Carreira Dev

1 set, 2011

O dia em que resolvi ser Gerente

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Até meados de 2008, trabalhava como Analista de Suporte Sênior
em uma empresa na qual não concordava com as atitudes do meu superior, com a
forma com que ele conduzia os problemas e os projetos internos e como gerenciava as pessoas.
Perto do fim de 2008, o superior trocou de função dentro da empresa e
eu enxerguei a oportunidade de assumir o setor e de consertar tudo o que via de
errado. Decidi mudar de área, deixar de ser apenas um bom técnico para
ser um bom gerente. Até então, nunca tinha gerenciado uma equipe. Tinha apenas
coordenado, o que é bem diferente. Mas estava disposto, pois via em mim
qualidades que acredito que um bom gerente deve ter. São elas:

  • Get Hands Dirty (Por a mão na massa) – um bom gerente tem
    que participar, tem que fazer parte do time e conduzir as pessoas que estão
    envolvidas no projeto para um objetivo comum através do exemplo. Não estou
    dizendo que ele deve sentar em frente a um computador e programar o software, ou
    resolver um problema em um Sistema Operacional, mas cabe a ele saber o que cada analista está realizando e orientar as melhores práticas de como
    fazê-lo. O bom gerente não pode simplesmente ordenar e esperar pelo resultado. Ele tem que fazer parte do resultado.
  • Bom ouvinte – um bom gerente deve saber escutar – o termo
    correto seria ‘bom escutador’ – e não apenas ouvir as pessoas que estão envolvidas
    no projeto. Todas as partes interessadas no projeto podem contribuir e enxergar
    alguma ideia, alguma falha ou algum risco e por isso não devem ser ignoradas. Por
    mais, ou menos, importantes que sejam.
  • Gostar de estudar – não é porque o gerente virou gerente que
    ele deve parar de estudar. Pelo contrário, o bom gerente sabe que não chegou ao
    fim de um ciclo, mas deu início a um no qual terá de estudar sempre e
    cada vez mais. O bom gerente deve constantemente ler e estudar sobre
    atualidades, psicologia, economia, metodologias e deve, sempre que possível,
    participar de eventos que possibilitem a troca ideias e tornem mais fáceis e constantes os insights de como
    fazer algo melhor. O bom gerente não deve apenas buscar PDUs, ele deve se
    atualizar porque sabe que isso é importante.
  • Organização – um bom gerente deve ser organizado. Não pode
    se perder em cronogramas, orçamentos e auditorias. Não basta apenas saber manipular
    uma ferramenta de gerenciamento, ele tem que saber como usar os recursos da
    ferramentas para que ele saiba controlar, acompanhar e detectar riscos no
    projeto.
  • Bom relacionamento com pessoas – o bom gerente deve ser
    respeitado por aqueles que o cercam. Não apenas os seus liderados, mas todos
    os que estão a sua volta. O bom gerente gosta de pessoas. Ele entende e usa as diferenças
    em favor do projeto, não contra o projeto.
  • Planejamento – um bom gerente sabe planejar, e entende que
    um bom planejamento economiza tempo e dinheiro. Abaixo uma anedota que aprendi
    com um presidente de empresa que ilustra muito bem o que quero dizer:

“Todos os anos, o lenhador se encarregava de cortar uma
árvore para o pequeno vilarejo, contudo, naquele ano as coisas foram
diferentes. O inverno chegou com muita intensidade, e o conselho de moradores
decidiu que, pela primeira vez, teriam que retirar duas árvores da floresta.


O lenhador nunca deixou de atender o vilarejo. Seu machado, com lâmina de aço e
cabo de carvalho, sempre foi eficiente, derrubando árvores de diversos tamanhos
e nas mais variadas condições.

Algumas vezes, a árvore mais adequada estava em encostas inclinadas; outras
vezes, encontrava-se cercada por árvores menores, que ainda não estavam
preparadas para o corte e, por isso, precisavam ser protegidas durante a queda
da árvore escolhida. Para ajudar na tarefa, convidaram um jovem lenhador.


O rapaz era muito forte e acabara de retornar de seus estudos sobre
florestas e madeiras. Falava coisas diferentes, como a importância do manejo
sustentável e a preservação do meio-ambiente.  Seu machado era igualmente
forte e sofisticado. A lâmina de titânio se completava em um cabo feito de
fibra de carbono, fazendo daquele conjunto, uma ferramenta muito leve.

