Com tantos sites básicos, quadradões, com cores apagadas,
sendo criados em ’24 horas’ a preço de banana, vemos que a criação de
design para web é fácil, fácil! Será?
Apesar do dito acima não soar nada agradável
para os verdadeiros Webdesigners e as verdadeiras Agências, esta
é a infeliz realidade que nos cerca. Veremos, neste segundo artigo sobre
Gestalt do Objeto aplicado a websites, a necessidade do estudo do
comportamento e da percepção do internauta, o que, de fato, pode levar
bem mais que 24 horas!
A internet é uma mídia
estabelecida e que conta com um público cada vez mais crescente. Então,
por se tratar de um meio comercial e de negócios, necessita de
estratégias de marketing – e é aí onde entra a produção publicitária.
Entretanto, é digno de atenção o seguinte fato: por se tratar de um meio
digital, eletrônico e de alto teor de informação, o comportamento do
consumidor alvo da publicidade online é diferente do público que tem
contato com as mídias tradicionais, fazendo com que o profissional de
publicidade detenha mais do que a costumeira atenção sobre tal
comportamento.
De fato, os Websites fornecem
material multimídia e interativo, permitindo um contato mais
personalizado e impactante com o seu público-alvo, afetando assim a
percepção do usuário. Os designers do nosso século, em se tratando de
internet, trabalham com ambientes diversos dos espaços físicos reais.
Tais ambientes, por serem simulados, acarretam muitas indagações ao serem
comparados com a mídia impressa. Vemos a mudança do suporte, o brilho, a
posição da página etc. O objeto gráfico físico é estático, enquanto o
virtual é interativo, dinâmico, totalmente funcional, e que necessita de
determinados comandos para dar as respostas certas. Um exemplo dessa
dicotomia são os livros que têm uma usabilidade pré-determinada e
imutável por toda nossa vida, pois desde o primeiro contato do ser
humano até o seu último, a funcionalidade de virar as páginas e o
manuseio, segurando-o pelas bordas, é imutável (Revista Webdesign,
2007).
Segundo relata Lucas Hirata,
designer da Globo.com, os “projetos digitais podem provocar nossos olhos
e ouvidos de maneira realmente impactante. Projetos impressos podem
também ser comidos, cheirados e manipulados. O chocolate ‘SURPRESA’, da
Nestlé, é um exemplo clássico. Como a percepção visual está diretamente
ligada à vivência de cada um de nós, todas as nossas experiências
sensoriais (táteis, olfativas, visuais, auditivas e gustativas)
modificam a maneira como vemos e interpretamos as imagens. Para os
nossos olhos, as diferenças dos sistemas de cores provocam percepções
diferentes nos dois universos. No mundo digital, as cores são luzes
emanadas de dispositivos eletrônicos. Em impressos, as cores são
resultados das diversas luzes refletidas no ambiente onde o produto se
encontra” (Revista Webdesign, p. 31-32, Janeiro, 2007).
Outro fator importante a ser
observado é o que diz respeito ao tempo de exposição à peça gráfica que
transmite a mensagem publicitária. Um dos princípios da publicidade
define que quanto mais o público-alvo for exposto à mensagem
publicitária, mais propenso ele estará a comprar ou adquirir um
determinado produto ou serviço.
Você tem menos de dois
minutos para se comunicar na primeira vez em que um potencial cliente
visita seus Website. Este é o fato básico sobre a experiência Web: no
que diz respeito a usuários, cada página deve justificar sua importância
quando chamada. Se uma página não fizer isso imediatamente e de maneira
clara, eles vão para outros sites (NIELSEN, LORANGER; 2007 p. 21).
Os estudos de Jacob Nielsen e
sua equipe mostraram que os internautas são extremamente impacientes,
pois eles gastaram uma média de 27 segundos em cada página da Web.
