Este é o primeiro de uma
série de artigos que falarão sobre as leis ou princípios da
Escola Gestalt aplicados ao desenvolvimento do design de websites.
A
Gestalt é uma Escola de Psicologia Experimental que teve como seus
maiores pensadores Max WerTheimer (1880/1943), Wolfgang Kohler
(1887/1967) e Kurt Koffka (1886/1941), da Universidade de Frankfurt, na
Alemanha. Eles realizaram vários testes práticos de onde extraíram
princípios, forças elementares da percepção visual humana, com base em
suas observações. Segundo os teóricos, os humanos vêem, percebem os
objetos não como figuras decompostas em outras menores e isoladas, mas
sim como objetos relacionados, onde uma parte depende de outra para formar um
chamado “todo”. Percebemos tal totalidade de maneira inconsciente e
automática devido a forças internas fisiológicas e involuntárias, as
quais chamaremos, neste artigo, conforme definido em tal Escola, de
princípios ou leis.
[…] a palavra Gestalt
[pronuncia-se ‘GUESTALT’] (plural gestalten) é um termo intraduzível do
idioma alemão para o português. O dicionário eletrônico Michaelis
apresenta como possibilidades as palavras figura, forma, feição,
aparência, porte, estatura, conformação, vulto, às quais ainda se pode
acrescentar estrutura e configuração (Instituto Gestalt de São Paulo).
Gestalt tem como significado uma integração de
partes em oposição à soma do todo. Através da Gestalt, obtemos respostas
aos porquês de certas organizações visuais
transmitirem harmonia e agradarem mais que outras. Quando alguém entra
em um ambiente, um restaurante, e ao olhar a sua volta percebe algo que o
incomoda, mas que ele não consegue definir o que é, na verdade, são as
leis da Gestalt que estão atuando (Revista Webdesign, 2007).
Assim também é com websites.
Olhamos, percebemos todo o visual do site,
mas existe algo que nos incomoda que faz com que sejamos distraídos do
objetivo principal, mas que não sabemos definir o que é. A hipótese da
Gestalt atribui ao sistema nervoso centrar um dinamismo auto-regulador
para explicar a origem dessas forças integradoras que, à procura de sua
própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e
unificados. Essas constantes das forças de organização são o que os
gestalistas chamam de padrões, fatores, princípios básicos ou leis de
organização da forma perceptual. São essas forças ou esses princípios
que explicam por que vemos as coisas de uma determinada maneira e não de
outra (GOMES FILHO,
2006, p.20).
DONDIS (2003, p. 22) afirma
que um dos trabalhos mais significativos no campo da abordagem da
questão da procedência do significado nas artes visuais foi o realizado “pelos psicólogos da
Gestalt, cujo principal interesse tem sido os princípios da organização
perceptiva, o processo da configuração de um todo a partir das partes”.
De acordo com a Gestalt, a arte se funda no
princípio da pregnância da forma. Ou seja, na formação de imagens, fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual constituem para o ser
humano uma necessidade e, por isso, são considerados indispensáveis, seja
numa obra de arte, num produto industrial, numa peça gráfica, num
edifício, numa escultura ou em qualquer outro tipo de manifestação
visual (GOMES
FILHO, 2006, p.17).
As leis ou princípios
que descrevem o comportamento cerebral perceptivo humano, descritos
pelas leis formuladas por esta escola no campo da Psicologia Perceptual
da Forma, fornecem um instrumental para a concepção de trabalhos gráficos
mais consistentes, organizados e com um design que transmita a mensagem
publicitária de tal forma que o usuário venha a captar o que está sendo
anunciado rapidamente e ainda mais, podendo este ainda ter uma melhor
experiência em termos de navegabilidade e aproveitamento do tempo em que
está à procura de algo de interesse dele.
A Internet tem sido cada vez mais utilizada como
mídia publicitária, o que, inevitavelmente, em breve a tornará a principal
mídia neste ramo. Isso gera uma uma preocupação em relação aos
designs de sites, se estão propiciando a
transmissão da mensagem de forma rápida e plena. Tão grande é a importância
de tal assunto que as equipes de planejamento e
criação das agências digitais e publicitárias estão buscando meios e
técnicas que ajudem na resolução desta questão. Lembrando aqui que não
temos a utopia de tentar esgotar tal assunto, visto que a internet é uma
mídia relativamente nova e a aplicação das leis da boa forma da Escola
Gestalt neste meio carece de material didático especializado, sendo que
estas próprias leis da percepção da forma são “…uma linha de pesquisa
extensa pela sua abrangência e seus temas inesgotáveis” (GOMES FILHO,
2006).