Nada indicava que aquela tarefa se transformaria em uma competição, contudo as
regras começaram a surgir quando um morador sugeriu o tempo de 30 minutos para
derrubar as árvores. Esse foi o menor tempo que o antigo lenhador levou para
derrubar um grande carvalho no inverno passado. Imediatamente o jovem lenhador
se apresentou para quebrar o recorde e desafiou o outro lenhador a conseguir
derrubar sua árvore no tempo estabelecido.


Para que a competição fosse justa, trataram de encontrar árvores em condições
similares, e o que era apenas uma simples tarefa de lenhador tornou-se um
grande evento para os moradores do vilarejo.


Todos queriam ver a disputa entre o antigo e o novo lenhador. Algumas apostas
surgiam entre os moradores, e muitos já consideravam que o resultado era fácil
de prever. Com os lenhadores posicionados, foi acionado o relógio.

Imediatamente o jovem lenhador pegou seu machado e depois de uma rápida olhada
para árvore, deu seu primeiro golpe. Foi uma pancada tão vigorosa que deixou
muitos moradores impressionados com sua força.

Golpe após golpe, o jovem lenhador mostrava toda sua energia e capacidade. Ele
estava determinado a derrubar a árvore antes do tempo. A única pausa que fez
foi para retirar sua camisa, naquela altura, completamente molhada de suor.

O antigo lenhador havia se sentado em uma pedra próxima da árvore que deveria
derrubar. Em suas mãos, havia uma pequena lima, que ele lentamente esfregava
pela lâmina de seu machado enquanto observava todo aquele movimento.


Após algumas dezenas de golpes, estava claro que o trabalho do jovem lenhador
terminaria em breve, pois sua árvore já dava sinais de que estava prestes a
encontrar o chão. Foi neste momento que o antigo lenhador se levantou, pegou
seu machado e deu seu primeiro golpe.


Não foi um golpe espetacular como o do jovem lenhador, mas foi de uma precisão
assustadora, pois penetrou no tronco da árvore profundamente. O lenhador
retirou seu velho machado e novamente deu outro golpe com mais profundidade,
criando um grande fenda.
Caminhou lentamente para o lado oposto da árvore e deu um novo golpe, desta vez
mais elevado. Quando deu seu quarto golpe, seus movimentos ficaram claros.

Para surpresa de todos, a árvore iniciou sua inclinação final, caindo no mesmo
momento em que a árvore do jovem lenhador atingiu o solo, e quando o relógio
marcava precisamente 30 minutos.

O jovem ficou tão impressionado com a experiência do antigo lenhador, que, ainda
ofegante, foi parabenizá-lo pela espetacular performance dizendo:
– Se o senhor derrubou está árvore com quatro golpes, nem imagino o que faria
se tivesse a minha energia e o meu moderno machado. Qual é o seu segredo?


O antigo lenhador sorriu e disse:
– Não há nenhum segredo. Cortar uma árvore é muito
simples, qualquer um corta. A única coisa que fiz foi afiar meu velho machado.
Como não estava aplicando golpes com ele, pude observar a direção do vento, a
inclinação do terreno, o tronco da árvore e assim decidir o melhor momento de
iniciar minha tarefa e, principalmente, onde dar os golpes.”

Em resumo, planejar
é afiar o machado no momento certo, na quantidade correta e determinar a melhor forma de fazer. Isso dá resultado, acredite. Eu vivo isso!!!

Gostar do que faz – já ouvi falar
de Efeito Halo? Em geral, é deixar que uma característica encubra as demais.
Isso acontece em algumas empresas quando você promove um bom técnico a gerente
sem avaliar características importantes, como as que citei anteriormente, e até
outras que não citei. Isso pode ser considerado um Efeito Halo. A empresa irá
perder um bom técnico em detrimento de um mau gerente. Em geral, acredito que as empresas devem
avaliar o candidato a gerente com as características de um gerente e,
principalmente, perguntar ao candidato se ele gostaria de ser gerente. Fazer algo que não se gosta é o primerio passo para dar errado e ser infeliz. Como um líder pode ser infeliz?

No
meu caso, deu certo. Hoje sou um bom gerente, que entrega bons resultados e que
sabe que fez a decisão correta em 2008 quando resolveu mudar de área.