O cloud computing (ou computação em nuvem) é uma tecnologia que só está começando. Nela, as informações não são disponibilizadas em apenas um servidor, mas em um grupo de máquinas que realizam em comum o processamento das informações. Funciona como um verdadeiro compartilhamento da capacidade de cálculo e de memória, interligados via Internet. Para conhecer melhor sobre essa tecnologia, a Revista W conversou com dois especialistas da área: Cezar Taurion, Gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM Brasil, e Gilberto Vilaça, especialista da empresa Cloud2b.
Segundo Taurion, cloud computing não é uma revolução tecnológica. “Não se trata de uma revolução, mas de uma evolução de diversas tecnologias que foram evoluindo. Entre 2006 e 2007, empresas como Google e Amazon cresciam muito rápido e puderam apresentar o conceito. É um ambiente extremamente automatizado, padronizado e virtual, sem necessidade de interferência humana”.
Essa adaptação de recursos modernizou o modo de processar informações e tornou o cloud computing interessante e audacioso, segundo Vilaça: “Todo processamento era centralizado nos servidores e tudo era redistribuído. Com a expansão da Internet, a tecnologia foi remodelada para servidores ligados a uma rede interna. O conceito também migrou para qualquer pessoa que se conecte e rompeu com as barreiras da web”.
Nascimento nebuloso
Com as velocidades de conexão avançando cada vez mais após a bolha da Internet, a rapidez se transformou em um ponto fundamental para as novas tecnologias. “O mercado exigia velocidade de respostas. E nos ambientes corporativos, as tecnologias de sempre já não estavam mais funcionando. A partir daí, surgiram provedores de nuvem públicos, como os da Amazon, que apareceram em 2006. Para pequenas empresas, foi um grande atrativo, já que a tecnologia se mostrava muito mais econômica. E as grandes corporações viram que também poderiam investir no conceito. Hoje, o conceito de cloud não é mais curiosidade. Essa fase já passou”, comenta Taurion.
Além da possibilidade de acessar dados de qualquer lugar e hora, o cloud computing possibilitou a criação de plataformas em nuvem, como jogos, apps e serviços de compartilhamento de arquivos. “O conceito começou a ser migrado. A Salesforce, por exemplo, olhou para um modelo de CRM de uma aplicação e viu que poderia oferecer isso para clientes finais, no modelo de assinatura. Assim, criou o App Exchange, que já tem mais de mil aplicativos que foram desenvolvidos nos mais diversos segmentos. Ou seja, não tenho mais que comprar uma ‘caixinha’ para ter um software. Posso ter isso como serviço e a própria indústria tem desenvolvido essa possibilidade”, explica Vilaça.
Chuva de serviços
As inúmeras oportunidades de desenvolvimento mostraram o quanto a computação em nuvem poderia ser flexível. Atualmente, há “nuvens” por toda a web e a maioria das pessoas nem se dá conta. Para se ter uma ideia, uma pesquisa divulgada no ano passado pelo NPD Group mostrou que apenas 22% dos norte-americanos sabiam o que o termo “cloud computing” significava, mas 76% dos entrevistados já tinham usado a tecnologia. Isso mostra que, apesar de parecer complicado, cloud é um serviço muito fácil de se usar e entender.“Os principais benefícios da tecnologia são: custos menores; não há necessidade de cuidar do ativo de computadores; tudo acontece numa nuvem pública (Smart Cloud Enterprise), o que elimina a necessidade de montar um data center; e há uma economia com custos de servidor, já que você paga apenas pelo que utiliza. Além disso, há a elasticidade, ou seja, a capacidade da tecnologia ‘crescer ou diminuir’”, comenta Taurion, da IBM.
“Empresas como Google e Microsoft estão disponibilizando tecnologias que antes eram internas. No passado, havia o que se chamava de SaaS (Software as a Service) e hoje há o que eles chamam de PAAS (Plataform as a Service)”, explica Vilaça. Para quem não sabe, existem quatro tipos de cloud: SaaS (Software como Serviço), que é um formato no qual se usa um software; o DaaS (Desenvolvimento como Serviço), no qual as ferramentas de desenvolvimento estão na nuvem e em serviços mashup (site personalizado que usa mais de uma fonte para criar um site completo); PaaS (Plataforma como Serviço), que utiliza apenas banco de dados ou webservice; e IaaS (Infraestrutura como Serviço), quando a nuvem está em uma parte do servidor.