Segundo ele, tal pressa é resultante do excesso de coisas inúteis na
Internet e que se as pessoas analisassem cuidadosamente tudo o que
encontram on-line, elas nunca conseguiriam se desconectar e viver sua
vida. Ainda segundo tais pesquisas, em média, os usuários avaliados
gastaram 1 minuto e 49 segundos visitando um Website antes de decidir
abandoná-lo e partir para outro. E o que mais preocupa é que se concluiu
que um site tem apenas 12% de probabilidade de ser revisitado,
mostrando que quase sempre, ao perder um usuário, ele nunca voltará
(NIELSEN, LORANGER; 2007). Queremos reforçar com tais estatísticas a
idéia de que “a única esperança de um site para atrair novos clientes
dependerá da facilidade de uso do mesmo durante a primeira visita”
(NIELSEN, LORANGER; 2007, p.). Se o design não ajudar, os usuários
gastarão a maior parte do tempo de permanência do site pensando em qual
será o próximo site que irão visitar e com certeza será o de um
concorrente. (NIELSEN, LORANGER; 2007).
Talvez o designer pense que
na próxima visita o usuário estará mais adaptado à composição visual do
site. Entretanto, vimos acima o índice pífio de retorno ao site depois
de o cliente rejeitá-lo, pois o primeiro contato e, além disso, as
pesquisas também mostram que a cada visita ao Website o internauta reduz
o seu tempo de permanência na primeira página (NIELSEN, LORANGER;
2007), a qual é responsável pelo impacto que fará com que ele continue
no site e veja os produtos ou serviços anunciados.
Corroborando a questão do
tempo do usuário em relação à navegação do internauta e a característica
interativa distintiva do meio, José Ricardo Cereja, coordenador
pedagógico da graduação em Design Gráfico do Instituto Infnet e
professor de Computação Gráfica da PUC Rio, afirma que “em ambientes
interativos, a dinâmica visual estabelece uma relação ‘tempo versus
percepção’ que influencia na apreensão das imagens. Isto é, o tempo de
observação que o usuário dedica a uma interface pode ser controlado
tanto pelo designer que a projetou, através da composição de elementos e
arquitetura de navegação, quanto pela velocidade com que a ação do
usuário é realizada.
Temos ainda as ações motoras controlando o tempo de
ação e fazendo mudar todo o aparato visual em segundos. Isto vai
influenciar diretamente a disposição das imagens, fundos, animações,
inclusive, no ambiente interativo” (Revista Webdesign, p. 32, 2007). É
digno de atenção que, segundo o especialista, mesmo se tratando de um
meio distinto com suas peculiaridades em termos de composição gráfica,
onde se observa o alto valor funcional do conjunto, é possível sim que o
designer controle o tempo de observação do usuário em relação a peça
gráfica através da elaboração e disposição dos elementos. Nessa
elaboração e disposição de elementos é que entram os princípios e
teorias da Escola Gestalt.
Como já
visto no primeiro artigo desta série, de acordo com a Gestalt, a arte e o
design se fundam no princípio da pregnância da forma. Ou seja, na
formação de imagens, os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual
constituem para o ser humano uma necessidade e, por isso, considerados
indispensáveis, seja numa obra de
arte, num produto industrial, numa peça gráfica, num edifício, numa
escultura ou em qualquer outro tipo de manifestação visual… (GOMES
FILHO, 2006, p.17). É fato que
inconscientemente tendemos a organizar formas percebidas por nós,
seguindo leis ou princípios. Se um designer souber aplicar tais leis de
forma consciente, seus trabalhos gráficos serão mais objetivos, podendo
assim agradar e transmitir a mensagem publicitária com eficácia, além de
poder direcionar a atenção do usuário internauta para o que realmente
importa.
Listamos abaixo as leis propostas pela Escola Gestalt e que são
indicadas ao design em geral:
- 1º – Proximidade;
- 2º – Similaridade ou semelhança;
- 3° – Direção, boa continuidade, alinhamento ou simplesmente
continuidade; - 4° – Disposição Objetiva, aprendizagem ou experiência
passada; - 5° – Fechamento ou Clausura;
- 6° – Pregnanz ou simplesmente pregnância.
No próximo artigo veremos a aplicação prática de
algumas das leis ou princípios da Gestalt no desenvolvimento de
websites arrasadores.
Espero que tenham gostado. Até a próxima.
Referências:
NIELSEN, Jakob e
LORANGER, Hoa. Usabilidade na web: projetando websites
com qualidade. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2007.
Revista Webdesign, p. 32, Janeiro/2007.