainda que se faça inúmeros tratamentos, se desenhe e pinte por cima, mescle uma foto sobre partes de outras, aplique filtros, você ainda está criando sua peça com base na criação de outras pessoas. E o que é pior, você está usando o que já está na Internet e já foi visto (ou usado) por milhares de outras pessoas. Então não há ineditismo nisso.

Qual seria a solução afinal?

Bem, esse texto é um apelo, não uma provocação. Estou fazendo um verdadeiro apelo pela sobrevivência da criatividade, esse animal que se encontra à beira da extinção nos dias de hoje, devido especialmente à voracidade de seu grande predador: “a facilidade da cópia através da Internet”.

VAMOS SALVAR A CRIATIVIDADE!

Mas como? É muito simples, afinal de contas não basta fazer um apelo desses, sem propor nenhuma solução. Você pode aditivar sua criatividade nas suas produções de Internet, se trazer para ela o que não existe dentro dela. Explico: em vez de partir para suas criações com base no que há na rede, parta para criar fora do computador. Isso soa ultrapassado para você? Mas é a verdade, pense: se você for incumbido de criar um projeto para um cliente qualquer, em vez de começar suas pesquisa pelo que está na rede, bem ao alcance do seu mouse e do mouse de milhares de outros designers, comece fora dela. Comece batendo um papo com os concorrentes do seu cliente. Converse com os clientes do seu cliente. Ou comece andando pela rua e vendo como as pessoas usam os produtos que você vai ajudar a vender. Veja a vida real, tire fotos se possível, faça esboços em papel. Faça layouts em qualquer material. Saia da rede.

Depois traga para a rede todas as suas idéias e veja se ninguém as teve, voltando ao velho hábito de pesquisar os sites similares ao que você vai criar, só que desta vez, para não correr o risco de cair no lugar comum, e então comece a digitalizar e digerir tudo. Fazer seu dever de casa dentro do micro, mas usando aquilo que está fora dele. O resultado disso é mais autenticidade. É a enorme diferença que pode fazer seu trabalho valer muito mais do que você ganha hoje.

Não sei se você concorda ou compreende o que estou tentando propor aqui, até gostaria muito que postasse seus comentários abaixo. A favor ou contra, dando a sua opinião mesmo. Fica ai o convite.

Mas a verdade é que se você trabalha como eu, dias inteiros na frente do micro, 100% plugada, lendo, vendo e ouvindo uma overdose do que há na Internet, vai chegar uma hora que o que está na rede não vai mais fazer sentido para suas criações.

Grande abraço.