A partir do momento em que a computação em nuvem foi capaz de dar origem aos mais diversos aplicativos, a tecnologia se tornou popular. Hoje, ela está nos serviços de assinatura de filmes, como NetFlix, no Dropbox para compartilhamento de arquivos, no app de anotações Evernote, no site de compras coletiva Peixe Urbano e na empresa de jogos e aplicativos para Facebook.
Segurança no céu
Mesmo com tantas possibilidades, muita gente ainda tem o pé atrás com o cloud computing no quesito segurança. Vilaça admite que muitos perguntam sobre o assunto quando vão procurá-lo na Cloud2b, e sua resposta é somente uma: “O cloud é seguro. O que há é o desconhecimento. Quem não conhece bem, simplesmente coloca seus sistemas na nuvem e, como não há preparo, fica a insegurança. Existem alguns certificados mundiais de segurança que apoiam as empresas.Os principais são ISO 27101, Sstrust e SAS70.
Todos fazem parte de um comitê que define algumas normas de segurança. Existe até uma auditoria para julgar se a empresa merece ou não o cloud”. Taurion acrescenta que quem deseja implantar um sistema de nuvem precisa se informar com o próprio fornecedor: “Na IBM, por exemplo, temos um programa de certificação e treinamento. Além do procedimento padrão de backup, não manter senhas antigas e fazer upgrades. Acredito que, nos próximos anos, o lema vai ser a nuvem como um ambiente seguro”. É importante deixar claras as obrigações das empresas que prestam esses serviços e os direitos de seus clientes, antes de migrar para a nuvem.
O futuro
O cloud computing trouxe uma infinidade de possibilidades para desenvolvedores. Desde redes sociais a games, qualquer tipo de app pode ser feito em nuvem. Para Vilaça, não é a empresa que procura a nuvem: “Uma companhia não procura um sistema em cloud. Essa é a forma como os serviços estão sendo entregues. Só é preciso se instruir sobre o assunto e nada melhor que falar com os próprios fabricantes”. Taurion ressalta que, com o tempo, a “nuvem” será um fim e não um início: “Existirá o Cloud First e, qualquer coisa que você desenvolver, a opção de plataforma será nuvem”.
Com a tecnologia e o ritmo acelerado da Internet, é possível criar startups cada vez mais inovadoras pautadas nas novas necessidades do internauta, sendo a principal delas o livre acesso a informações de qualquer lugar e dispositivo. “O cloud abre uma oportunidade para o empreendedorismo muito mais facilmente. A Animoto, por exemplo, é uma empresa que faz upload de vídeos, áudio em MP3 e fotos, e oferece uma ferramenta de edição em nuvem.
Quando lançaram o app, havia uma certa capacidade de servidores, mas o crescimento foi exponencial e precisou quintuplicar o número de servidores para suprir as necessidades. Que empresa poderia resolver isso da noite para o dia? O cloud fez com que se repensasse a maneira de consumir e entregar serviços, e acredito que ao longo dos anos vai se tornar dominante”, comenta Taurion.
De acordo com os especialistas, para desenvolvedores e outros profissionais da Internet que se interessam por cloud, este é o momento para investir na carreira. O primeiro motivo é a falta de pessoas qualificadas para trabalhar na área. Para Vilaça, a falta de especialistas não é um problema local, mas global: “Faltam profissionais qualificados em cloud computing no mundo todo. Por isso, é uma excelente oportunidade para quem vai entrar no ramo e para quem já está. Aqui no Brasil, a demanda é muito pequena. Mas o mundo inteiro tem essa necessidade”. Taurion ressalta a facilidade de criar em nuvem: “Se você é empreendedor, consegue criar aplicativos e inúmeras oportunidades profissionais. É possível começar a escrever um código e alugar uma nuvem pública sem precisar comprar servidor”.
Muitas vezes, até a facilidade de interação que a nuvem trouxe também une desenvolvedores e promove o compartilhamento de conhecimentos valiosos para desenvolvedores e web designers, como conta Vilaça: “A necessidade de colaborar está mudando, e não existe um conceito maior disso do que a chance de acessar dados de qualquer lugar. Se você tem essa informação na ponta dos dedos, não importa como nem onde”.