E quando falamos em leis da boa forma, nos referimos a padrões de
leitura visual, o que implica na necessidade de um alfabetismo visual.
Devemos buscar o
alfabetismo visual em muitos lugares e de muitas maneiras, nos métodos
de treinamento de artistas, na formação técnicas de artesãos, na teoria
psicológica, na natureza e no funcionamento fisiológico do próprio organismo humano. (DONDIS, 2003, p.18)
Assim, pode-se afirmar que a Gestalt nada mais é que
um caminho entre tantos outros que têm por objetivo estabelecer
princípios gerais para a melhoria do design em um determinado meio com
vistas a atingir de forma positiva os indivíduos que
percebem a mensagem transmitida. João Gomes filho, no seu livro Gestalt do Objeto Sistema
de Leitura Visual da Forma,
implementa um sistema de leitura visual com base nas leis ou teorias da
Escola Gestalt, traduzindo conceituações ou formulações abstratas e
geométricas em aplicações conceituais práticas para serem aplicadas no
design de objetos em qualquer meio.
Constatamos que muitos dos conceitos e
fatores da organização formal estudados pelos psicólogos da Gestalt coincidiam exatamente com as nossas preocupações e
práticas projetuais relativas à concepção de produtos com configurações
formais fundamentadas nos princípios de ordenação, equilíbrio, clareza e
harmonia visual, alicerces da formulação gestalística no campo da
percepção da forma […] poderíamos avançar com a abrangência deste
sistema de leitura para estendê-lo, não só ao campo do design e suas
diversas especializações, mas a todos os modos de manifestações
visuais… (GOMES FILHO, 2006, p.13)
Sobre a necessidade do estudo
da linguagem visual com fins de aplicação nos ramos da comunicação
social em geral, não nos baseamos em questões puramente tradicionais, e
sim na importância natural humana que se dá ao que se vê. SILVA (2008)
apud SANTAELLA (1993, p.11) diz:
[…] 75% da percepção humana é visual. A
segunda em importância cabe ao ouvido, com 20%, e aos demais sentidos,
representados por olfato, paladar e tato, 5%. Fica evidente o domínio
absoluto do sentido visual como elemento mediador das atividades do homem.
Donis
A. Dondis, em seu livro “Sintaxe da Linguagem Visual”, corrobora o dito
anterior:
Não é difícil de detectar a tendência à
informação visual no comportamento humano. Buscamos um reforço visual de
nosso conhecimento por muitas razões; a mais
importante delas é o caracter direto da informação, a proximidade da
experiência real […] Em textos impressos, a palavra é o elemento
fundamental, enquanto os fatores visuais, como o cenário físico, o
formato e a ilustração, são secundários ou necessários apenas como
apoio. Nos modernos meios de comunicação acontece exatamente o
contrário. (DONDIS, 2003, p.6,12)
Com base nesses conceitos, nossa abordagem será
tanto na questão da funcionalidade quanto da mensagem comunicativa,
qualidades do design, sendo que os Websites são
produtos visuais responsáveis por oferecer não só funcionalidades, mas
também transmitir a mensagem publicitária e direcionar a atenção dos
usuários para produtos e serviços convencionais que satisfaçam as
necessidades e os desejos das pessoas.
Entende-se por design a melhoria dos aspectos
funcionais, ergonômicos e visuais dos produtos, de modo a atender às
necessidades do consumidor, melhorando o conforto, a comunicação, a
segurança e a satisfação dos usuários. (FAVA, 2006, p. 11)
Nós próximos artigos
falaremos sobre o comportamento do internauta e as necessidades da
adequação do design, introdução a Escola Gestalt e suas teorias e
aplicações práticas de leis gestalísticas na composição visual de
páginas de internet.
Referências
- GESTALT
como processo de alfabetização visual. Revista Webdesign, Rio de
Janeiro, n. 37, p. 31-37, Janeiro, 2007. - DONDIS, Donis A. Sintaxe
da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003. - FAVA, Ricardo Almeida.
Design Gráfico. Ricardo
Almeida Fava. Dourados: UNIGRAN, 2006. - GOMES
FILHO, João. Gestalt
do Objeto: Sintaxe da Leitura Visual
da Forma. 7a Ed. São Paulo: Escrituras, 2006. - RIBEIRO, Jorge
Ponciano. Gestalt –
refazendo um caminho. 7a Ed. São Paulo:
Summus Editorial, 1985. - SILVA, Rafael Souza (Org.). Discursos simbólicos da mídia. São Paulo: Edições Loyola, 2005.