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18 jun, 2008

A evolução tecnológica da arte

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Em linhas gerais, a atividade artística sofreu e continua sofrendo grandes influências tecnológicas ao longo da história da humanidade. A arte está tão ligada aos avanços tecnológicos quanto qualquer outra área do conhecimento humano. A medida que novas formas de trabalho surgem, a atividade artística sofre uma evolução considerável.

A idade das cavernas

Os desenhistas e pintores do paleolítico não detinham mais que barro, tonalidades diferentes de areia, musgo, ceras de plantas e uma ou outra tintura natural para produzir seus desenhos em cavernas e rochas. Depois, com a idade da pedra lascada (no período Neolítico), junta-se a esse universo de meios de produção a sabedoria de criar pequenas peças, ferramentas de: raspar, cavar e esculpir objetos.

Mais tarde, percebendo a diferenciação entre os materiais naturais: “uns são duros e por isso devem ser usados para furar e raspar os mais moles”, as madeiras passam a ser percebidas e usadas segundo suas propriedades de rigidez, flexibilidade, tonalidade e resistência. O mesmo ocorre com o carvão, o barro e as ligas de metal. A partir daí a produção artística passa a ser feita em peças monumentais e também pequenas esculturas que conseguiram chegar aos dias de hoje, para nosso deleite.

A descoberta da Escrita

Com o desenvolvimento da expressão escrita, os artistas passaram a criar com textos. Os desenhos, ilustrações, explicações e doutrinas se tornaram parte do universo de produção de arte. Podemos ver isso nos pergaminhos egípcios, por exemplo.

Nas civilizações egípcias, na Grécia antiga e na civilização romana, a evolução do pensamento humano, passa a tratar as artes com maior refinamento, mais técnicas produtivas foram empregadas nas construções. Nesse momento era comum o uso de pinturas em porcelanas, desenho em papyrus, gravações em couro, tecelagem com fibras tingidas, afrescos nas paredes, relevos e frisos arquitetônicos, além da escultura em mármore típica da arte grega e romana. Na China, já se empregava o uso do papel e da tinta nanquim com pincéis de bambu.

Os avanços do Renascimento

O movimento artístico e científico dos sécs. XV e XVI, que valorizava os aspectos humanistas, considerava o homem como medida para todas as coisas. Os avanços tecnológicos dessa fase contribuíram muito para o aperfeiçoamento da atividade artística. São originários desse momento histórico a técnica de desenho de perspectiva linear, o uso da perspectiva aérea (que estuda a interferência das massas de ar a longas distâncias), a pintura a óleo e o uso da tela como suporte para pintura.

A impressa (Guttemberg 1465)

Grande avanço aconteceu quando o artista pode criar suas peças e reproduzi-las em escala, para uma audiência muito maior. Aliada a esse avanço outras práticas artísticas, como a litografia, a xilogravura, a serigrafia, a tipografia móvel e o aperfeiçoamento do livro contribuíram para o surgimento de muitos outros meios de produção artística, por exemplo: as técnicas de gravura em metal, a reprodução em off-set, as atividades profissionais de: ilustrador, capista, cartazista, tipógrafo, impressor e hoje o designer gráfico.

É incrível imaginar como os cartazes e obras de comunicação de massa, poderiam ser feitos se não houvesse o poder de reprodutibilidade da imprensa. Acredito que não seja possível se falar em audiência de massa, por conta de não ser possível até então, produzir uma peça de comunicação em escala industrial. Um cartão, por exemplo, pintado por um artista em 1400, antes do advento da imprensa, não alcançaria um público muito grande, visto que seu artista teria que fazer a mesma peça manualmente várias vezes, se desejasse disseminá-la para um número maior de pessoas. Toulouse-Lautrec, grande cartazista em litogravura por volta de 1897, não conseguiria uma tiragem maior que trinta unidades, ou mesmo quinze unidades do mesmo cartaz impresso um a um, caso não empregasse as técnicas de reprodução da imagem que já estavam a seu alcance.

Foi com as possibilidades da imprensa que as artes se expandiram e puderam ser vistas, lidas e apreciadas. Chegando ao conhecimento de populações menos esclarecidas em várias partes do mundo. Por isso grandes artistas, como William Turner, com ampla visão comercial, faziam questão de conseguir reproduzir seus desenhos em anuários e com isso conquistar públicos que não podiam chegar até suas pinturas, expostas em uma galeria de Londres.

Também, por causa do surgimento dessas tecnologias: a escrita, a imprensa, o livro e tantas outras, iniciou-se um processo de cisão no universo artístico. Passou-se a falar de Arte, com “A” maiúsculo, e “artes aplicadas” (como se fossem menos dignas). Uma diferenciação teórica, técnica e conceitual da atividade de criação. Enquanto um artista: desenhista, pintor, aquarelista ou escultor não poderia jamais, manualmente, reproduzir sua obra para atender a uma clientela maior, os artistas das artes aplicadas comerciais podiam executar trabalhos para um público significativo. Mas o maior de todos os embates teóricos sobres essas duas vertentes da prática artística fica a cargo do tipo de mensagem a ser passado por essas obras. Ao que parece um artista tradicional tem mais a comunicar do que um artista comercial (o que é questionável). E a reprodução de peças de arte fez com que uma cópia tivesse preço muito menor que a obra única e original. Esses questionamentos vêm há anos perturbando e colocando legiões inteiras de artistas frente a frente. Uns se considerando mais importantes do que os outros.

