Acessibilidade

4 ago, 2008

A arte de baleiar e a web 2.0 (ou Baleias, donuts e a web 2.0)

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Já estava nos meus planos traçar um pequeno paralelo entre o Orkut e o Twitter. O “Bad, bad server. No donut for you” orkutiano e a baleia twitteira içada pelos resistentes passarinhos têm muito mais em comum do que supõe a nossa vã filosofia. Mas, não posso negar, as lambanças recentes de ambos os serviços foram fundamentais para acelerar a sua redação.

No penúltimo final de semana de julho o serviço de storage do Twitter, o popular Amazon S3, ficou bem instável, impactando na disponibilidade desse querido microblog. Imagens quebradas e outras maldades tiveram farta distribuição juntos aos usuários. Mas, quem acompanha sabe que esse foi apenas o estopim de vários problemas constantes, que vão da indisponibilidade total do serviço ao castramento de várias funcionalidades importantes, como o uso de Instant Messenger na publicação/recebimento de posts/mensagens.

Em meados de julho uma amiga me pediu socorro pois seu perfil no Orkut tinha sido alterado. Suas informações e sua foto foram para o espaço. Ela também sequer conseguia se logar no Gmail com os mesmos dados de acesso ao Orkut. Acabou mandando e-mail ao Google, que respondeu dizendo que a situação tinha sido restabelecida e que tudo tinha voltado a funcionar corretamente. A resposta sugere uma bela mea culpa, diga-se de passagem, uma vez que se eles não tivessem responsabilidade sobre o drama teriam retornado algo como “você é a responsável pelos seus dados de acesso. Se os perdeu, o problema é seu”.

Parecia um lance isolado, mas no dia 21 de julho quem utilizou a maior rede social para brasileiros notou que boa parte dos nomes de seus amigos estava trocada, experimentando também vários outros inconvenientes. O que parecia pontual, se alastrou. Sabe-se lá se foi um DBA novato ou se ações mais malígnas, fato foi que a repercussão foi grande e desagradável. O ocorrido fez com que ninguém mais pudesse usar o serviço, dando de cara com um tapume do gênero “estamos em manutenção. Volte mais tarde”. (Comentário bobo em cima do que relatou o G1 no trecho linkado acima: imagine ir ao Twitter reclamar dos problemas e o Orkut e também encontrá-lo fora!)

O conceito do bom e velho beta eterno pregado pela web 2.0 serve de escudo para escorregadas de tudo quando é tipo de serviços online. Quedas acontecem e fazem parte de qualquer projeto que está engatinhando e quer ficar em pé, mas tudo tem limite. E, como já dito, o conceito de que tudo está em desenvolvimento na internet atual acaba ajudando a tolerar tais falhas.

O nível de qualidade oferecido tanto pelo Orkut quanto pelo Twitter já esteve ou está bem abaixo do aceitável e, pelo menos a olho nu, ninguém arreda o pé deles. Talvez a grande razão para isto esteja no social graph, ou seja, nas conexões entre você e seus amigos, conhecidos etc. Se não fosse isto (e não fosse tão complicado migrar todos os contatos para um concorrente) talvez mais gente já tivesse abandonando esse barco. Viva as relações sociais!

O neologismo constatado pelo surgimento do verbo “baleiar” é o reflexo disso. Baleiar nada mais quer dizer do que sair do ar ou ratear, estar indisponível. Se um site saiu do ar, ele baleiou. E tudo isso graças àquela belezura de baleia que o Twitter exibe quando algo de errado acontece com o seu sistema. E já tem até site, como o www.baleiando.com.br, para tratar (e tirar um sarro) de problemas desse quilate.

Ainda bem que ainda há humor entre os usuários. Afinal, já será normal encontrar mensagens de erro com baleias sem qualquer donuts sendo levantadas por passarinhos felizes. Vai ter gente rindo, vai ter gente que não vai achar tanta graça. Enquanto acontecer apenas com redes sociais e serviços não tão estruturais, a coisa pode continuar a ser vista como divertida. O problema vai ser quanto baleias e donuts começarem a visitar sites de bancos e outros serviços vitais. (Ainda bem que não os tenho visto por aquelas bandas…)