Carreira Dev

17 jun, 2011

Processos seletivos de TI

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Se você
acompanha um pouco de futebol, já deve ter ouvido falar de uma polêmica frase dita pelo
jogador chamado Vampeta:

Eles fingem que me pagam e eu finjo que jogo.

Sem
entrar no mérito do futebol, mas utilizando o exemplo, podemos nos perguntar se
o Flamengo (empregador do jogador na época da contratação) realmente precisava
de um jogador com as características de qualidade técnica, experiência e preço
de mercado do Vampeta.

Será que isso não acontece em nosso mundo corporativo? Na empresa em que trabalhamos? O objetivo agora não é dizer que a empresa irá
atrasar o salário – o que acho total absurdo e comprovação de falta de
planejamento desta, já que contratou alguém que não pode pagar -, mas a
questão de contratar alguém acima do que precisamos acaba desestimulando o
profissional em questão.

Na maioria das vezes, ele é gabaritado demais para a vaga ou ainda há o pior dos casos, quando
contratamos alguém que parece ser aquilo que precisamos quando na realidade não
é.

Exigências desnecessárias

Vejo algumas
vagas de empresas exigirem atribuições dos candidatos que nem sempre são realmente necessárias. Por exemplo, empresas que não possuem gerenciamento de mudanças ou problemas
também não possuem base de conhecimentos e muito menos possuem processos estruturados e exigem
conhecimentos de ITIL.

Algumas dessas empresas podem até argumentar que estão pedindo
tal conhecimento para implantação da metodologia, mas se esquecem de que para
implantar ITIL precisamos de apoio da alta direção e que o profissional
contratado não irá realizar a tarefa sozinho. Será que o conhecimento de ITIL
para essas empresas é realmente necessário ou incluíram na vaga apenas por
modismo para fazer um filtro maior?

O uso de filtros em demasia pode eliminar
os candidatos que possuem justamente o que as empresas realmente precisam. Penso que, antes de abrir a vaga, tais
empresas precisam definir o perfil do profissional que necessitam
e depois definir os reais conhecimentos técnicos mínimos necessários para vaga. Por fim, também é necessário buscar o profissional através de processos seletivos que condizem
com a necessidade.

Ao invés de exigir uma certificação, acredito que é mais fácil realizar uma prova de conhecimentos básicos, que poderia até ser online
para poupar deslocamentos e perda de tempo de ambas as partes. Apenas os
candidatos com um desempenho previamente definido seriam convocados para as
próximas fases.

Profissionais moldados

Vejo também
uma série de dicas na internet sobre o que dizer ou não na entrevista (falar
mal da empresa atual ou anterior é eliminação na certa, mesmo que você tenha
trabalhado em uma empresa que atrasava seu salário, não pagava hora extra ou
que deixava alguém incapaz na vaga de chefe), o que se deve fazer, como sentar,
como apertar a mão, o que vestir etc.

Será que tais atitudes não estão criando
alguém que não existe? Pois aquele que está na entrevista não é aquela pessoa,
é alguém moldado para ser aprovado em uma entrevista. No dia a dia da empresa,
isso vai se revelar. Se a empresa contratante não paga hora extra e aplica o
regime de hora, por que orientar o candidato a não falar que achava isso uma
atitude incorreta de sua empresa anterior? Lembrando que esse mesmo vai ser contratado
e provavelmente deve ficar insatisfeito com a atitude da nova empresa. Não seria melhor buscar
alguém que prefere banco de horas para ter a opção de tirar dias de folga para
resolver problemas pessoais ou mesmo buscar atividades que complementem o salário?

Pelo que
vejo hoje, o processo seletivo funciona assim: você finge ser quem eu preciso,
e eu contrato você achando que estou resolvendo o problema. Ainda há casos em
que a empresa finge precisar de todas essas qualificações para parecer uma
empresa de sucesso e qualificada, mas na realidade só precisa de alguém
comprometido e com disposição de aprender. 

Relações ganha-ganha

É claro que estou generalizando. Temos diversas empresas que realmente exigem as qualificações necessárias
para as vagas e que sabem exatamente o perfil que precisam, onde tais exigências são
reais e que para o exercício da função seriam imprescindíveis.

Posso dar o
exemplo de um líder que não é comunicativo ou técnico de suporte a hardware
que nunca abriu um computador. Essas são empresas que não contratariam o
Vampeta caso não necessitassem de alguém com o seu currículo e qualificação
para o meio-campo do time.

Mais uma vez não quero entrar no mérito do futebol,
quero apenas usar um exemplo simples de um caso famoso para ilustrar como um
erro desse grau pode trazer um malefício para a imagem de ambas as partes. Por muito tempo, ficou uma imagem muito ruim para o time que o contratou e ainda trouxe o
efeito colateral de dificuldades futuras para contratar outros jogadores, já que o time
tinha a fama de mau pagador.

Além disso, deixou uma imagem ruim para o Vampeta, que fingiu
jogar mas com certeza outro clube poderia se perguntar se ele não faria o mesmo por outros
motivos. Acho que nesse caso a melhor atitude seria uma rescisão de contrato amigável,
antes de exigir que o atleta entrasse em campo para fazer número e não contribuir
para a construção de vitórias, que é o grande objetivo de um time de futebol.

Acredito que os empregadores querem profissionais motivados e que não precisem fingir
trabalhar. Este artigo foi apenas um apelo para profissionais e empresas
repensarem os processos seletivos, pois acho que precisamos de relações
ganha-ganha: o profissional ganha uma boa oportunidade para a carreira, e a
empresa ganha um profissional no perfil que precisa. Nem mais e nem menos.