A fotografia (Niepce 1822)

Até surgir mais um grande invento moderno: a fotografia. Essa não só mudou os rumos da arte, como contribuiu ainda mais para acalorar as discussões filosóficas no meio artístico. Quando a máquina fotográfica surgiu e a fotografia passou a ser usada com mais eficiência, em substituição aos retratos pintados a óleo, a arte sofreu duros questionamentos. “Porque fazer uma pintura de retrato se uma máquina em muito menos tempo poderia substituir o trabalho do pintor?” Por um tempo alguns teóricos chegaram a decretar a morte da pintura. Até grandes gênios artísticos se posicionarem brilhantemente noutro sentido. “Nós não vamos disputar com a perfeição da máquina” na verdade ela fazer esse trabalho de reprodução fiel da realidade, tão perfeito e tão rápido, nos liberta para procurar outras formas de expressão que vão além da máquina. E assim surgiram escolas como: o Impressionismo, o Expressionismo, o Futurismo, e tantas outras correntes artísticas que elevaram o trabalho artístico além das potencialidades da máquina. Assim, todas as tecnologias, embora se influenciassem, puderam e podem coexistir até hoje.

A informática

Mais uma vez, ao longo da história artística da humanidade, a máquina vem facilitar o trabalho e criar mais opções técnicas de produção. A utilidade do computador para criar arte é inqüestionável, ele passa a fazer parte da paleta do artista, assim como são os seus: pincéis, tintas, papéis, telas e lápis. Antes de usar o computador para criar, se um artista errasse, teria que refazer todo o trabalho, perdendo tempo e desperdiçando material artístico caro. Desenhando no computador basta desfazer um ou mais passos teclando alguns atalhos.

A Internet

Em extensão ao que a imprensa provocou, a Internet eleva a disseminação das publicações impressas consideravelmente. Esse novo meio de comunicação influencia e distancia gerações, há aqueles que são adeptos das tecnologias de informação e comunicação e há aqueles, que mesmo tendo nascido em meio à era do conhecimento, se mantém à parte desse universo.

O computador munido de softwares gráficos e as fontes de informação existentes na Internet contribuem para uma forma de criar arte sem grandes gastos materiais (e supostamente sem perdas, a não ser de tempo), pois o que se cria no computador e publica na Internet é arte não tátil (não é possível pegar, não tem cheiro e o artista não se suja de tinta). O universo digital transformou o atelier em um estúdio limpo, abrindo um mundo paralelo, rico de experiências e infinitamente poderoso para os trabalhos artísticos. Um universo ilimitado e de descobertas extraordinárias.

E o que aconteceu com as artes ao longo de todas essas transformações tecnológicas?

É visível a influência e a troca produtiva entre a Arte e a Tecnologia. A cada advento tecnológico, as atividades artísticas se adaptaram, se modificaram e até surgiram novas atividades ligadas às artes e que fazem uso dessas tecnologias, como: designers gráficos, fotógrafos, webdesigners e tantos outros tipos de profissões artísticas. Mas uma coisa parece ser constante ao longo de todo esse fervilhar de novas propostas produtivas: a mensagem. Ainda que surjam muito mais opções materiais de se criar arte, a mensagem a ser transmitida ainda é de responsabilidade do artista, e a ele cabe saber o que dizer e como dizer. Por isso se enriquecer culturalmente para ter o que falar com seu lápis, ou com seu Photoshop, Corel, etc.; seja para o seu blog ou para uma agência, é de fundamental importância.

Hoje, para todos nós artistas, sejamos tradicionais: pintores, desenhistas, escultores; ou digitais: fotógrafos, designers, webdesigners, animadores, etc. o importante é o conteúdo e não apenas o primor técnico. Pois a técnica evolui, novos processos produtivos surgem, novos softwares são inventados, pipocam novas versões a cada ano, mas isso tudo se aprende e se adapta para o uso das artes.

A técnica de hoje pode não ser mais a técnica em voga amanhã, por isso é preciso ir além das limitações materiais para ser um verdadeiro artista. É preciso mais do que nunca se alimentar com conhecimento e experiências enriquecedoras, porque as técnicas embora sejam de grande utilidade, não são as mesmas sempre. E a sabedoria adquirida com a prática de uma técnica produtiva, o desenho ou a pintura por exemplo, gera grandes resultados ao se migrar para um modo de fazer arte digital. Tudo isso é conhecimento adquirido, é preciso saber um pouco de cada técnica e se manter alimentando de novos saberes.

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