Recentemente, um amigo e ex aluno, Rafael Daron, me pediu indicações de User Interfaces para inspirá-lo em seu novo projeto para a nuvem. Disse que estava observando o Windows 8 e aplicações como Prezi para ter referências. E a pergunta dele me chamou bastante atenção. E foi minha resposta pra ele que inspirou esse artigo. O motivo é bem simples: é normal procuramos referências para nossas aplicações, para criarmos nossas interfaces e claro, pensar na usabilidade.
Não é errado procurar referências, mas é complicado fazer isso se você não estiver ciente das suas necessidades, do que quer da aplicação e onde realmente quer chegar. O problema acontece porque quando pegamos referências, a nossa tendência é copiar. Por exemplo, você pode olhar o Windows 8 e falar “UAU! Muito bom! Era isso que eu estava procurando…”, ou ainda olhar o Windows Phone (eu curti demais a usabilidade e interface dele) e dizer: “Fantástico!”. Mas se não estudar a motivação por detrás dessas user interfaces, não vai conseguir criar a sua com a mesma inovação.
É importante o especialista de UI / UX procurar fazer uma reflexão sobre o que quer com a aplicação. O que ela é, afinal? Qual foco vamos dar? Entre outras coisas… Porque se não fizer isso, será influenciado facilmente pelas usabilidades fantásticas vistas em diversas aplicações, e não será incomum querer usar muitos efeitos ou ideias descobertas, misturando-as. Se não tomar cuidado, poderá estar criando um verdadeiro frankstein.
O Windows 8, Windows phone etc, tiveram suas premissas a serem respeitadas e chegaram onde queriam. Um exemplo disso é o Prezi. Eu posso dizer com clareza que a premissa básica deles era a de que apresentações de palestras são massantes e cansativas; causam sono. Seria necessário maior fluídez nas transições e algum dinamismo a fim de causar impacto no cérebro dos telespectadores, para motivar e dar maior ênfase a própria palestra em si. O Prezi, se bem utilizado, acaba sincronizando seus efeitos com o tom do palestrante, dando importância e relevância de acordo com o que o palestrante fala. Tal premissa é que levou os criadores do Prezi a inovarem, a criar a ferramenta fantástica que já conquistou milhares de pessoas pelo mundo.
Agora, será que a usabilidade do Prezi é interessante para a nossa aplicação? Aí que está, você, ao utilizá-la, pode ser que tenha que adaptar alguns recursos para o seu app, para que a usabilidade dela seja satisfatória. Ou seja, muitos acabam se apegando demais à usabilidade, a um recurso ou efeito em questão, sem respeitar suas próprias premissas. Não é que suas premissas não possam ser quebradas, mas…. Elas devem existir.
Para isso, eu tenho umas regrinhas básicas e simples, porém funcionais e que são resultado de anos de experiência.
1. Conheça suas limitações e quebre-as
Explico: se você se limitar pelo quesito técnico (“Ah, não dá para fazer isso… Aborta!”), você não vai inovar. A inovação vem primeiro, o desenvolvimento depois. Quando os problemas aparecerem é que você vai se virar para resolver; não crie problemas e limitações antes deles existirem.
Quando se tratar de UI, esse é o caminho! Mas descobri que também é o caminho na área de desenvolvimento – aprendi isso com Beck Novaes. É possível ainda que durante o processo de desenvolvimento você descubra novas soluções, mas se não se aventurar a fazer, se não tentar, não encontrará tais soluções. Então reforço: os limites existem, mas se você os conhece, então sabe onde e como deverão ser quebrados.
2. Conheça as suas restrições e então inove
A restrição é o fator da inovação. Se alguém dissesse a você que pode fazer tudo o que quiser, basta executar, você vai pensar tantas coisas, que no final não vai pensar é em nada. Logo, ter restrições descritas como premissas básicas do seu app é essencial para inovar. É quando estamos amarrados que criamos; é quando estamos presos que procuramos a liberdade pelos meios mais diferentes e inovadores possíveis. Não se esqueça disso!
3. Hierarquize a informação
E com a informação hierarquizada, você será capaz de fazer um bom app, com uma boa user interface. Pense naquilo que é mais relevante, o que realmente você quer passar ao usuário e dê destaque a isso. Não tente deixar tudo relevante, pois quando você tenta fazer assim, tudo passa a não ser relevante no final das contas. Escolha no máximo três coisas com relevância – se possível apenas uma. É nuvem? Mas o que é que vai fazer na nuvem? Então dê relevância a isso.
Essa regra não tem ordem, o que é importante é pegar a ideia do assunto, absorver que inspiração não vem da visualização de muitos apps famosos, ou mesmo de usabilidades fantásticas etc. É importante fazer uso delas? Sim, você terá influência e isso é positivo, mas isso deve estar em background no seu cérebro, ou seja, o uso constante de bons apps fará com que você assimile e interprete o que é bom e o porquê. Mas não adianta ir atrás destes apps quando você tem que desenvolver algo; quando quer criar, pois se o fizer, estará sujeito a cópia. Mas óbvio, não recrimino a boa cópia, ou seja, o aperfeiçoamento de uma ideia, mas sim quando você copia uma usabilidade ou interface pela mera falta de objetivo, por não ter nada melhor para por ali.
As referências devem existir, mas é importante procurar entender e respirar UX antes de começar a buscar inspiração.
Espero que esse artigo ajude os especialistas da área a terem o que chamo de inspiração consciente; onde, munido de bastante informação e repertório é capaz de criar boas soluções. E então aí sim, buscar referências passa a ter um sentido.