Carreira Dev

20 dez, 2010

Check-list: projetos de inovação (I)

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Não tem jeito: a melhor forma de ganhar dinheiro com projetos de inovação ainda é vender manuais ensinando como ganhar dinheiro com projetos de inovação.

Muita gente tem idéias todos os dias, o tempo todo. Algumas são boas, a grossa maioria é ruim. Não poderia ser diferente. Ainda bem. Pois se já está difícil de acompanhar o ritmo das mudanças dos tempos digitais e conectados, imagine se fôssemos invadidos por boas idéias? O Japão sofreu um ataque desses em 1853 e os impactos em sua cultura duram até hoje.

Uma boa idéia é um processo de maturação, que envolve foco, dedicação, informação, estudo, experiência e muita, muita, muuuuuuuuita paciência. Você conhece alguém que teve uma idéia mágica e ficou rico da noite para o dia em uma área que desconhecia? Não? Pois é, esses caras simplesmente não existem. Quem se vende dessa forma é mentiroso ou iludido. E vai quebrar. É a lei de Murphy na prática. Mas você é diferente, né?

Sim, eu sei. Você é diferente. É mais esperto do que a galera. Sabe identificar uma boa oportunidade. É um empreendedor nato. Sabe de tudo. Tem um montão de idéias. É capaz de tocar quatro startups ao mesmo tempo enquanto ainda trabalha de bancário, perde tem acompanha as mídias sociais e não perde um episódio desta série, desta série, desta série ou desta série, na falta desta série, já que esta série e esta série perderam sua pegada. Resolve os problemas do planeta no verso de um guardanapo, depois assoa o nariz nele e o joga fora. Se morasse nos EUA já estaria milionário etc etc etc… ACORDA, ZÉ MANÉ.

Não é fácil. Nunca foi fácil. Nem mesmo se seu pai comprar os direitos de mineração de muitos terrenos e os registrar em seu nome. Quando se trata da economia de serviços, o único segredo para a sobrevivência é a velha máxima da padaria: encostar a barriga no balcão e trabalhar feito um burro de carga.

Em outras palavras, Papai Noel não existe. Ou se existe, não dá a mínima para você. Nem para mim. Para os que sobem rápido porque deram sorte, a Carmina Burana já dizia faz tempo: fortune rota volvitur, descendo minoratus. Esse balde de água fria é a primeira parte de meu presente de Natal para você.

Mas vamos assumir que você tenha mesmo uma boa idéia. Daquelas que acordam de manhã com você e não largam do seu pé o dia todo. Que são mesmo diferentes de tudo e principalmente que suas intenções para com a moça são pra lá de sérias. Com a interconexão do mundo, produzi-la e colocá-la no mercado ficou infinitamente mais fácil e barato. Como fazer, então, para testá-la antes que seja tarde?

É disso que trata a segunda metade do meu presente de Natal: uma lista de 20 tópicos que devem ser analisados antes de se lançar no escuro, torrar as economias da família e comprar um Fiat Uno metido a besta por conta de seus futuros lucros. Vale a pena desenvolvê-la como um pré-planejamento de negócios, para ter uma boa noção de seu produto ou serviço. Acima de tudo, para saber se ela é adequado ao mercado. Abusando de minhas metáforas abusadas, é como um procedimento-padrão de checagem de sua corda de bungee-jumping para ver se ela pelo menos está no lugar. No começo cabia tudo em um post, agora vou ter que parcelar em três vezes sem juros no cartão.

Quanto desperdício. A história está cheia de “gênios incompreendidos” e de mentes-brilhantes-avançadas-demais-para-sua-época que não conseguiram o devido reconhecimento em vida. Ora, faça-nos o enorme favor de não ser mais uma delas. Inovadores não correspondidos costumam ser mais chatos e sem-noção do que aqueles carinhas que são perfeitos para os pais da menina, mas que se esqueceram de perguntar se a moça está interessada.

