De uns tempos para cá, não me lembro exatamente quando, o assunto concurso público tomou conta de quase todas as rodas de conversas. E isso é notável pelos números: em 2001, quase 11 milhões de pessoas se inscreveram para concursos em todo país tentando ocupar as 650 mil vagas oferecidas no serviço público federal, estadual e municipal.
O grande aumento veio do renascimento do serviço público após quase três décadas de sucateamento e baixos salários. Assim, muitas pessoas, entre elas grande parte dos meus amigos, começaram uma corrida contra o tempo se inscrevendo em muitos concursos, estudando dia e noite, sendo que alguns deles deixaram seus empregos e começaram a viver às custas dos pais, ou das economias guardadas, para se dedicar aos estudos. Criou-se um mercado de cursinhos preparatórios, apostilas, sites com provas etc.
A pergunta que fica: o que tanto se procura? A grande maioria responderá – Estabilidade! Concordo que em determinadas áreas a oferta de emprego está baixa. Concordo também que, em alguns setores, a diferença salarial entre ser concursado ou de iniciativa privada é muito grande, e um exemplo clássico são pessoas formadas em Direito. Outro caso a se citar vem da área de biomédicas que, dependendo da região do país, está bem saturada.
Considerando isso mas olhando de uma forma ampla, com o cuidado de não generalizar, me parece que concurso público virou “moda”, a ponto de se pensar que somente se terá sucesso na vida ao passar em um. E isso, por vezes, remete a uma visão antiga em que era necessário conhecer alguém (o famoso QI – Quem Indica) para se ter ascensão profissional (ou até se obter um emprego).
Muitas vezes, as pessoas que prestam um concurso não pensam na vaga em si, naquilo que vai se trabalhar, onde vai trabalhar, simplesmente olham o salário e o fator estabilidade. Existem diferentes realidades nas diferentes áreas de trabalho. Focando no nosso lado, a área de computação é uma das que mais crescem no país, com bons salários, possibilidades de crescimento, facilidades (com pouco investimento) para se abrir o próprio negócio. Não é perfeita, mas, comparando com outros setores, estamos melhores e temos mais possibilidades de mudanças.
É admirável a quantidade de jovens pensando em estabilidade com 20 e poucos anos, e me surpreende mais ainda quando esses são formados em ótimos cursos, são bons profissionais, muitas vezes recém-formados e ainda sem família para sustentar. Não é que não se deva pensar assim, mas quando converso com pessoas de computação, concursados, a grande maioria não está trabalhando no que gosta, porém o emprego público paga um salário inicial que ele demoraria alguns anos (não muitos, muito menos a vida toda) para conseguir. Outros começaram um ciclo vicioso, em que se faz um concurso que seja mais fácil de ser aprovado, para, ao começar a trabalhar, usar o “tempo livre” para estudar para outros concursos mais difíceis e consequentemente de salários mais altos.
E como fica a empregabilidade¹? Será que ela é tão baixa assim na nossa área? Por que tantos estão escolhendo a estabilidade ao invés dela?
Na área de computação, o que mais vemos são mudanças. O mercado privado exige que você mude, muito mais rápido do que o público. Com isso, os profissionais que se dedicam acabam se destacando e crescendo na empresa, sendo reconhecidos por isso. Nem tudo é perfeito, como já citei anteriormente, mas estamos bem melhores que outros setores. As startups, o “boom” da utilização de dispositivos mobile dentre outros casos mostram como as mudanças não param de acontecer, aumentando assim a necessidade de pessoas dispostas (e preparadas) a encará-las, por vezes, correndo riscos sozinhas ou dentro das próprias empresas que trabalham.
O objetivo foi levantar a discussão sobre empregabilidade e porque muitos, olhando especialmente para a área de computação, estão escolhendo a estabilidade financeira. De forma alguma estou condenando o serviço público, só acredito que, como passamos a maior parte do nosso tempo no trabalho, deve-se pensar bastante se o que você faz realmente é bom para você. Não que os empregos privados sejam perfeitos, mas será que eles não permitem uma maior maleabilidade? E entrar em um emprego para “vida toda” é realmente o melhor com a tendência de um mercado que muda tanto e tão rápido? Vale a pena pensar um pouco sobre isso.
Definição
1) Empregabilidade: termo criado no fim dos anos 90 referindo à competência de um profissional estar empregado, baseando-se na capacidade de adequação do profissional às novas necessidades e dinâmica dos novos mercados de trabalho.