O site do escritório brasileiro do W3C esteve durante todo o dia 3 de dezembro com a página inicial escura (veja a foto) por um motivo especial: com essa ação, as pessoas que acessaram a página tiveram a oportunidade de simular a experiência de navegação na Web a que estão sujeitos mais de 500 mil brasileiros que não enxergam, segundo o Censo do IBGE. Essa ação aconteceu por uma razão particular: 03 de dezembro é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Que tal fazer uma reflexão sobre o acesso das pessoas com deficiência à Web por apenas alguns minutos?
A página foi construída de forma a simular a navegação via teclado. Conforme o usuário navega pressionando a tecla “tab”, os itens da página são exibidos. O objetivo é simular a navegação de uma pessoa que utiliza um software leitor de tela, que navega por determinados itens da página, um a um, e não utiliza o mouse. Mas qual mensagem essa ação pretende passar? De que uma página bem codificada permite o acesso às informações, mesmo navegando com alguma limitação. Com o acréscimo de um elemento no HTML e um pouco de CSS (e nem uma linha de JavaScript) foi possível fazer essa ação de sensibilização para uma web realmente inclusiva.
A pesquisa TIC Domicílios 2013, realizada pelo CETIC.br, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, mostra que 36% dos usuários de Internet no Brasil postam textos, imagens ou vídeos e 20% criam ou atualizam blogs ou páginas na Web. Essa parcela da população que produz conteúdo para a web pode sim, disponibilizá-lo de forma acessível seguindo algumas diretrizes básicas de acessibilidade para publicação de conteúdo na rede. Adicionar legendas aos vídeos é importante não só para pessoas com deficiências, mas também para pessoas que estão com o áudio desativado ou estão assistindo um vídeo em outro idioma. Adicionar legendas em vídeos é mais simples do que parece. O Youtube e Vimeo possuem documentação e tutoriais de como fazer isso de forma bem simples.
Outra situação muito comum é quando um desenvolvedor produz um código adequado, acessível e sem erros de markup, mas o produtor de conteúdo não está familiarizado com alguns detalhes que podem impactar a acessibilidade do artigo publicado. Ao realizar o upload de uma foto, por exemplo, é importante descrever as imagens de forma sucinta e eficiente. A maioria dos CMSs tem essa opção para inserção de textos alternativos e acesso direto ao HTML gerado, caso se queira fazer a inserção direta no código. Outros cuidados importantes ao utilizar elementos de HTML também precisam ser levados em consideração, como estruturar cabeçalhos, listas, elementos de marcação e parágrafos corretamente.
Para beneficiar as pessoas com deficiência e evitar que os desenvolvedores atenciosos com a acessibilidade na web acabem sendo prejudicados por uma atualização de conteúdo com erros de acessibilidade, o W3C Brasil está produzindo um fascículo da Cartilha de Acessibilidade na web com o tema “Tornando o conteúdo web acessível” especificamente para o produtor de conteúdos online. A Cartilha contribui para alertar que a acessibilidade é uma questão de direitos do cidadão, de dar acesso a serviços que, muitas vezes, demandaria o deslocamento do indivíduo da sua casa até um determinado local. Hoje, temos disponível uma infinidade de possibilidades na Web.
Temos um grande desafio pela frente. Hoje, são 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, o que equivale a 24% da população do País, segundo o Censo do IBGE. No mundo, mais de um bilhão de pessoas possui algum tipo de deficiência, o que representa 15% da população global.
Há quem pense que tornar um site acessível é muito complicado, mas pequenas mudanças podem causar um impacto grande para a vida de muitas pessoas no quesito acessibilidade. Ao evitar utilizar um JavaScript intrusivo (non obtrusive JS) na página, que atrapalhe ou impeça a navegação, pode parecer um mero detalhe, mas tem um significativo impacto no acesso por pessoas que não utilizam um mouse para navegar. Também não podemos associar a acessibilidade na web apenas ao computador de mesa (desktop). É preciso pensar também em outros dispositivos utilizados para acessar conteúdo on-line, principalmente o celular e tablet. E não é porque você está desenvolvendo para um dispositivo que não tem teclado físico que não se deve preocupar com a navegação via teclado. Boa parte dos gestos para navegação seguem como base a navegação por blocos de conteúdo.
Além de produzir a cartilha para promover o uso de padrões desenvolvidos internacionalmente para que as páginas na web sejam acessíveis a todos, o W3C Brasil coordena outras ações sobre o tema, como, por exemplo, o Grupo de Trabalho de Acessibilidade na Web, criado em março de 2012, e que se reúne periodicamente para planejar iniciativas no Brasil. Hoje, o grupo já conta com mais de cem participantes, entre eles, especialistas em acessibilidade e pessoas com deficiências. A produção da Cartilha de Acessibilidade na Web e a Tradução autorizada pelo W3C das Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG 2.0) estão entre as atividades desse grupo.
Outra ação de destaque do W3C Brasil é o Prêmio Nacional de Acessibilidade na web – Todos@Web, que reconhece trabalhos, iniciativas e pessoas que promovem a eliminação de barreiras e facilitam o acesso a conteúdos na Web. A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu no dia 4 de dezembro, no auditório da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na Barra Funda, em São Paulo. Conheça os trabalhos vencedores: http://premio.w3c.br/. E faça sua parte, colabore para uma Web mais acessível!
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