Chega de enrolação, vamos à lista:

1. SINOPSE: um pequeno resumo do projeto. Em duas frases. Nada de slogans ou frases de efeito. Algo que explique, de forma sucinta e breve, o que faz o produto/serviço. A explicação deve ser o mais abrangente possível e ao mesmo tempo extremamente simples. Sabe visão/missão de empresa? Exatamente o contrário dessa bullshitagem. É a pegada que importa. Para dar um exemplo, sabe como Alien foi vendido a um produtor de cinema (aquele cara que gasta uma fortuna adiantada, bancando o filme)? Foi assim: “Tubarão. Em uma espaçonave”. Só? Só. Cabem três dessas em um tweet. Como Tubarão foi vendido? Não faço a menor idéia. Não é relevante para este post.

E o caçador de tubarões Roy Schneider com essa gola cacharrel de Steve Jobs, hem? Dá pra fazer um doutorado em semiótica com isso.

2. ATIVIDADES: quais são as características e vantagens do produto ou serviço? Como ele funciona e o que oferece? Qual é o nível de expertise necessário para operá-lo e quais são os pré-requisitos para seu uso eficiente? Pode dividir os usuários e seus pré-requisitos em três níveis: a interação de nível iniciante, intermediário e avançado. Usuários iniciantes costumam correr para se tornar intermediários. Usuários avançados costumam ficar com preguiça de se manter na frente e a barriga os empurra para o nível intermediário. Desenhar a interação para o Intermediário Perpétuo pode ser uma boa.


O Photoshop é um exemplo de produto desenhado para o intermediário. Pena que tem tantos com preguiça de sair do básico.

3. USO: qual será o uso pretendido para o produto/serviço? Que situações ele melhora ou simplifica? Que problemas elimina? Que novas condições demanda? O que, afinal, ele faz? Como era o mundo antes dele? Como e por que ele melhora o ambiente? Como transmite informação, produz conteúdo ou auxilia na vida pessoal, social ou profissional? É no uso que se percebe como era tosco o mundo de antigamente. Dá até para conceber uma vida sem, sei lá, pen drives. Mas para quê?

    
Daí seu tio, AQUELE QUE TUÍTA EM CAPS LOCK, te pergunta para que serve o Twitter e por que você passa tanto tempo nele. Isso é fácil. Quero ver você responder em uma tuitada. Não conte comigo.

4. MAPA MENTAL: faça um diagrama procurando relacionar todos os conceitos e ações ligados ao produto, tente definir seu ecossistema. O mapa mental é uma ferramenta fundamental para se conhecer melhor o produto/serviço, suas capacidades e limitações e possibilidades de expansão. Mapas mentais são muito bacanas, ainda escrevo mais detalhando o tema. Confesso que não sei muito a respeito e que acho os mapas feios de dar dó. Mas parece que funciona, uma parada assim meio tipo hipnose. Vou ler mais e conto depois, pode cobrar. Enquanto isso leia o genial Change By Design. É bem bom, recomendo. Se estiver sem grana para o frete, leia a versão em Kindle, direto do computador. É um saco de interface que brilha demais e dá dor de cabeça, mas o conteúdo vale a pena.


5. CATEGORIAS DE SERVIÇOS (com descritivo de conteúdo de cada categoria): quais serão as principais categorias oferecidas e qual será o conteúdo exposto em cada uma delas. Esse é básico. No entanto, é fundamental. Acredite se quiser, quase ninguém o faz.


Definição de categorias para o SOA da IBM. Continua complicado? Pois imagine sem a divisão como seria fácil de explicar.

6. AMBIENTE: como seu produto ou serviço se enquadra no ambiente social, de trabalho, de lazer de seus potenciais usuários? Como ele se integra a outros produtos e serviços com quem divide o ecossistema? O que é eliminado por ele? O que é amplificado ou reduzido por ele? O que faz dele fundamental e indispensável?


Quem imaginaria que haveria um negócio bem lucrativo na venda de tapetinhos de esfriamento de notebooks? Ou em SEO? Em Links patrocinados? Pegou? É por aí.

Por enquanto, é isso. Daqui a pouco eu volto com mais alguns tópicos para o seu check-list.

* publicado originalmente em Luli Radfahrer